Valor Econômico
Usineiros brasileiros sugeriram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que proponha ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a criação de mecanismos capazes de aprofundar a cooperação entre os dois países na área energética e aumentar as vendas de etanol do Brasil para o cobiçado mercado americano, onde o produto enfrenta barreiras para entrar.
Representantes do setor estiveram nos últimos dias com ministros e o próprio Lula, num esforço para assegurar que o tema entre na conversa que ele terá com Obama sábado, na Casa Branca. Diplomatas envolvidos com os preparativos da reunião esperam que o assunto seja discutido, mas duvidam que o encontro, que será o primeiro contato pessoal dos dois presidentes, produza avanços nessa área.
O Brasil e os EUA assinaram há dois anos um memorando de entendimentos para promover o uso de combustíveis alternativos como o etanol em alguns países do Caribe e ampliar a demanda mundial pelo produto. Mas o acordo não produziu até hoje benefícios para os usineiros brasileiros e isso acabou gerando enorme frustração na indústria.
O Brasil vendeu no ano passado 1,7 bilhão de litros de álcool para os EUA, o equivalente a pouco mais de 5% do consumo americano e 7% da capacidade de produção brasileira. Os usineiros acham que teriam condições de dobrar suas exportações para os EUA se fossem removidas as tarifas que o país cobra do etanol importado atualmente.
“Tem álcool sobrando no mundo inteiro hoje e o Brasil poderia ajudar os americanos a aumentar o consumo de biocombustíveis, complementando a produção das usinas americanas”, disse o presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Marcos Jank, que chegou a Washington na terça-feira para manter contatos com o governo e o Congresso.
A crise econômica internacional atingiu em cheio a indústria de etanol dos EUA. Pelo menos 23 usinas fecharam nos últimos meses e investimentos na expansão do setor foram suspensos, gerando dúvidas sobre sua capacidade de aumentar a produção de combustível no ritmo necessário para cumprir metas de consumo estabelecidas pela legislação para os próximos anos.
Muitas usinas brasileiras também estão enfrentando dificuldades financeiras, mas o álcool do Brasil, onde o combustível é extraído da cana-de-açúcar, é mais competitivo do que o produzido nos EUA, onde as usinas usam o milho como matéria-prima. A principal tarifa cobrada pelos americanos nas importações de álcool do Brasil vence em dezembro de 2010, mas pode ser renovada pelo Congresso.
Na campanha eleitoral do ano passado, Obama defendeu em várias ocasiões a manutenção dos incentivos que protegem a indústria americana. Mas de lá para cá o setor perdeu parte do apoio que tinha no Congresso por causa da preocupação crescente com o impacto da expansão dos biocombustíveis sobre o meio ambiente e os preços dos alimentos no mundo inteiro.
Paralelamente, empresários do Fórum Brasil-EUA de Altos Executivos, grupo que representa vários setores com negócios nos dois países, planejam enviar a Lula e Obama até amanhã uma carta para cobrar seu empenho nas negociações de um acordo que elimine a dupla tributação das empresas que têm atividades nos dois países, uma antiga reivindicação do setor privado.
Brasil e EUA discutem esse assunto há vários anos e recentemente assinaram um acordo para troca de informações na área tributária, considerado um passo preliminar para a discussão de um tratado mais abrangente. Mas o acordo empacou no Congresso brasileiro, por causa do incômodo gerado em setores da indústria nacional pelo grau de acesso exigido pelas autoridades americanas às informações que o fisco brasileiro tem sobre elas.
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