Enzimas e leveduras possibilitam a conversão eficiente de subprodutos do trigo em etanol; com o uso desses recursos, primeira usina de etanol de trigo do Brasil, localizada em Santiago (RS), iniciará suas operações em março.
Redação TN Petróleo/Assessoria CB BioenergiaCom o crescente movimento global em busca de alternativas energéticas mais sustentáveis aos combustíveis fósseis, o etanol se consolida como um biocombustível promissor, principalmente no Brasil. No entanto, tradicionalmente derivado da cana-de-açúcar, o etanol tem seu potencial limitado em regiões onde as condições climáticas dificultam o cultivo desse insumo. É nesse contexto que o trigo emerge como uma solução viável e inovadora, especialmente na Região Sul do país.
Essa alternativa envolve o aproveitamento de resíduos e subprodutos do cereal, que, após o processamento para a produção de alimentos, muitas vezes são subutilizados ou descartados. Amplamente utilizado na Europa, o etanol de trigo tem o potencial de diversificar a matriz energética sustentável do Brasil, aumentar a produção de biocombustíveis e promover uma economia circular, reduzindo o desperdício produtivo.
Ainda em fase inicial no Brasil, a primeira usina de etanol de trigo do país será inaugurada neste ano. Localizada em Santiago, no Rio Grande do Sul, o projeto é da CB Bioenergia, que investiu cerca de R$ 100 milhões na construção, em fase final e com o início das operações previsto para este mês de agosto. "Além de trazer novas finalidades para subprodutos na produção de energia renovável, a iniciativa provoca um impacto econômico significativo na geração de renda local, com a estimativa de 120 novos postos diretos e indiretos", afirma Cassio Bonotto, empresário que está à frente do projeto da CB Bioenergia.
Pesquisa e tecnologia
O processo de implementação para a produção de etanol de trigo é complexo e demanda um extenso período de preparação. No caso da usina de Santiago, a escolha da matéria-prima foi minuciosamente avaliada ao longo de três anos e meio. Durante esse período, mais de 150 variedades de trigo cultivadas no estado passaram por análises laboratoriais detalhadas, conduzidas em parceria com a IFF (NYSE: IFF), empresa pioneira no mercado de leveduras geneticamente adaptadas para biocombustíveis e que conta com extensa experiência em soluções biotecnológicas para produção de etanol de cereais ao redor do mundo.
De acordo com Bonotto, "a avaliação da matéria-prima e o investimento em tecnologia foram essenciais para assegurar a qualidade do processo de produção de etanol, garantindo que a usina, que contará com investimento contínuo de aproximadamente US$ 400 mil anuais em pesquisas e tecnologias, opere com eficiência e sustentabilidade".
Dentre as tecnologias que farão parte do processo da planta, o uso de biotecnologia desempenha um papel fundamental. "As enzimas contribuem para a redução da viscosidade do trigo, que poderia comprometer a qualidade e a eficiência da matéria-prima na produção de etanol", explica Mario Cacho, diretor de vendas da IFF. "As leveduras, por sua vez, garantem a flexibilidade do processo, permitindo o uso eficiente de diferentes tipos de trigo provenientes de diversas produções. Essa adaptabilidade é o que permite um dos diferenciais mais notáveis da aplicação das leveduras, que é o aumento do rendimento industrial do trigo no etanol em até 4,5%", completa ele.
Considerando a expectativa de produção anual da usina de Santiago, com potencial de 34 milhões de litros de etanol hidratado, essa tecnologia pode adicionar aproximadamente 1,5 milhão de litros ao total, resultando em um aumento de quase R$ 4 milhões na receita anual.
Apenas o começo
A usina de etanol de trigo em Santiago se destaca pela inovação tecnológica e pelo compromisso com a sustentabilidade. Operando em um circuito fechado, a planta assegura que nenhum subproduto seja desperdiçado. "O álcool neutro, um dos subprodutos do processo de produção, é utilizado na perfumaria e na fabricação de bebidas. O resíduo sólido pode ser empregado na produção de pratos biodegradáveis, enquanto o líquido resultante do processo serve como adubo para as fazendas da região. Além disso haverá a purificação do CO2 gerado para adequar aos padrões alimentícios e ser utilizado no mercado de bebidas", explica Wilson de Oliveira Ribeiro Junior, gerente da planta na CB Bioenergia.
O projeto também visa contribuir com o objetivo maior de tornar o consumo de etanol mais acessível no Rio Grande do Sul, onde, atualmente, o combustível renovável é mais caro que a gasolina, em grande parte devido aos custos de distribuição e à necessidade de importação de outros estados, como São Paulo e Paraná. Assim, os investimentos da usina da CB Bioenergia também incluem um aporte adicional de R$ 20 milhões para a construção de um posto de combustível na cidade, tendo em vista a distribuição do etanol de trigo produzido localmente.
A usina está projetada para iniciar suas operações com uma capacidade de produção entre 10 e 12 milhões de litros de etanol hidratado por ano. Contudo, os planos de expansão são ambiciosos: a meta é atingir entre 45 e 50 milhões de litros anuais de etanol anidro anuais até 2027, o que exigirá um investimento adicional de até R$ 500 milhões. "Nós já vislumbramos o futuro. Com o crescimento e a expansão da indústria de etanol, será possível produzir esse biocombustível a partir de outros cereais, ampliando cada vez mais nossa capacidade e diversificando as alternativas de geração de energia renovável e sustentável," conclui Cassio Bonotto.
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