Valor Econômico
O consumidor brasileiro de energia pagará R$ 26 milhões por semana para manter ligadas as três térmicas que o Operador Nacional do Sistema (ONS) diz que precisam ainda do gás importado da Bolívia. A conta foi feita pela Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais de Energia (Abrace).
“Estamos ajudando a Bolívia, como ajudamos a Argentina”, disse o presidente da Abrace, Ricardo Lima ao se referir à exportação de energia feita no primeiro semestre do ano e que, segundo ele, fez com que as térmicas fossem mantidas ligadas ao longo do ano.
O custo de manter as usinas térmicas ligadas é repassado às tarifas da energia por meio da conta Encargos de Serviços do Sistema (ESS). A falta de chuvas do ano passado, o forte crescimento da economia e a meta de atingir determinado nível de segurança nos reservatórios das hidrelétricas levou a conta de ESS a a R$ 2,2 bilhões no ano passado - quando as térmicas foram mantidas ligadas durante todos os meses. Apesar das explicações técnicas do ONS, de que a decisão de manter certo nível de tensão em determinadas linhas de transmissão, a Abrace acredita que essa foi uma estratégia de auferir razões elétricas para o consumo do gás boliviano e assim repassar a conta para o consumidor de energia e evitar que a Petrobras arcasse com o custo.
Uma fonte do setor argumenta que o contrato de fornecimento da Petrobras com a Bolívia prevê uma cláusula em que o Brasil tem a obrigação de pagar por 24 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural, mesmo que não consuma essa quantidade. Se a Petrobras assume que as termelétricas não precisam mais do gás e como há uma forte redução do consumo industrial, de pelo menos cinco milhões de metros cúbicos, é a própria Petrobras que precisa assumir a conta. E isso, em tempos de caixa apertado, é um gasto elevado para a empresa.
A desconfiança do setor se deu pela sequência de fatos. Na quarta-feira, o governo anunciou uma redução de 31 para 19 milhões de metros cúbicos da necessidade de gás proveniente da Bolívia. Na sexta-feira pela manhã, o ONS recomendou a completa paralisação das usinas térmicas durante apresentação feita no Conselho de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), segundo fontes que participaram da reunião. Dizia a apresentação feita pelo ONS que em função das chuvas, da previsão de que reservatórios transbordassem, da queda do consumo de energia e ainda pelo fato de que a maioria das usinas estivessem com reservatórios acima do nível-meta, era recomendada a paralisação das térmicas.
Mas na própria sexta-feira, o ONS informou ao ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, de alguns problemas técnicos isolados que determinavam a necessidade de manutenção de algumas térmicas ligadas. À noite, o ministério anunciou que o corte do gás da Bolívia não seria mais de 31 para 19 milhões de metros cúbicos, mas sim para 24 milhões.
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