Valor Econômico
A PDVSA, estatal venezuelana de petróleo, deve emitir títulos de pelo menos US$ 2 bilhões ainda neste mês, para tentar minorar sua crise de fluxo de caixa e os efeitos da depreciação pesada da taxa de câmbio no mercado negro.
Atingida pelo declínio das receitas com o petróleo, a capacidade da PDVSA de pagar as empresas de serviço terceirizadas foi seriamente fragilizada. Assim como a capacidade do governo de satisfazer a demanda da empresa por dólares - que está regulada desde a introdução dos controles de capital em 2003.
Embora a moeda venezuelana, o bolívar, esteja fixada em 2,15 bolívares por dólar desde 2005, seu valor no mercado paralelo caiu de 3,4 bolívares em agosto para mais de 7 bolívares por dólar no mês passado, enquanto o governo corta o fornecimento de dólares no câmbio oficial numa tentativa de proteger suas decrescentes receitas com o petróleo.
Isso vem forçando as empresas do país, que é tão dependente das importações, a procurar o mercado paralelo para comprar dólares ao triplo do preço oficial, agravando a escalada da inflação.
Apesar dos custos para manter um câmbio supervalorizado e com a inflação crescendo 125% desde que fixou o câmbio, em março de 2005, as autoridades venezuelanas não devem implementar uma desvalorização no curto prazo.
Analistas dizem que a PDVSA está usando o mercado de câmbio paralelo para trocar os dólares que recebe pela venda de petróleo no exterior. Ela precisa de bolívares para pagar as contas de mais dos prestadores de serviços e das empresas terceirizadas, que já acumulam um total de US$ 10 bilhões.
Os títulos que a PDVSA pretende emitir a permitiriam pagar o equivalente a US$ 4 bilhões em bolívares, gerando uma dívida de apenas US$ 2 bilhões. Isso vai ocorrer porque os títulos devem ser denominados em dólares, mas que serão pagáveis em bolívares, numa manobra implícita de taxa de câmbio oficial dupla.
Analistas com conhecimento da emissão dos títulos esperam que eles tenham um período de dois anos rendendo aproximadamente 16%, mas dizem que ele não deve estar disponível no mercado internacional, não afetando assim a dívida soberana da Venezuela - uma das de melhor performance entre as dos mercados emergentes neste ano - ou a da própria PDVSA. Um default da PDVSA é considerado improvável pelos investidores.
Apesar disso, os títulos serão apenas uma solução de curto prazo para as pressões do mercado de câmbio paralelo.
Os economistas dizem que, ao negar aos venezuelanos o acesso aos dólares pela taxa oficial e ao forçá-los a usar o mercado paralelo, o governo está promovendo uma desvalorização de fato. O governo, por sua vez, insiste que desvalorizar a moeda significaria agravar a já alta taxa de inflação.
Asdrúbal Oliveros, economista da consultoria Ecoanalitica, argumenta que, sem uma estratégia mais consistente para satisfazer a demanda por dólares, o prognóstico será péssimo, com aumento da inflação e menor capacidade de as empresas importarem, fazendo com que os problemas de abastecimento piorem.
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