Valor Econômico/Ag
A região de Santa Cruz de la Sierra, a mais rica da Bolívia, ameaça instituir um governo regional autônomo, culminando uma série de manifestações realizadas nas últimas semanas contra o presidente Carlos Mesa. Os protestos começaram após uma alta no preço dos combustíveis.
Fortemente dividida étnica e economicamente entre uma região montanhosa pobre (onde fica a capital, La Paz), na qual há forte presença de movimentos indígenas de extrema esquerda, e uma região de planície mais rica (onde fica Santa Cruz), na qual floresce o agronegócio e a exploração de gás natural, a Bolívia vive um risco latente de separatismo.
A parte mais próspera do país reclama de concessões do governo a grupos esquerdista (como o plebiscito sobre a política para o gás, no ano passado), que estariam afugentando o investimento externo e prejudicando a economia. Mas, ao mesmo tempo, busca manter seus privilégios econômicos, como o subsídio ao combustível, cujo fim implicaria maior custo a ser absorvido pelo setor exportador.
Na última sexta-feira, dezenas de milhares de pessoas participaram de uma passeata contra o governo no centro de Santa Cruz, para protestar contra o corte nos subsídios aos combustíveis. Ao menos 200 ativistas estão em greve de fome na cidade, e os principais prédios públicos foram ocupados. O aeroporto e as principais estradas de acesso a Santa Cruz chegaram a ser bloqueadas por manifestantes.
O movimento Centro Cívico Pró-Santa Cruz, liderado por políticos e empresários da região, promete declarar um governo autônomo, o que seria um desafio à ordem constitucional (na Bolívia, os governadores regionais são indicados pelo presidente).
Ao mesmo tempo, o movimento pede a realização de um plebiscito nacional para ampliar a autonomia das regiões no país e diz ter enviado uma petição ao Congresso, com 500 mil assinaturas.
Tanto o governo como o Congresso se dizem dispostos a negociar medidas que favoreçam a autonomia, mas rejeitam a criação de um novo governo regional.
Na sexta, o governo enviou tropas para proteger instalações de petróleo e gás nas proximidades de Santa Cruz, após os choques entre manifestantes e a polícia.
Em 2003, o presidente Gonzalo Sánchez de Lozada foi derrubado após uma onda de protestos no país. Seu vice, Mesa, assumiu.
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