Relações internacionais

Energia pode unir UE e América Latina

Valor Econômico
29/05/2006 03:00
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O setor de energia, um dos mais negligenciados na relação entre União Européia e América Latina, é também uma das mais promissoras áreas de cooperação entre as duas regiões, avaliaram especialistas reunidos na semana passada, em Brasília, pela Fundação Konrad Adenauer. Mas dois obstáculos dificultam essa cooperação, segundo os analistas: um é estrutural, e envolve a falta de regras estáveis para investimentos nos países latino-americanos; outro é conjuntural, e atende pelo nome de Hugo Chávez, com seu projeto nacionalista e crescente influência na vizinhança.

"A Venezuela persegue políticas que contribuem para a desintegração, e não para a integração do continente", acusa o economista Georges Landau, consultor do Centro Brasileiro de Relações Internacionais e dirigente da Prismax Consulting. "Com o mega-projeto do Gasoduto do Sul, para levar gás da Venezuela à Argentina e Chile, Chávez interrompeu iniciativas de integração energética como o anel de integração sul-americano, que levaria gás dos campos de Camisea, no Peru, até Chile e Argentina, passando pelo Uruguai e pelo Sul do Brasil".

Landau vê nas ações de Chávez no setor energético uma faceta de sua estratégia geopolítica de antagonismo aos Estados Unidos, país que ainda encontra nas reservas venezuelanas o fornecimento de 15% das suas demandas de combustível. Os grandes projetos anunciados pelo presidente venezuelano seriam motivados menos pelo esforço integracionista e mais pela busca de novos mercados para o gás e o petróleo de seu país, de forma a reduzir a dependência do mercado americano.

A integração energética no continente poderia permitir aos países da região tirar maior proveito de uma de suas principais vantagens competitivas, a disponibilidade de energia barata, segundo nota o professor do Instituto de Economia da UFRJ Adilson de Oliveira. "Não temos vantagem em custos de mão de obra nem em tecnologia, mas temos disponibilidade de energia barata, investimentos já feitos", comenta o economista.

O debate sobre a cooperação em energia é uma tentativa dos especialistas de encontrar alternativas depois do fiasco da reunião de cúpula entre os governantes da União Européia e da América Latina, no início do mês, que foi contaminada pelas divergências entre os países, especialmente os da América do Sul. Uma das prioridades da reunião de cúpula, o caminho dos acordos comerciais, foi inviabilizado com a fragmentação da Comunidade Andina de Nações e com a crise no Mercosul.

"A América Latina poderia se tornar um exportador confiável de bens baseados em energia", acredita Adilson de Oliveira. Ele defende que os países e as empresas européias aproveitem a energia barata do continente sul-americano para investimentos de grandes consumidoras de energia, as chamadas indústrias eletrointensivas. Essa é uma possível vocação regional em dez a 20 anos, prevê Oliveira.

A forma abrupta da nacionalização de investimentos no setor de gás e petróleo na Venezuela, na Bolívia e no Equador, e a estratégia de extrair o máximo de recursos das companhias estrangeiras beneficiadas pela alta dos preços dos combustíveis fósseis desperta, porém, temores nos investidores. O risco de "desintegração" na região, com o acirramento de conflitos entre países, também pode bloquear a criação e o aproveitamento integrado das fontes de energia.

Ainda assim, os analistas reunidos pela fundação Konrad Adenauer lembram a existência de fortes investimentos de empresas européias na região, e acreditam que a necessidade mundial de fontes energéticas tende a atrair investimentos de países como Índia e China, o que pode ser mais um estímulo para o interesse europeu. Medidas nacionalistas não são surpresa na Europa, que também abriga iniciativas protecionistas, como o anúncio, neste ano, da fusão entre a estatal Gaz de France com o grupo francês Suez para impedir a compra deste último pela espanhola Endel.

A União Européia calcula que, até 2020, a demanda por combustível nos países do bloco aumentará o equivalente a 200 mil toneladas métricas de gás, enquanto o principal fornecedor do continente, a Rússia, elevará sua oferta em apenas 50 mil toneladas. Somado a essas necessidades o aumento na demanda mundial de energia em países como a China, está criado o cenário para o fortalecimento dos investimentos em fontes de energia na América Latina, defende o especialistas Wolfgang Pfaffenberger, da Universidade Internacional de Bremen.

"Há grande potencial de cooperação em setores como o biocombustível", atesta o economista alemão. "Além de estimular programas de cooperação em biomassa, está na hora de deixar de tratar da questão nuclear como algo descartável", acrescenta Adilson da Oliveira, da UFRJ. "Temos de retomar a cooperação na área", defende.

Landau, Oliveira e Pfaffenberger concordam em apontar o "déficit institucional", com falta de regras claras para os investidores, como uma das maiores barreiras atuais à cooperação entre Europa e América Latina no campo da energia. "Sem garantias para os contratos, não há como ter estratégia de longo prazo", comenta Pfaffenberger.

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