Redação TN Petróleo, Agência Brasil
Após crescer 1,4% em maio, a produção industrial teve variação nula (0,0%) em junho. Apesar da estabilidade, três das quatro grandes categorias econômicas e a maior parte (14) das 26 atividades investigadas pela Pesquisa Industrial Mensal (PIM) registraram recuo na produção. No acumulado do primeiro semestre, a produção avançou 12,9%. Os dados foram divulgados hoje (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O gerente da pesquisa, André Macedo, destacou que em maio, após três meses de queda, houve uma volta ao campo positivo e a indústria igualou o patamar de antes da pandemia. No entanto, esse resultado não superou as perdas anteriores. “Com essa variação nula em junho, o setor permanece no patamar pré-crise, mas no resultado desse mês observa-se uma predominância de taxas negativas entre as atividades industriais”, afirmou.
Para o pesquisador, os efeitos da pandemia de covid-19, tanto no processo de produção como na economia, explicam o menor dinamismo do setor. “Há, no setor industrial, uma série de adversidades por conta da necessidade das medidas de restrição, como a redução do ritmo produtivo, a dificuldade de obtenção de matérias-primas e o aumento dos custos de produção”, disse.
Macedo acrescentou que, pelo lado da demanda, observando a economia como um todo, a alta taxa de desemprego influencia o resultado. “Há também uma taxa de desocupação alta, o que traz uma consequência para a massa de salários. São fatores que não são recentes, mas ajudam a explicar esse comportamento da produção industrial”, afirmou.
O setor de veículos automotores, reboques e carrocerias com a queda de 3,8%, foi o principal impacto negativo no mês, voltando a cair depois de registrar resultados positivos em abril (1,6%) e maio (0,3%). Segundo o pesquisador, essa atividade foi muito atingida pelos efeitos da pandemia, uma vez que várias montadoras estão fazendo paralisações em seus parques produtivos. “Isso explica não só o resultado negativo de junho, mas o movimento de perda mais importante que essa atividade vem mostrando nesse início de 2021.”
O setor de celulose, papel e produtos de papel, foi outro impacto negativo. A produção recuou 5,3% em junho. Essa foi a terceira queda consecutiva do setor, que acumula no período perda de 8,4%. “O principal produto nessa atividade é a celulose, que é uma matéria-prima. Em junho, especificamente, houve paralisação em uma unidade produtiva desse setor, o que explica a magnitude de perda que esse ramo industrial teve nesse mês”, disse.
A retração na produção do setor de produtos alimentícios ficou em 1,3% em junho. No mês anterior, tinha registrado crescimento de 2,9%. Nessa atividade, o açúcar provocou impacto significativo. “Alguns itens importantes que têm uma característica de volatilidade muito grande, como é o caso do açúcar, tiveram uma queda maior em junho. Isso pode ter uma relação mais direta com o clima mais seco, que afeta mais a safra e o processamento da cana-de-açúcar”, informou.
Impacto positivo
O principal impacto positivo em junho em relação a maio (4,1%) ficou com a atividade de produção, coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis. Em maio, a produção da atividade já tinha registrado alta de 2,7%. “São duas expansões em seguida, sobre o mês de abril, quando a atividade teve uma queda de 9,9%. É uma melhora de ritmo muito calcada nos derivados do petróleo, como óleo diesel, mas não repõe a perda recente que essa atividade teve”, ressaltou.
O pesquisador acrescentou que o setor está muito relacionado às consequências da pandemia. “Essa melhora recente também pode estar diretamente associada a um grau maior de flexibilização das medidas de isolamento, com maior número de pessoas vacinadas. Então, há uma tendência ao aumento de mobilidade e isso pode se traduzir em efeitos positivos dentro dessa atividade”, pontuou.
A pesquisa indicou que a expansão de 12,9% da produção industrial do país, no acumulado de janeiro a junho, atingiu as quatro categorias econômicas, como também em 21 das 26 atividades analisadas. Com o crescimento de 56,9% no período, a atividade de veículos automotores, reboques e carrocerias foi a maior influência no resultado. Máquinas e equipamentos (41,5%), metalurgia (26,3%) e produtos minerais não metálicos (31,3%), também representaram impactos positivos no indicador.
“Esse avanço acontece diante de uma base de comparação muito depreciada. No acumulado de janeiro a junho de 2020, há a perda de 10,9%. A magnitude de crescimento de dois dígitos está associada ao fato de que o setor industrial, por conta da pandemia de covid-19, mostrou perdas importantes naquele período.”
Comparação
Em relação a junho de 2020, o setor industrial avançou 12%. As principais influências foram em veículos automotores, reboques e carrocerias (81,5%), em metalurgia (47,7%) e em máquinas e equipamentos (52,5%). As quatro grandes categorias econômicas também tiveram taxas positivas. O destaque ficou com bens de capital (54,8%) e com bens de consumo duráveis (31,0%). Mesmo com a variação positiva, os bens intermediários (10,8%) e os bens de consumo semi e não duráveis (1,6%), ficaram abaixo da média da indústria.
De acordo com Macedo, em grande parte, as taxas altas se devem à baixa base de comparação, uma vez que, em junho do ano passado, várias unidades produtivas do país sentiam os efeitos do isolamento social para conter a pandemia de covid-19. “Em 2020, a economia e o setor industrial foram muito atingidos pelos efeitos da pandemia. A base de comparação baixa faz com que, nas comparações interanuais, os resultados sejam de crescimento alto e com espalhamento das taxas positivas pelas atividades”, analisou.
Pesquisa
Conforme o IBGE, desde a década de 1970, a PIM Brasil produz indicadores de curto prazo relacionados ao comportamento do produto real das indústrias extrativa e de transformação.
Em maio de 2014, começou a divulgação da nova série de índices mensais da produção industrial, elaborada após reformulação para atualizar a amostra de atividades, produtos e informantes. Foi criada uma estrutura de ponderação dos índices, com base em estatísticas industriais mais recentes para se integrar às necessidades de implantação da Série de Contas Nacionais - referência 2010, e adotadas as novas classificações de atividades e produtos usadas pelas demais pesquisas da indústria a partir de 2007, que são a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0) e a Lista de Produtos da Indústria (Prodlist-Indústria).
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