Redação/Boletim SCA
A pandemia do novo coronavírus levou o barril do Brent no primeiro trimestre a cair 66%. A queda maior ocorreu em março, quando começaram as medidas mais restritivas de isolamento social na maioria dos países. No mês passado, o primeiro contrato do Brent fechou a US$ 22, recuo de 55% no mês.
"Em março, ocorreu uma das maiores quedas da história no preço do Brent. Primeiro, vimos a deterioração significativa de demanda com o agravamento da pandemia, mas não se sabia como tudo isso iria atingir a Europa e Estados Unidos. Muitos países adotaram, no primeiro momento, isolamento vertical. O próprio [Donald] Trump estava otimista, mas isso mudou rápido e quarentena forçada em vários lugares fez a demanda por commodities energéticas despencar", disse o analista de petróleo e energia da XP Investimentos, Gabriel Francisco.
E para completar, em março ainda ocorreu um desentendimento dos países produtores de petróleo. Na reunião da Opep+, ficou decidido cortes adicionais de produção, a meta era produzir 1,5 milhão de barris dia a menos além da cota já acertada com cada membro. No entanto, a Rússia não aceitou essa medida, o que fez a Arábia Saudita sair do acordo e aumentar a produção. "O pano de fundo era que a Rússia via oportunidade de desestruturar a produção de gás xisto dos EUA. Ao longo do mês a queda da demanda foi tão abrupta que o esforço da Opep ia ser pouco significativo", avaliou Francisco.
Segundo ele, o cenário atual é de superestocagem no mundo com a queda forte da demanda após as restrições de circulação da população. "O mundo consome, em épocas normais, 100 milhões de barris por dia, estima-se queda de 15 milhões a 20 milhões de barris/dia no pico de crise. Então, cria-se um cenário, de queda forte da demanda, recuo dos preços dos derivados, a necessidade de redução da produção nas refinarias e aumento dos estoques. Não há capacidade física de estocagem, muitas empresas estão contratando navios petroleiros para servirem de armazéns. A curva futura dos preços já inclui esse aumento de custos com os estoques", disse Francisco. Os contratos para junho são negociados a US$ 26.
Já os preços do minério de ferro, que vêm resistindo mais que outras commodities minerais à pressão negativa da pandemia, seguem relativamente blindados pela menor oferta global. Por isso, encerraram o primeiro trimestre com desvalorização acumulada de 9,6%, mas ainda acima dos US$ 83 por tonelada. Em março, a queda foi de 0,8%, com a leitura de que restrições ao escoamento, por causa da quarentena em diversos países, pode compensar a demanda menos ativa.
Além disso, os primeiros dados relativos à economia da China, maior produtora mundial de aço, após o pior momento da pandemia surpreenderam, com avanço da atividade industrial e de serviços acima do esperado. Em março, o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) da indústria subiu a 52, frente a 35,7 em fevereiro, enquanto o de serviços passou de 29,6 para 52,3, ampliando a expectativa de recuperação econ?´mica mais rápida no país.
De acordo com a publicação especializada "Fastmarkets MB", o minério de ferro com pureza de 62% subiu ontem 0,4% no porto chinês de Qingdao, para US$ 83,32 por tonelada. Na bolsa de mercadorias de Dalian, os contratos de minério mais líquidos com entrega em maio também foram impulsionados pela avaliação de que a recuperação econ?´mica na China poderá ser rápida e subiram 0,9%, para 650,50 yuans por tonelada.
Mas a leitura de que a oferta restrita por causa da quarentena pode compensar o consumo global mais fraco não é unânime. Em relatório do início da semana, o Goldman Sachs reduziu a US$ 70 por tonelada a estimativa para o preço do minério no segundo trimestre, frente a US$ 79 anteriormente, justamente por causa da pandemia. Para o terceiro trimestre, o corte foi maior: US$ 75 por tonelada da projeção atual, contra US$ 90 inicialmente.
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