A Total, o conglomerado petrolífero francês, alertou os políticos, dizendo que eles correm o risco de acelerar uma crise na oferta de petróleo se acionarem políticas ambientais que impeçam investimentos em petróleo e gás antes de alternativas suficientemente viáveis ficarem disponíveis. “Os governos precisam avaliar as necessidades desse planeta em termos de energia e parar de dizer que desenvolveremos energia solar para depois não termos o suficiente”, disse Christophe de Margerie, executivo-chefe da Total, em entrevista ao “FT”. “O carbono não é o inimigo; o carbono é vida”, disse.
O executivo tem uma posição relativamente moderada sobre mudanças climáticas entre seus pares. Ele quer que o governo aplique políticas claras e de longo alcance para reduzir as emissões de carbono para que a indústria petrolífera possa tomar decisões de investimento. “Nós, como companhias, não podemos assumir o risco. Estamos investindo sem saber qual será o marco contratual na questão do carbono”, ele disse.
Margerie é o mais eloquente dentre seus pares em termos de insistir em que a política ambiental deve andar de mãos dadas com a política de segurança energética. Ele alertou os políticos que se dirigem à conferência sobre mudanças climáticas na Dinamarca, em dezembro: “Não sigam para Copenhague apenas com os seus cuidados com o ambiente. Também precisamos nos preocupar com o acesso à energia. Se vocês levarem apenas uma [preocupação], estaremos mortos e nós não queremos morrer”.
Discursando numa conferência nessa semana, ele desafiou outros executivos do setor petrolífero a refutar a sua teoria de que o mundo jamais terá condições de produzir mais de 100 milhões de barris de petróleo por dia – 20% mais do que hoje – porque um número muito elevado das reservas remanescentes do mundo está situado em países que não indispostos ou incapazes de explorá-los.
Ele não espera um grande avanço em Copenhague e disse que o setor que será mais duramente atingido por qualquer iniciativa séria de reduzir as emissões de carbono provavelmente ficará sem nenhum mapa do caminho que lhe permita investir em tecnologia e em fontes de energia que sejam mais benéficos ao ambiente.
“Todas as partes envolvidas estão despreparadas para assumir um compromisso”, ele disse. “Acredito que as pessoas não estão prontas e que serão muito cuidadosas em não chegar ao ponto de ruptura”.
A Total é a maior investidora no mar do Norte. De Margerie disse que obteve garantias de que um novo governo do Partido Conservador no Reino Unido não tentará fechar o déficit orçamentário nacional aplicando impostos adicionais sobre companhias que estão explorando e desenvolvendo os campos no mar do Norte. Apesar disso, ele disse estar preocupado com o fato de o governo poder aplicar impostos de emissão de carbono sobre as companhias petrolíferas. “Isso deterá o investimento num momento em que isso já está muito complicado na Europa”, alertou.
A Total espera tornar-se a segunda maior produtora de petróleo num espaço de três a quatro anos, avançando em relação à sua quarta posição atual.
“Poderemos necessitar de incentivos adicionais para desenvolver campos menores e de maior risco em ambientes adversos”, disse de Margerie, acrescentando que o Reino Unido precisa se empenhar em manter as grandes companhias de petróleo ativas no mar do Norte. Ele observou que a queda dramática recente nas perfurações durante a crise do crédito se deveu em grande parte a empresas menores que ficaram incapacitadas de manter seus investimentos.
O executivo alertou que o planeta não será o único que sofrerá se o Reino Unido e outros governos não implantarem políticas ambientais inteligentes. “Espero que vocês tenham muitas velas”, ele disse.