Elas Programam, da Silvia Coelho, nasceu em sala de aula do SENAI e hoje alcança mais de 50 mil mulheres em todas as redes sociais
Redação TN Petróleo, Agência CNI de Notícias“Oportunidades estão surgindo, então o que a gente mais precisa é coragem”, acredita Silvia Coelho, criadora do movimento Elas Programam. A iniciativa surgiu em 2017 com o objetivo de aumentar a participação das mulheres no mercado de tecnologia - em 2020, elas eram apenas 37% dos profissionais do setor de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), segundo a Brasscom.
Formada em engenharia elétrica pela Universidade Federal do Pará, Silvia reconhece que esse chamado por “coragem” não é simples como pode parecer. São inúmeras barreiras internas e sociais. Ela lembra levantamento do LinkedIn de 2019 que mostrou que as mulheres sentem que devem cumprir 100% dos requisitos para se candidatar a uma vaga, enquanto, para os homens, bastam 60%.
“O maior problema é a autoconfiança. As mulheres questionam sua capacidade e têm insegurança de que não seja uma área para elas. Tem ainda o medo de que mercado não vai absorver e a falta de representatividade, estímulo e apoio”, completa.
Da sala do SENAI para a casa de milhares de mulheres
Diante da constatação de que, muitas vezes, elas não se sentiam acolhidas, em casa e no próprio ambiente de trabalho, Silvia decidiu criar um grupo no Facebook. O Elas Programam nasceu em novembro de 2017 em uma sala do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), enquanto ela fazia o curso de Desenvolvedor de Internet das Coisas (IoT) no SENAI Code Experience, do SENAI-SP.
“Nos primeiros dias tinha umas 200 mulheres. Eu vi que estava me ajudando, na questão de voltar ao mercado, e ajudando outras mulheres a ganharem confiança. As páginas cresceram de maneira orgânica e hoje são mais de 7 mil mulheres conectadas no grupo do Facebook e 20 mil no Instagram”, lembra a engenheira, que tem 11 mil seguidores no LinkedIn.
O retorno de Silvia à sala de aula e ao mercado de trabalho ocorreu depois de quase 10 anos fora. Diante de um dilema comum às mães, ela decidiu se dedicar aos filhos após o nascimento do caçula. Isso foi em 2008, com uma trajetória que já estava se consolidando: “Dez anos era como se eu tivesse ficado em uma cápsula do tempo, fiquei congelada. Muito mais nessa área, que evolui tão rápido. Fiz um bootcamp e vi a oportunidade do curso do SENAI”.
Ela conta que foi um processo seletivo bem concorrido para a formação de seis meses em Internet das coisas, tecnologia ainda não tão difundida, mas que a coloca na vanguarda. “Essa imersão foi importante para me reconectar com a tecnologia. Entrava às 8h e saía às 22h30 do SENAI, era minha segunda casa”.
Currículo e trajetória são inspiração
Essa história com o SENAI começa muito antes. Enquanto cursava o ensino médio, Silvia foi da primeira turma do curso técnico de eletrônica industrial do SENAI em Belém (PA) com mulheres. Eram apenas cinco meninas.
O currículo, de peso, carrega ainda um curso técnico de eletrotécnica na Escola Técnica Federal do Pará, hoje Instituto Federal, a graduação em engenharia elétrica e um mestrado em engenharia das telecomunicações na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) - “quando o meu caminho cruzou com a tecnologia”. Era início dos anos 2000 e um professor já previa: “no fim, meus engenheiros e engenheiras com mestrado vão virar programadores”.
Ao se denominar “uma mulher de exatas” - a vasta atuação em pesquisa e desenvolvimento de software para celulares inclui um treinamento na LG-Coreia do Sul -, ela diz que não se sentia minoria ou não pertencente. “Mas quando voltei e comecei a participar do movimento, vi que havia muitas dores. Despertou que não era assim para outras mulheres, há dificuldades em sala de aula e no ambiente de trabalho”.
O futuro é promissor para elas, aponta o SENAI. Estima-se que, nos próximos 10 anos, o setor de software e tecnologia da informação deverá empregar 2 milhões de pessoas, sendo 203,6 mil vagas para programadores. Para contornar as barreiras, Silvia e a rede de mulheres que ela mobiliza apostam na conexão de talentos femininos, inclusive com empresas e iniciativas que colaboram para um mercado mais igualitário.
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