Valor Econômico
O primeiro trimestre de 2009 desponta como o fundo do poço da siderurgia brasileira, avalia um consultor do setor. A esperada recuperação não veio. Nos cálculos do especialista, as usinas nacionais devem produzir no período, num cenário mais otimista, com ligeira recuperação de vendas em março, um volume máximo de 4,8 a 5 milhões de toneladas de aço bruto, que representa queda na faiixa de 44 em relação às 8,6 milhões de toneladas um ano atrás. A recente convocação de novos turnos de trabalhadores pela indústria automobilística é “um bom sinal” para a indústria do aço, mas não é suficiente para sua recuperação, dado o nível atual de 50% de ociosidade da siderurgia, o mais baixo desde 1992, alerta a fonte.
Em janeiro, foram produzidas 1,6 milhão de toneladas de aço bruto, 46% abaixo de igual período de 2008. Para fevereiro, a expectativa é o mesmo volume e para março, algo entre 1,6 e 1,9 milhão de toneladas caso a indústria automobilística e outros setores da economia retomem a atividade, como está sendo previsto por economistas de bancos e consultorias. Esta performance é bastante negativa, na ótica da fonte consultada pelo Valor. O segundo trimestre pode ser semelhante ao primeiro com poucas probabilidades de “saída do poço”. Alguma melhora pode acontecer no segundo semestre em resposta às ações do governo, como investimentos no PAC e isenção fiscal para alguns setores.
Para o especialista, caso se confirme um cenário de investimento (formação bruta de capital fixo) negativo, não haverá aumento de consumo de aço no país. “Quem segura a siderurgia é o investimento, ou seja, a construção civil, a indústria automotiva e a fabricação de bens de capital. O resto ajuda, mas não segura”, diz. No seu cenário macroeconômico, o PIB do país deve crescer 1% este ano, o que já indica pouca possibilidade de aquecimento nas vendas de aço. “Quando o PIB sobe, o aço dispara, e quando retrai, o aço retrai também.” Mesmo os investimentos na área de petróleo e gás, como a necessidade da chapa grossa para fazer navios - o que vem levando a uma briga entre a Transpetro e a Usiminas - são importantes, mas não suficientes para garantir sozinhos a engorda da carteira de pedidos da siderúrgicas do país.
Se não houver melhora na demanda por aço, a produção este ano pode situar-se na pior das hipóteses na faixa de 20 milhões de toneladas ou metade da capacidade instalada, de 41 milhões de toneladas de aço bruto por ano. Ou seja, se ficar na faixa de 1,6 milhão de toneladas ao mês. Se pular para 2,5 milhões de toneladas ou um pouco mais no segundo semestre, pode sinalizar uma produção anualizada próximo de 30 milhões de toneladas, o que já será “muito bom” na visão do especialista. “Se terminarmos dezembro com 80% de capacidade, será o melhor dos mundos.”
Ele acredita, porém, que mesmo neste quadro de paralisia, as siderúrgicas estão capitalizadas, mas não vão tirar investimentos do papel, a não ser os que já estão em fase bem adiantada, como a construção da Cia. Siderúrgica do Atlântico (CSA), a da usina da Votorantim , em Resende (RJ), e da planta de tubos da Vallourec-Sumitomo, que somam R$ 12 bilhões em investimentos. “O restante será adiado para dias melhores”.
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