Mudança

Interoceânica já muda cenário na região

<P>Parte de um acordo firmado em 2000 entre os 12 países da América do Sul para implantar a Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (Iirsa), a rodovia interoceânica sul, que vai ligar o Acre à costa do oceano Pacífico, no Peru, está mudando a paisagem e a econom...

Valor Econômico
05/05/2009 00:00
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Parte de um acordo firmado em 2000 entre os 12 países da América do Sul para implantar a Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (Iirsa), a rodovia interoceânica sul, que vai ligar o Acre à costa do oceano Pacífico, no Peru, está mudando a paisagem e a economia da região.

No total serão construídos ou recuperados 2,6 mil quilômetros, divididos em cinco trechos, que atravessam desde a selva amazônica até montanhas com 4,7 mil metros de altura acima do nível do mar nos Andes peruanos, no sul do país, com investimentos totais de US$ 1,8 bilhão.

As obras que vão abrir uma nova rota para as exportações brasileiras começaram em 2006 e quando forem concluídas, em dezembro de 2010, criarão um corredor de 1,5 mil quilômetros entre a fronteira do Brasil com o Peru, no município acriano de Assis Brasil, e o porto de San Juan de Marcona, próximo de Lima, no Pacífico. O traçado inclui uma rota alternativa em direção aos terminais de Matarani e Ilo, a pouco mais de 1,4 mil quilômetros de distância do Acre.

Antes de chegar aos portos peruanos, uma carga despachada em São Paulo, por exemplo, terá de percorrer ainda 3,9 mil quilômetros para chegar a Assis Brasil. Mesmo assim, o corredor será uma saída mais rápida para as exportações brasileiras alcançarem o norte da América do Sul e a América Central, a Ásia e a costa oeste dos Estados Unidos, diz o diretor-superintendente da Odebrecht Engenharia e Construção no Peru, Jorge Barata.

Considerando-se uma média de dez horas diárias de viagem, um caminhão levaria perto de dez dias para cumprir o trajeto desde a capital paulista até o Pacífico, sendo três em território peruano, contra os 30 a 35 dias que um navio leva para ir de Santos até Lima contornando o Estreito de Magalhães, no extremo sul do continente, ou pelo Canal do Panamá. O cálculo é ainda mais vantajoso para os exportadores de soja do Centro-Oeste brasileiro, que ainda precisam enviar o grão por terra até os portos de Santos ou Paranaguá (PR).

Com participação de 70%, a Odebrecht lidera o consórcio Conirsa, formado pelas empresas locais Graña y Montero, JJC Contratistas Generales e ICCGSA, que venceu a licitação promovida pelo governo do Peru para a construção de dois dos cinco trechos da interoceânica sul. São 710 quilômetros nos trechos 2 e 3, nas regiões (equivalentes aos Estados brasileiros) de Cuzco e Madre de Dios. O investimento soma US$ 1 bilhão em troca da concessão da estrada em regime de associação público-privada (APP) por 25 anos.

Segundo Barata, a construção é financiada pelo Merryl Linch e faz parte de uma carteira de obras da Odebrecht em andamento no Peru no valor de US$ 2,2 bilhões, incluindo um corredor interoceânico semelhante de 955 quilômetros na região norte, três terminais portuários e um projeto de irrigação e geração hidrelétrica. Em 2008, os contratos no país renderam R$ 930 milhões, 7,2% da receita de R$ 12,9 bilhões obtida pela empresa no exterior e 5,5% do faturamento global, considerando as operações no Brasil, de R$ 16,9 bilhões.

No Peru, a expectativa é que a interoceânica estimule a integração com o Brasil e entre as regiões dentro do país que viviam isoladas devido às péssimas condições da estrada de chão batido. Para ir de Cuzco a Puerto Maldonado (capitais de Cuzco e Madre de Dios, respectivamente, a pouco mais de 500 quilômetros de distância uma da outra) eram necessários três dias e com chuva ninguém sabia quando iria chegar, diz o presidente regional de Cuzco, Hugo Sayán. Hoje, com mais de 50% do trajeto já asfaltado, o tempo de viagem cai para cerca de 11 horas sob condições climáticas favoráveis.

