Valor Econômico
A Companhia Siderúrgica do Pará (Cosipar), produtora de ferro-gusa sediada em Marabá (PA), tenta uma operação de recomposição de caixa, afetado pela situação crítica desse setor, para voltar a produzir. Luiz Guilherme Monteiro, diretor financeiro da empresa, esteve a semana passada em Londres contatando bancos para retomar linhas de comércio exterior vencidas no fim de 2008 e início de 2009, que não foram renovadas devido à crise financeira mundial.
O caso da Cosipar é apenas um exemplo da crise profunda de demanda enfrentada pelos produtores de ferro-gusa no país, em grande parte dependentes de vendas ao exterior. No principal polo, Minas Gerais, que responde por 60%, o índice de ocupação dos fornos está em torno de 20%. No polo paraense, liderado por Marabá, das 11 empresas oito estão paradas, duas operando a meia carga e apenas uma em situação quase normal. De seus nove mil empregados no início da crise, seis mil foram demitidos.
Os novos contratos de venda são raros, relata Ana Pingarilho, secretaria executiva do Sindiferpa, entidade que representa os produtores do Pará. Em abril, as siderúrgicas de gusa locais não exportaram nada. Em maio, o volume ficou pouco acima de 12 mil toneladas, menos de 10% dos bons tempos.
Resultante da fusão de minério de ferro e carvão (a maior parte de origem vegetal) em altos-fornos, o ferro-gusa é usado como matéria-prima na fabricação de aço em miniusinas, de fornos elétricos, como as de Gerdau, Votorantim e antiga Belgo. O produto entra como parte menor na mistura com sucata de ferro e aço.
O diretor da Cosipar afirmou que a situação só não é pior porque ainda conta com com contratos de longo prazo. A empresa ficou desde março sem capital de giro. Com isso, foi forçada a paralisar a unidade (Usipar) de Barcarena (PA), e pôr a de Marabá para operar com 50% da capacidade.
"Estamos trabalhando em novos contratos de longo prazo para o mercado americano e o preço até deu uma melhorada. Ouvimos falar em valores acima de US$ 280 a tonelada, mas hoje os navios estão saindo com o produto na faixa de US$ 250 a US$ 260", disse Monteiro. Um ano atrás, a tonelada do produto chegou a valer mais de US$ 600. Ele espera melhora do mercado com aumentos das encomendas a partir deste trimestre, quando se prevê o fim da desestocagem nos consumidores.
O plano da Cosipar é retomar as linhas de crédito à exportação para reativar a usina de Barcarena, apta a fazer 200 mil toneladas por ano. Com um novo alto-forno, essa fábrica passaria a 500 mil toneladas. A expectativa é poder retomar esse plano no último trimestre do ano. Essa unidade é nova, movida a carvão mineral, ao contrário da de Marabá, que usa carvão vegetal.
Com a crise, a empresa começou a perder capital de giro. Como tinha de manter um mês de estoque de coque para suprir a fábrica, suspendeu a compra do insumo por falta de dinheiro. "Por isso, focamos nossa operação em Marabá, com capacidade anual de 400 mil toneladas. O carvão podíamos comprar diariamente, da mão para boca", disse Monteiro.
Para o executivo, o pior da crise já passou. "Atingimos o fundo do poço em março e abril: não tinha mercado e nem parâmetro de preço. Só a China comprava e como o frete subiu, para vender tínhamos de baixar o preço", relata. Quem não tinha pedido parou totalmente de produzir, afirmou. Até empresas capitalizadas - a Sidepar paralisou um dos três alto-fornos.
"No nosso caso, temos uma situação de venda que nos permite operar as duas usinas (elas têm capacidade total de 520 mil toneladas), mas nos falta capital de giro". No primeiro trimestre, a empresa embarcou 100 mil toneladas via sua trading America Metals. Em 2007, a trading chegou a transportar 1,5 milhão de toneladas para o exterior e, em 2008, 1 milhão de toneladas. Com a crise, os volumes negociados caíram drasticamente por falta de demanda dos clientes.
Segundo Monteiro, o setor no país deve exportar este ano próximo de 2 milhões de toneladas, cerca de 30% das 6,3 milhões de toneladas de 2008. "Acredito que a demanda externa ficará em 40% do que era em 2008 e não 80% como está hoje, pois os compradores ainda estão usando seus estoques". Para se ajustar, a Cosipar está realocando pessoas de Barcarena para Marabá. Antes da crise, o grupo chegou a ter 1 mil pessoas empregadas. "Fomos forçados a suspender o contrato de 600 pessoas".
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