Negócios

Usinas tentam renegociar dívidas de R$ 3,45 bilhões

Valor Econômico
12/02/2009 04:14
Visualizações: 73 (0) (0) (0) (0)

Sem acesso a capital de giro nem condições de oferecer garantias para novos empréstimos, o segmento sucroalcooleiro negocia com o governo uma ampla reestruturação de R$ 3,45 bilhões em dívidas com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), bancos comerciais, tradings e fundos de investimento.

 

As indústrias também pedem a liberação de até R$ 3 bilhões para financiar os custos da estocagem de etanol (”warrantagem”) ao longo da próxima safra de cana-de-açúcar, que deve começar a ser colhida em abril. Pressionados pelo endividamento da indústria, os produtores da cana também buscam renegociar R$ 267 milhões em financiamentos no BNDES e no Banco do Brasil.

 

A medida está em discussão nos ministérios da Fazenda e da Agricultura desde dezembro. O tema tem sido tratado com cautela e discrição. Mas parte do governo entende que não pode deixar o setor ainda mais vulnerável ao capital estrangeiro, o que poderia desencadear uma avalanche de compras por investidores e sócios estrangeiros. Por isso, haveria estudos para estimular fusões e aquisições entre empresas nacionais. “O governo sabe como e onde precisa ajudar o setor”, diz o coordenador nacional do Fórum de Lideranças do Setor Sucroalcooleiro, Anísio Tormena.

 

A lista do segmento inclui, ainda, a recomposição do capital de giro das empresas, linhas de financiamento aos compradores (tradings), redução dos custos e concessão de Adiantamento sobre Contratos de Câmbio (ACCs) e empréstimos aos produtores para plantio da matéria-prima. “A warrantagem resolveria as dívidas e evitaria uma queda maior dos preços”, diz Tormena, que também preside a Associação de Produtores de Álcool e Açúcar do Paraná (Alcopar). “A captação de recursos para ‘mata-mata’ [troca de dívidas] está saindo, mas faz 60 dias que ninguém consegue dinheiro novo”.

 

O BNDES, cuja carteira de operações ativas no setor sucroalcooleiro soma R$ 21,3 bilhões, informa não ter recedido nenhum pedido oficial de repactuação dos financiamentos do setor sucroalcooleiro. Em 2008, o banco de fomento emprestou R$ 6,5 bilhões para financiar projetos de plantio de cana-de-açúcar, produção de etanol e açúcar, além de iniciativas em co-geração de energia elétrica pelas usinas.

 

Preocupada com o alto nível de endividamento e as dificuldades para levantar novos recursos no mercado, a indústria reclama dos baixos preços e pede um amplo plano de reestruturação com medidas emergenciais e ações estruturantes de longo prazo. O financiamento dos estoques de etanol daria, segundo dirigentes do setor, estabilidade de preços e garantiria o abastecimento do mercado interno. Sem capital de giro, algumas indústrias têm fabricado mais etanol para cumprir compromissos. Mas isso deprime ainda mais as cotações. Nem mesmo a entressafra provocou uma elevação dos preços.

 

O segmento vive um momento delicado porque os problemas das indústrias afeta toda a cadeia produtiva. As vendas de carros “flex” caíram e a oferta, mesmo na entressafra, se manteve. Os preços, que costumam disparar 30% neste período, aumentaram menos de 10%. O BNDES alterou as regras do Programa Especial de Crédito, que poderia auxiliar na recomposição do capital de giro. Com juros mais baixos e prazo mais longos, houve autorização para fazer penhor, o que deve ajudar as indústrias. “Por enquanto, não está saindo para ninguém”, diz Anísio Tormena.

 

Os produtores de cana, que têm financiamentos do BNDES para o plantio das lavouras, com aval das indústrias em troca do produto como garantia, afirmam que recebem preços 40% abaixo de seus custos de produção. Por isso, se movimentam nos bastidores do governo para rolar R$ 60 milhões dessa modalidade com o banco. Há também R$ 130 milhões em Cédulas de Produto Rural (CPR) no Banco do Brasil. O assunto está sob avaliação do Ministério da Agricultura. Os produtores, sobretudo de Minas Gerais e Goiás, reclamam de atrasos no pagamento pela cana e pelo arrendamento das terras, além da falta de capital gerado pela opção das usinas em deixar no campo boa parte da cana que renderia novos recursos.

Mais Lidas De Hoje
veja Também
Newsletter TN

Fale Conosco

Utilizamos cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site. Se você continuar a usar este site, assumiremos que você concorda com a nossa política de privacidade, termos de uso e cookies.

20