<P>Há mais de 40 anos trabalhando no mercado de compra e venda de aço plano, Carlos Jorge Loureiro enfrenta pela primeira vez uma crise econômica de abrangência mundial. Pela terceira vez assume o cargo de presidente do Inda, a entidade que reúne os distribuidores desse aço no Brasil, e seu pr...
Valor EconômicoHá mais de 40 anos trabalhando no mercado de compra e venda de aço plano, Carlos Jorge Loureiro enfrenta pela primeira vez uma crise econômica de abrangência mundial. Pela terceira vez assume o cargo de presidente do Inda, a entidade que reúne os distribuidores desse aço no Brasil, e seu primeiro desafio é gerenciar um elevado estoque dentro da rede: 950 mil toneladas.
“Isso significa volume correspondente a 3,5 meses das vendas de março”, informa. “Até junho ou julho, nosso esforço será para equilibrar esse volume ao nível histórico de 2,6 meses”, diz Loureiro, que fundou com dois amigos a Rio Negro, uma das líderes do setor, no fim dos anos 60.
O maior complicador da crise, no momento, afirma o empresário, é a falta de previsibilidade além do curto prazo. “O campo de visão ainda está muito embassado; as encomendas são feitas semana a semana”, diz ele, que hoje atua no setor junto com os três filhos na ADCL, distribuidora de porte médio. Loureiro vendeu sua parcela acionária de 4,6% na Rio Negro para a Usiminas e a Mitsubishi.
Os principais clientes da rede são as autopeças, fabricantes de máquinas e equipamentos, de tubos, o setor da construção civil e de eletroeletrônicos. Na época da economia aquecida, esses e outros clientes faziam seus pedidos com até dois meses de antecedência. “Por conta da alta do aço, de até 60% em 2008, muita gente se estocou, pois era mais interessante comprar do que aplicar no mercado financeiro. Outro fator era o risco de falta de aço”, comenta o empresário. Tanto que Usiminas, ArcelorMittal e CSN fizeram importações que entraram no país ainda no início deste ano.
Segundo Loureiro, diante da indefinição dos rumos da economia, nenhum cliente quer correr o risco hoje de formar estoque e comprometer seu caixa. Por isso, devido ao elevado nível de estoque na rede, as empresas do Inda vão comprar no máximo 80% das siderúrgicas até o equilíbrio. A previsão para abril é de até 200 mil toneladas, ante uma perspectiva de venda de 250 mil no mês. A retração de quase 10% neste mês, em relação a março (274 mil toneladas), se deve a menos três dias úteis de trabalho à demanda fraca.
De janeiro a março, o volume comercializado somou 732 mil toneladas, 23,6% menor se comparado há um ano. Até setembro, o setor vinha operando no ritmo de quase 1 milhão de toneladas trimestrais. Desde dezembro, o fundo do poço, com 146 mil toneladas, houve melhora, interrompida neste mês. Março ainda ficou com queda de 18,6% sobre o mesmo mês do ano passado.
No momento, diante da incerteza de como ficará a demanda, a previsão do Inda é de uma queda de 15% a 20% nas vendas de 2009 sobre as 3,72 milhões de toneladas de 2008.
“Está todo mundo ainda muito cauteloso na hora de comprar”, diz Loureiro, que vê um processo de recuperação da demanda no país ainda muito lento. Por conta disso, prevê uma redução entre 20% e 25% na produção de aço do país este ano. Além do mercado interno, as usinas enfrentam o baque da crise nas exportações. Os embarques ao exterior respondiam por cerca de 30% do total vendido pela siderurgia.
A distribuição de aço plano é vista como importante termômetro da demanda no país. “Conseguimos ver com mais antecedência do que as siderúrgicas os sinais de comportamento do consumo, pois atingimos milhares de pontos na ponta do consumo”, diz o empresário, que será o primeiro a assumir a gestão do Inda pela terceira vez. As duas primeiras ocorreram de 1985 a 1989.
Depois de 20 anos, Loureiro diz que a distribuição, “que faz a ligação entre as usinas e o consumidor final, é um setor de muita mutação”. Das 13 empresas dos 15 ex-dirigentes do Inda, desde sua criação em 1970, metade já fechou. Muita coisa mudou na forma de atuação, grande parte devido ao avanço das usinas na distribuição, trazendo a figura de centro de serviços, em linha com os modelos japonês e europeu. “Distribuição pura passou a ser mais atividade complementar”.
Para oferecer serviços (de corte de chapas e bobinas até estamparia), requer-se investimentos pesados em tecnologia, o que só pode ser bancado pela força financeira das siderúrgicas. Os clientes querem, cada vez mais, material pronto para uso em suas linhas de produção. Aí se destacam a indústria automotiva e fabricantes de linha branca.
Os quatro grandes produtores de aço no Brasil - ArcelorMittal, Gerdau, Usiminas e CSN - já têm o controle de mais de 50% do canal de distribuição de aço plano. Os dois primeiros também detêm mais da metade no setor de aços longos. Na visão do empresário, atingiu-se um “ponto ótimo”. Para ele, os distribuidores médios, que movimentam de 20 mil a 180 mil toneladas anuais, estão em situação financeira confortável. Esse é um ponto que dificulta a venda de ativos no atual cenário de preços. Donos de 45% do mercado, eles têm outro complicador: a maioria é de controle familiar. Só saem do negócio em situações de problemas de sucessão ou de extrema dificuldade financeira. “Não parece ser o caso de ninguém atualmente”.
O principal exemplo de consolidação no setor, hoje, é a Usiminas. Com aquisições de partes dos sócios na Dufer, Fasal e Rio Negro e o controle da Zamprogna, está montando uma gigante com redes de vendas e centros de serviços para 1 milhão de toneladas/ano. O próximo passo é integrar esses ativos sob a mesma gestão e bandeira.
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