O aumento do rigor com que o governo federal pretende tratar as questões ambientais e de segurança nas atividades de exploração e produção de petróleo não afeta os planos da Shell para o país, onde completará 100 anos de atuação em 2013, sendo dez anos na área de exploração e produção. Animada com um resultado 6% a 7% acima do esperado no volume produzido em 2011 nas áreas que opera na bacia de Campos, a companhia anglo-holandesa diz estar preparada para qualquer nova exigência e planeja aumentar sua atuação em campos brasileiros.
"Qualquer que seja a exigência, nós fazemos", disse o vice-presidente executivo da empresa para águas profundas nas Américas, John Hollowell. "Estou muito confortável sobre a Shell atender às exigências regulatórias". Segundo ele, a petroleira tem um padrão global de perfuração, cujas regras internas superam a maioria das exigências dos países em que ela atua.
De passagem pelo Brasil, onde participou de um encontro interno da Shell, Hollowell afirmou que ainda é cedo para saber o impacto que as novas exigências podem causar no custo de produção de petróleo e gás natural no Brasil. "Temos que esperar para ver o que pode acontecer. Teremos de avaliar o que são os requisitos adicionais e quanto eles irão custar".
O vice-presidente executivo não comentou sobre o vazamento de óleo no campo de Frade, na bacia de Campos, operado pela Chevron. Ele, porém, disse que as autoridades brasileiras e as petroleiras devem tirar ensinamentos do episódio. "O que está acontecendo [em Frade] está sendo observado por todos nós, não só no Brasil, pode ter certeza".
Os campos operados pela Shell no Brasil produziram em janeiro 79,7 mil barris/dia de petróleo e 86,4 mil barris de óleo equivalente (BOE) diários. Desse total, coube à anglo-holandesa 47,6 mil barris/dia de óleo e 51,7 mil BOE/dia. A companhia é operadora nos campos de Bijupirá e Salema (com 80% de participação) e no Parque das Conchas (com 50%), todos eles na bacia de Campos.
A petroleira aposta agora no desenvolvimento da segunda fase do Parque das Conchas, no BC-10. "É uma área onde estamos utilizando as tecnologias mais modernas do mundo. E isso tem contribuído para ultrapassarmos a nossa meta", ressaltou Hollowell.
A companhia também segue com as atividades de sísmica em cinco blocos terrestres que opera na bacia de São Francisco, em Minas Gerais, onde a expectativa é encontrar gás natural. A empresa ainda vai esperar os primeiros resultados da exploração no local para decidir como monetizar o insumo, caso seja bem-sucedida na área. "Não podemos decidir em cima de expectativas. Podemos não encontrar nada, como podemos encontrar só um pouco de gás, ou podemos encontrar muito gás", afirmou o presidente da Shell no Brasil, André Araujo.
Embora tenha vendido alguns ativos no Brasil no ano passado, inclusive na área de pré-sal na bacia de Santos, a Shell planeja aumentar sua atuação no país. A companhia aguarda o lançamento da 11ª rodada de licitações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), ainda sem data prevista, para avaliar as áreas que serão ofertadas e definir a estratégia de participação. Enquanto isso, a empresa olha por oportunidades de aquisição de blocos já licitados, mas não revela nenhum potencial ativo.
Hollowell sabe que será um desafio atender à exigência de conteúdo local de bens e serviços com o "boom" previsto para a indústria do petróleo no Brasil nos próximos anos, principalmente por conta das encomendas da Petrobras. "É um desafio. Mas a indústria está investindo no crescimento do conteúdo local. Queremos saber do que a indústria precisa, para sermos pró-ativos. Formamos um grupo para acompanhar essa questão e estimular os fornecedores", explicou.
Com relação ao BC-10, onde o índice de nacionalização é de 35%, não havia limite mínimo de conteúdo local. O bloco é da rodada zero da ANP, de 1998. Já nos blocos na bacia de São Francisco, o índice de nacionalização atual é de 82%, acima do mínimo de 70% para a fase de exploração ofertado pela companhia na 10ª Rodada da ANP, em 2008.