Macaé

Surto de crescimento inflou bolha especulativa

Jornal do Brasil
08/02/2006 02:00
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Fenômeno já é sentido nos setores hoteleiro, imobiliário e de restaurantes. 

O repentino surto de desenvolvimento vivido pelo município de Macaé produziu, nos últimos anos, uma bolha especulativa na economia local, que já começa a dar sinais de estouro em setores como hotelaria, comércio, imóveis, bares e restaurantes. Ao provocar uma corrida desenfreada de novos empreendimentos comerciais, o crescimento da atividade petrolífera na Bacia de Campos inflou de forma exorbitante os valores dos imóveis da região – inclusive em áreas pobres, como favelas –, inflacionou os preços no comércio e promoveu uma corrida de novos restaurantes de vida curta.
O presidente da Associação Comercial e Industrial de Macaé, Erodice Gaudard, manifesta preocupação com os efeitos da especulação na hotelaria, que já se evidenciam com a predatória guerra de preços que resultou, por exemplo, no fechamento do Hotel Ouro Negro, no fim do ano passado. Um dos mais tradicionais da cidade, e pioneiro na acolhida aos primeiros executivos da Petrobras, o hotel, segundo ele, não teria sobrevivido à sobreoferta de vagas ocorrida com o afluxo à cidade de grandes bandeiras como Ibis, Comfort e Sheraton.

"O inchaço dessa bolha pode gerar problemas sérios no futuro, se não houver o estímulo à indústria do turismo local", adverte Gaudard, com a concordância do vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Ângelo Vivácqua: "Há o risco de ocorrer com a indústria hoteleira de Macaé o que aconteceu com a hotelaria de São Paulo. Nos últimos seis anos, o número de quartos duplicou de 20 mil para 40 mil. Atualmente, há cerca de 3 mil ações na Justiça de proprietários que alegam não ter, hoje, os rendimentos prometidos pelas incorporadoras quando do lançamento dos empreendimentos", compara Vivácqua, ao lembrar que, como conseqüência, as grandes bandeiras do setor hoteleiro têm se desfeito de ativos na capital paulista.

Para se ter idéia do tamanho do problema, a rede Othon vai inaugurar em junho o Imbetiba Othon Suíte, com 78 apartamentos. Antes, em maio, será inaugurado o Four Points Sheraton Macaé, que terá mais 164 apartamentos.

Em setembro deste ano, será a vez do Macaé Palace e, em fevereiro de 2007, do Mercure Palace, com 100 quartos. Segundo a Macaétur, órgão vinculado à prefeitura, um número pequeno de novas vagas para a agenda de eventos da cidade, que inclui algumas das principais feiras do setor petrolífero. Não são raras, nessas ocasiões, as corridas por vagas que acabam por lotar hotéis e pousadas de cidades vizinhas.

O problema, adverte Vivácqua, reside justamente nos períodos de menor movimentação. Sem garantir um fluxo de hóspedes por meio do turismo de lazer, ele adverte para os riscos de ociosidade. Este mês, a maior parte dos hotéis já iniciou uma guerra de preços que, a longo prazo, poderá estilhaçar a rentabilidade dos negócios.

No hotel Du Lac, onde uma promoção reduziu praticamente em um terço as diárias na última semana, o quarto de casal, com direito a café da manhã, era encontrado a R$ 120. O simples, também com café, a R$ 110. Segundo informações dos funcionários do hotel, as diárias normais variam, na verdade, de R$ 290 – no quarto simples – a R$ 330, para o casal. Os hotéis Lagos Copa e Colonial, igualmente consultados, também têm praticado descontos.

O problema, explica Gaudard, é que Macaé tornou-se uma espécie de cidade dormitório, ocupada por uma população itinerante que costuma voltar às cidades de origem nos fins de semana. A despeito de atrativos naturais como praias e áreas de proteção ambiental – como a única reserva de vegetação de restinga do mundo –, o município não encontra no turismo uma fonte das mais pródigas de recursos. Segundo o presidente da Associação Comercial, o desenvolvimento dessa atividade não só garantiria uma taxa de ocupação maior para os hotéis, bares e restaurantes da cidade, como também absorveria a maior parte da mão-de-obra que, por desqualificação, se vê alijada da indústria petrolífera.

Na cidade, há imóveis de dois quartos cujos aluguéis variam de R$ 1,2 mil a R$ 6 mil em bairros de classe média e classe média alta de Macaé. Mesmo na favela Nova Holanda, cujas ruas foram percorridas pela reportagem, foi possível encontrar moradias de um quarto cujo aluguel (R$ 350) mensal equivale ao de um conjugado no Catete, bairro da Zona Sul do Rio – caracterizada igualmente pela força da especulação imobiliária.

Proprietário da Darlan Imóveis, o corretor Darlan Pinheiro atribui a especulação ao repentino crescimento da cidade, que estimulou uma demanda desenfreada na região. Com uma taxa de ocupação na faixa de 80%, o mercado imobiliário de Macaé, segundo Pinheiro, já começa a dar sinais de normalização. A construção de novos imóveis, segundo ele, começa a contribuir para um recuo nos valores praticados no mercado.

"Hoje existe praticamente a necessidade de uma nova Macaé dentro da Macaé atual, para suportar a especulação", afirma o corretor, ao afirmar que o preço do metro quadrado no município, hoje, supera em quase duas vezes o valor considerado por ele como razoável. "Hoje o metro quadrado é encontrado por até R$ 3 mil, enquanto o razoável seria de R$ 1,2 mil", compara.

Para o corretor, embora decorra necessariamente da relação entre oferta e demanda do mercado, a corrida imobiliária também teria recebido um generoso estímulo da própria prefeitura. Segundo ele, ao determinar o aumento do gabarito máximo dos imóveis em bairros como Imbetiba (de três para 14 andares), a administração municipal acabou por fomentar a especulação no local.

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