Agência UDOP/ Jornal O Povo
A concorrência do álcool está segurando o preço da gasolina no mercado cearense. O consumo saltou de uma parcela de 5% a 10% de todo o combustível vendido no Ceará, há cinco anos, para os atuais 37%. Assim como ocorre no estado, no mercado nacional, o surgimento dos carros flex (movidos tanto a álcool quanto a gasolina) contribuíram para a expansão numa proporção maior do que a alta internacional do barril de petróleo pressiona o preço do derivado, no mercado interno. Mais barato, o álcool caminha para ser mais vendido do que a gasolina.
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) estima que este mês o consumo do álcool no Brasil ultrapasse o de gasolina. Marco histórico semelhante só ocorreu na década de 80, há mais de 20 anos. Segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado do Ceará (Sindipostos-CE), José Carlos Rodrigues, o álcool é uma alternativa para o consumidor que tem a tendência de escolher o preço mais barato. O gerente da rede de postos da BR Distribuidora no Ceará, Luiz Antonio Siqueira, confirma o crescimento do consumo do álcool combustível. Destaca que ele cresceu mais de 300% nos últimos três anos para a empresa, dona de 35% a 40% do mercado de combustíveis do Estado.
O consumo maior do álcool já é uma realidade em estados que têm uma frota muito grande como São Paulo e onde, atualmente, a chegada de uma nova safra provoca queda de preço. Esse fato ainda não se reflete no Ceará e, especialmente, em Fortaleza que vive uma guerra de preços em mais uma disputa que puxa os preços da gasolina e do álcool para baixo. O litro da gasolina comum é vendido até a R$ 2,27 e o do álcool a R$ 1,59.
Sobre o crescimento do consumo, Siqueira reforça que 95% dos carros que estão entrando no mercado são flex. "A tendência é um consumo maior ainda mais quando o preço do produto estiver até 70% do preço da gasolina". O professor de economia da Universidade de Fortaleza, Henrique Marinho, reforça que abastecer com álcool só vale a pena nessas condições, já que o carro movido à álcool consome mais.
O empresário José Olavo Leal Dantas Júnior, conta que o consumo do álcool no Ceará, em 2007, cresceu 58% em relação à 2006. Observa que 35% desse crescimento foram puxados pelas vendas e o restante em função da fiscalização que "oficializou" a venda. Em outras palavras, diminuiu a sonegação de impostos. Para ele, no Brasil, o álcool já vende igual à gasolina.
Lula
No sábado passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou que esteja discutindo com a Petrobras o aumento do preço da gasolina. Na sexta-feira, durante cerimônia de inauguração de uma nova unidade petroquímica da Braskem, em Paulínia (SP), Lula comentou que o último reajuste no preço da gasolina no País ocorreu em 2005.
Segundo análises de mercado, a Petrobras vive um dilema em relação ao reajuste da gasolina. É que o preço da gasolina está defasado em relação ao do mercado externo e há a necessidade de um reajuste, mas, ao mesmo tempo, a companhia teme aumentar o preço do produto e perder ainda mais mercado para o álcool.
Para a Petrobras, é mais vantajoso vender gasolina do que álcool em seus postos. É que a estatal controla toda a cadeia do petróleo - a extração, o refino e a distribuição - e absorve todas as margens de lucro. No caso do álcool, compra o produto da usina e revende - em alguns casos, até com margem negativa, pois há muita concorrência com os postos de bandeira branca.
E- Mais
- Segundo a ANP foi vendido 1,432 bilhão de litros de álcool no primeiro bimestre, acima do consumo de gasolina - 1,411 bilhão de litros. Ao final do ano passado, o derivado de petróleo mantinha uma dianteira de 100 milhões de litros.
- A redução do preço do álcool neste ano foi decisiva para o maior consumo do produto no Brasil. No primeiro bimestre, as vendas do álcool cresceram 56%. As de gasolina subiram apenas 2,9%.
- O aumento do consumo do álcool inclui a mistura de 25% de álcool anidro à gasolina
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