Para Sayán, além de facilitar a exportação de produtos agropecuários para o Brasil (como azeitonas, aspargos, milho e cebola) e estimular investimentos brasileiros na região, a estrada terá efeito multiplicador sobre o turismo, que representa 54% do Produto Interno Bruto (PIB) local. Com 1,2 milhão de habitantes, sendo metade na capital, Cuzco recebeu 1,6 milhão de turistas estrangeiros em 2008 atraídos pelos sítios arqueológicos Incas, especialmente Machu Picchu, conforme dados da Câmara de Comércio, Indústria, Serviços e Turismo local.

Mais de 70% dos visitantes são americanos e europeus e a esperança do presidente regional é que a estrada traga mais brasileiros, hoje diluídos na categoria outras nacionalidades, especialmente do Acre, Rondônia, Amazonas e Mato Grosso. Mas Cuzco é um destino seletivo e precisamos atrair os brasileiros que querem conhecer o Pacífico, diz o presidente da Câmara de Comércio, Carlos Milla Vidal. Mesmo assim, ainda que Cuzco seja apenas um ponto de passagem para o litoral, ele acredita que o impacto sobre a economia local será positivo.

A interoceânica foi tema do encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e Alan Garcia, do Peru, no dia 28 de abril, em Rio Branco (AC). Para os dois, a rodovia vai ampliar o comércio bilateral, que passou de US$ 724 milhões em 2003 para US$ 3,3 bilhões no ano passado. Segundo a Presidência da República, o estoque de investimentos brasileiros no Peru é de US$ 2 bilhões e a expectativa do presidente regional de Madre de Dios, Santos Komori, é que mais empresas se estabeleçam na região, de olho nos tratados de livre comércio do país com a China e os EUA.

Em Puerto Maldonado, a pouco mais de 200 quilômetros da fronteira com o Brasil, Carlo Aguilar Pérez, sócio do hotel Pueblo Verde, vê na nova estrada o caminho para dobrar, em cinco anos, o número de turistas brasileiros que visitam a região. Hoje são 150 a 200 pessoas por ano, atraídas pelos cinco parques nacionais de preservação natural em Madre de Dios, onde se abrigam milhares de espécies de aves e animais selvagens, como tamanduás-bandeira, bichos-preguiça e tatus, diz o empresário.

Conforme a engenheira da Conirsa, Guisselle Montoya, com o aumento do fluxo de veículos desde o início da construção da rodovia, 23 empresas de transporte de passageiros se estabeleceram para ligar diferentes localidades e só em Madre de Dios, que tem apenas 110 mil habitantes, 320 empresas foram constituídas desde 2006, com a criação de 1,2 mil empregos. Segundo o diretor de contrato da Odebrecht, Luís Weyll, o tráfego médio diário de automóveis, ônibus e caminhões cresceu de 60 para 200 no ano passado nos trechos sob responsabilidade do consórcio e está chegando a 300, acima das projeções feitas para 2014.

A Conirsa já concluiu a pavimentação de 408 quilômetros da interoceânica sul e avança num ritmo de 15 quilômetros por mês. De acordo com Weyll, o consórcio recebe pagamentos semestrais do governo peruano pela realização das obras e depois terá direito à remuneração pela operação e manutenção da estrada equivalente a uma taxa interna de retorno média sobre o investimento de 11% ao ano durante os 25 anos de concessão. A estrada será pedagiada, mas a arrecadação irá para o governo, e a estimativa é que a tarifa ficará em torno de US$ 3 a cada 100 quilômetros, com cinco a sete postos de cobrança ao longo do trajeto, explica o executivo.

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