Três tripulantes chilenos morreram na madrugada de ontem, durante o incêndio a bordo do cargueiro Rio Blanco, atracado no cais do Terminal de Exportação de Veículos (TEV), na Margem Esquerda (Guarujá) do Porto de Santos. O fogo começou às 21h15 de sábado, devido a um vazamento de óleo na praça de máquinas do navio, e só foi extinto por volta de 5 horas de ontem.

As vítimas foram Nelson Antonio Moreno Rojo, de 44 anos, Julio Hemam Muñoz Areyuna, 55 anos, e Victor Hugo Osega Narea, 60 anos.

Tanto a Polícia Federal como a Capitania dos Portos de São Paulo já iniciaram as investigações sobre o caso.

Os problemas no Rio Blanco começaram na manhã de sábado, logo após a sua chegada ao complexo. Durante o abastecimento do navio com óleo bunker (combustível marítimo) houve a ruptura de uma válvula, que resultou no despejo de cerca de 2 mil litros do produto. Desse volume, aproximadamente 800 litros vazaram no mar e o restante se espalhou pelo convés da embarcação. No mesmo dia o combustível derramado no Canal do Estuário foi contido.

Por volta de 21 horas, ocorreu um novo vazamento, porém na casa de máquinas, afirmou o tenente do Corpo de Bombeiros Nelson Pinheiro Duarte, com base em informações colhidas junto aos tripulantes da embarcação. ‘‘A princípio foi esse vazamento que causou o incêndio e as explosões’’, explicou o oficial, que participou do combate às chamas.

Segundo o oficial, apesar de terem se dirigido ao cais imediatamente após o alerta, os bombeiros só conseguiram chegar ao interior da embarcação horas depois do fogo começar. ‘‘Foi uma operação muito difícil porque a temperatura (dentro do navio) ficou muito alta’’, relatou Duarte, comentando que participaram do rescaldo equipes da Guarda Portuária, da Codesp, da Cetesb e da operadora portuária Santos-Brasil, arrendatária do TEV.

Os corpos de Nelson Rojo e Victor Narea foram encontrados só durante a madrugada, depois dos bombeiros conseguirem entrar a bordo. Já o de Julio Areyuna foi descoberto pela manhã. Os três estavam na sala de máquinas, onde as explosões começaram

A operação foi encerrada por volta de 7 horas. Mas até o final da tarde ainda havia equipes a bordo e no cais do TEV para avaliações sobre o caso.

Depois do fim do incêndio, a impressão era de que nada havia ocorrido na embarcação. No casco do Rio Blanco, não há marcas das chamas. As pessoas que se aproximam do cargueiro conseguem perceber apenas um cheiro quase imperceptível de queimado.

De acordo com o encarregado da Divisão de Inspeção Naval e Vistoria da Capitania dos Portos de São Paulo (CPSP), Valter Monteiro, ainda não se pode dizer que a tragédia ocorreu em decorrência do vazamento original (que aconteceu na manhã de sábado). A relação entre os dois fatos é uma das questões que são investigadas pelos técnicos do órgão. Não há uma previsão de quando os trabalhos serão concluídos.

Monteiro afirmou que a CPSP abriu um inquérito administrativo para apurar as causas e punir os responsáveis. Segundo ele, a tripulação e o comandante da embarcação, Alexis Dionísio Thieme Espinosa, começarão a ser ouvidos hoje. ‘‘Temos que saber antes de tudo o que causou esse incêndio e se foi provocado por falha mecânica ou humana’’, disse.

O oficial militar explicou que o cargueiro não poderá deixar o cais santista por enquanto. ‘‘Não pode e não tem condições disso. Por causa do fogo, o navio está completamente apagado, sem luz, e não há nada funcionando’’, argumentou. A embarcação também não oferece riscos à operação do TEV e do vizinho Terminal de Contêineres (Tecon), podendo permanecer atracada no local, disse.
‘‘Mas se a armadora (CSAV) quiser tirar do cais, vai precisar de rebocador porque o navio não tem como navegar’’, contou.

Capitania responsabiliza empresa

Da Redação

O encarregado da Divisão de Inspeção Naval e Vistoria da Capitania dos Portos de São Paulo (CPSP), Valter Monteiro, afirmou ontem que o ‘‘dono do navio Rio Blanco’’, a CSAV, é o responsável pelas ocorrências a bordo. Ele também disse que a empresa deverá pagar multa pelo derramamento de óleo bunker no Canal do Estuário, o acesso marítimo aos terminais do Porto de Santos.

‘‘O vazamento aconteceu por falha do navio. O incêndio aconteceu no navio. A responsabilidade é do dono do navio’’, analisou Monteiro. Segundo ele, as investigações conduzidas pela CPSP vão indicar os motivos e as responsabilidades pela tragédia.

‘‘Com relação ao vazamento do óleo no mar, certamente vai haver penalidades. Quanto ao incêndio, o inquérito vai apontar, mas a responsabilidade do navio é da armadora’’, lembrou o oficial.

A Capitania instaurou inquérito ainda ontem. As análises terão de ser concluídas em 90 dias.

Destaque
O embaixador do Chile no Brasil, Alvaro Diaz, lamentou a morte dos três marítimos no porto. Foi ‘‘uma lamentável tragédia’’, disse.

Portuários denunciam falta de recursos

Da Redação

Funcionários da operadora portuária Santos-Brasil, arrendatária do Terminal de Exportação de Veículos (TEV), afirmaram que o combate ao incêndio poderia ter sido agilizado se a embarcação Comandante Fleury, do Corpo de Bombeiros, tivesse mais recursos para controlar as chamas. Segundo eles, os jatos de água da lancha não conseguiam alcançar o alto do navio Rio Blanco, retardando o rescaldo.

De acordo com os portuários, que preferiram não se identificar, o jato da Fleury só chegava até o convés. Ainda conforme os operários, que trabalhavam no momento do incêndio, foi preciso a ajuda de rebocadores, com equipamentos mais potentes para o direcionamento da água, para esfriar a temperatura na embarcação e, por fim, extinguir as chamas.

Questionado sobre esse problema, o tenente do Corpo de Bombeiros Nelson Pinheiro Duarte disse que todos os recursos possíveis foram utilizados e que o apoio da embarcação integrou a estratégia de combate às labaredas.

Secretaria de Portos
O assessor especial de segurança da Secretaria de Portos, coronel Jorge Pimentel, disse ontem que irá rever todos os procedimentos de segurança no abastecimento das embarcações no Porto de Santos. Pimentel, que foi comandante dos Bombeiros do Distrito Federal e é especialista em incêndios, chega hoje a Santos para acompanhar os desdobramentos do acidente que matou três tripulantes do navio Rio Blanco.

Óleo bunker
O óleo bunker do Rio Blanco derramado no Canal do Estuário foi quase todo removido. Foram despejados no mar 800 litros do combustível no último sábado. Segundo o plantonista da Cetesb, agência ambiental do Estado, Fernando Ferreira Arruda, ainda ontem as equipes contratadas pela armadora CSAV retiravam o produto. Mas a operação deve continuar nos próximos dias, com os técnicos inspecionando o canal para identificar manchas isoladas de óleo. Arruda ainda comentou que, apesar da Cetesb não ter papel decisivo na investigação do incêndio, a agência irá prestar esclarecimentos no que for possível sobre o vazamento ocorrido no sábado.

Fonte: A Tribuna