Hidrelétrica de São Luiz dos Tapajós deverá ir a leilão.
Valor Econômico
No último trimestre ou início do próximo ano, deverá ir a leilão exclusivo a usina hidrelétrica de São Luiz dos Tapajós, localizada no rio Tapajós, a cerca de 330 quilômetros da sua foz no rio Amazonas. Investimento de R$ 30,6 bilhões, o empreendimento é o primeiro de uma série de projetos previstos no rio (entre eles, Jatobá com 2,3 mil MW) e poderá ter uma forma inédita de construção, para reduzir os impactos ambientais e sociais.
O reservatório do empreendimento será a fio d’água, ou seja, depois de formado, todo o volume de água que chegar pelo rio irá passar pelas estruturas construídas na barragem, sem a necessidade de um grande reservatório.
Com 8.040 MW de capacidade, o projeto terá 4.012 MW médios de energia firme, em duas casas de força. “São grandes as chances de o leilão de Tapajós sair ainda este ano.
O processo está andando”, afirma o presidente da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), Mauricio Tolmasquim. Na última semana de julho, a Eletrobras entregou ao Ibama o estudo e o relatório de impacto ambiental e solicitou a licença prévia para a usina. O documento é obrigatório para que o empreendimento seja leiloado. Agora os órgãos ambientais e a Funai irão se debruçar sobre o relatório.
Segundo o relatório de impacto ambiental, divulgado recentemente, a implantação da usina afetará diretamente cerca de 1.400 pessoas.
Em torno de 1.100 pessoas deverão ser removidas para dar lugar à barragem e às demais estruturas do empreendimento. Para a construção, serão contratados 13.000 trabalhadores no período de maior intensidade das obras, entre o segundo e terceiro anos de construção. Outras 12.500 pessoas poderão chegar em busca de emprego e negócios.
Uma das ideias que poderão ser aplicadas pelo consórcio construtor é o conceito de usina-plataforma, inspirado nas plataformas marítimas de exploração de petróleo e gás, onde os trabalhadores se revezam em turnos.
As usinas no rio Tapajós seriam construídas sem a instalação de vilas operárias, cidades e centros comerciais no entorno.
A ideia é criar alojamentos temporários, entre outras instalações, que serão totalmente desmontados no fim da obra, reduzindo a possibilidade de grandes migrações para a região. Além disso, vias provisórias de acesso serão desfeitas e a vegetação recomposta, com replantio de árvores.
Além da usina de São Luiz dos Tapajós o governo pretende licitar outros empreendimentos, como a de Jatobá, também no rio Tapajós (a ser licitada em 2015) com 2.300 MW de potência, Bem Querer (em 2016, com 700 MW de capacidade) e Simão Alto (previsto para ser leiloado em 2017 com potência de 3.500 MW). Todos estão localizados na região Norte e, juntos, devem demandar mais de R$ 50 bilhões de investimentos.
São Luiz dos Tapajós é mais um empreendimento a fio d’água, um conceito que tem ganho espaço na região Norte desde a década de 1990. No rio Madeira, em Rondônia, a usina de Jirau foi planejada assim desde o início do projeto como uma usina sem grande reservatório para acúmulo de água. A escolha se deu pela força do rio Madeira. “É importante a construção do reservatório no local correto. Não se pode abandonar essa opção por preconceito”, diz Victor Paranhos, presidente da Energia Sustentável do Brasil, responsável pela construção da usina de Jirau.
O empreendimento iniciou sua operação comercial em setembro de 2013, nove meses depois do prazo inicial estipulado pela Aneel.
O atraso é avaliado pelos empreendedores como reflexo direto de dois distúrbios ocorridos em 2011 e 2012, que resultaram na perda de cerca de 500 dias de trabalho. Em 2011, cerca de dez mil trabalhadores foram retirados do canteiro de obras, após uma briga. Veículos foram depredados, moradias destruídas.
A tecnologia de construção dos alojamentos passou a ser alterada nos empreendimentos, com outros materiais substituindo a madeira.
Em 2012, a Força Nacional foi enviada para conter incêndios. Houve queixas com a alegação de que os trabalhadores foram tratados como criminosos pelo governo federal.
O consórcio construtor corre contra o tempo para minimizar o atraso. Até o início de julho, dez turbinas estavam ligadas. A meta é de que se chegue a 24 no fim do ano. Em maio, foi aberto um turno noturno com 800 funcionários para a montagem eletromecânica. O atraso impediu a geração comercial das turbinas para vender energia no mercado livre.
Lidar com grande quantidade de trabalhadores e cumprir as exigências sociais e ambientais se somam a outros desafios, como o logístico. Entre novembro e abril, período úmido, as chuvas na região complicam o transporte de peças e equipamentos.
As estradas são precárias. “Construir em plena Amazônia é uma tarefa árdua”, destaca o executivo.
Para ele, deveria ser aberta a possibilidade de perdão por atrasos. “Há muitos riscos envolvidos”, diz Victor Paranhos.
Uma das maiores hidrelétricas do mundo, Belo Monte tem sido erguido em plena floresta amazônica, na região Norte, em que o período úmido, que se estende de novembro a abril, costuma ser um complicador, principalmente por afetar o transporte de peças e equipamentos pelo modal rodoviário.
Uma saída encontrada pelo consórcio Norte Energia foi a construção de um porto. “Sem isso, teríamos alguma dificuldade para transportar peças e materiais no período chuvoso”, aponta o diretor de Fornecimento e Montagem, Wellington Lopes Ferreira.
O transporte de alimentos é feito pela rodovia Transamazônica, mas, quando necessário, utiliza-se também o modal fluvial, a partir de uma base no porto de Belém (PA).
Neste caso, os produtos são descarregados das carretas, identificados, separados de acordo com os destinos e dispostos em contêineres, transportados em balsas até o porto. Ali, caminhões fazem o translado do material para o sítio correspondente, onde são conferidos e levados.
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