Meritocracia

Durante evento em São Paulo, Armínio Fraga destaca valor da meritocracia


02/11/2016 11:21
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Em palestra nesta terça-feira (1/11) no Congresso CJE 2016, na Fiesp, Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central (BC), destacou a valor da meritocracia e disse que em relação a ela teve uma lição preciosa no início de sua carreira: negócio, para funcionar bem, precisa de clareza nas regras. “Como as coisas acontecem, como as pessoas são avaliadas e promovidas. É preciso criar uma cultura que reconheça o funcionamento do grupo como um todo.”

Depois desse período inicial, foi dar aula nos EUA, passou pelo BC e em 2013 criou sua própria empresa, a Gávea Investimentos, em que procura seguir esse modelo de meritocracia. “Uma sociedade com participação e certo espírito de equipe funcionando como uma cola para isso tudo. Estimulando talentos.”

Fraga ressaltou a importância do chefe que dá crédito pelos acertos de seus subordinados e assume os erros. “Experimente fazer isso e veja o que seus funcionários farão por você.”

Setor público

Fraga lembrou que o período no governo foi a parte mais visível de sua carreira. “Melhor experiência de trabalho eu nunca tive”, afirmou, recomendando à plateia que se tiver chance, trabalhe no setor público. É um uso nobre do tempo, disse.

Ele foi diretor do BC em 1991 aos 33 anos, quando o Brasil estava em moratória da dívida externa. E o país saía de um congelamento de preços e de ativos, depois de uma sequência de planos que deram errado.

Há um paralelo com a situação de hoje, afirmou. O momento no país é de muita tensão e dificuldade. E há muita coisa fora do lugar, muita coisa para arrumar. “O motor do crescimento está escangalhado, mas tem conserto”, disse. “Pode ser oportunidade para fazer muita coisa, e é o que me dá esperança.”

A máquina de crescimento precisa hoje de uma resposta muito ampla, explicou Fraga. No lado micro, há um sistema tributário bem complicado. Destacou que a tributação sobre a indústria é muito mais alta que sobre outros setores. O ICMS, afirmou, é obstáculo à integração nacional. Há uma série de questões que representam o custo Brasil e que precisam ser abordadas. É preciso simplificar isso e trabalhar por uma redução da taxa de juros.

As regras trabalhistas também são tema superimportante, na opinião do economista. “O Brasil hoje precisa dar uma arrumada na casa para achar o caminho do crescimento outra vez.” O mais natural parece ser a infraestrutura, em que há uma carência tremenda, mas é algo muito complicado, avaliou Fraga. “Não traz crescimento da noite para o dia.”

Ao fazer sua breve biografia, lembrou que teve todas as chances e gostaria que todos tivessem. Vindo de uma família de médicos, foi parar “por eliminação” na economia. “E dei sorte.” Destacou o peso da influência de economistas que conheceu na faculdade.

Comparou a economia à medicina. A política monetária é uma espécie de cortisona para a economia. Não cura, mas estabiliza o paciente. Em excesso, como tem ocorrido no mundo, provoca problemas. Tem utilidade, mas não resolve tudo. Não melhora a infraestrutura e o ambiente regulatório, exemplificou.

Mas, disse, os problemas têm cura. A melhor cura é a luz do dia. A esperança é que haja um entendimento tanto do lado econômico quanto político, para que o Brasil possa se reconstruir. “Vamos ter que nos organizar melhor e trabalhar muito.”

Fraga vê processo gradual, com uma agenda de reformas em andamento para atacar o custo Brasil. Há um certo problema de endividamento, de excesso de capacidade de produção, alguma dificuldade para investir. E ainda há a influência de 2018 [eleições presidenciais]. “Vamos ter que ter um pouco de sangue frio e ir trabalhando.”

Em relação à produtividade e competitividade, Fraga disse que o Brasil tem escala para ser um país integrado, tem seu espaço, apesar de ser extraordinário o que acontece na Ásia. “Processo tem que de um lado ir abrindo e de outro atacando o custo Brasil, com infraestrutura melhor, reforma do PIS/Cofins, juros mais baixos. Aí, devagarinho, abrir. Não acredito num big-bang. Seria uma loucura. Mas também não pode ficar parado.”

Juros e câmbio

Caio Cordeiro, coordenador adjunto do CJE, foi o mediador da palestra de Fraga, que incluiu uma análise sobre o comportamento da economia brasileira.

Em juros e câmbio o Brasil tem sido destaque negativo no cenário internacional, destacou Fraga.

O nível dos juros reais é muito alto no país, disse, e recentemente o diferencial em relação aos EUA aumentou, depois de uma tendência de queda. Pondo ordem na casa os juros devem cair. Um país que funciona relativamente bem e tem essa taxa de juros recebe pressão no câmbio, explicou.

O câmbio estava muito defasado na época do Real, o que se inverteu, indo a R$ 4 em 2002. Voltou depois, com o boom das commodities. E no período Dilma, voltou a ficar defasado. Mais recentemente, com a sensação de que os problemas vão ser encarados, melhorou novamente. Relação de trocas e câmbio voltaram à média dos últimos 20 anos, explicou Fraga.

 

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