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Fomentar o avanço de tecnologias capazes de produzir em larga escala biocombustíveis feitos com biomassa lignocelulósica – representada essencialmente pelas frações vegetais que não servem de alimento humano, como a celulose e a lignina – é o objetivo de uma chamada de propostas anunciada recentemente pela FAPESP em parceria com a Comissão Europeia, o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Para esclarecer eventuais dúvidas de pesquisadores brasileiros e europeus interessados em submeter projetos colaborativos e identificar pontos de sinergia a serem explorados pelos centros de pesquisa, foi realizado ontem (08/12), na sede da FAPESP, o evento “Brazil-EU Workshop: Coordinated Call on Advanced Lignocellulosic Biofuels”.
Durante a abertura, Piero Venturi, chefe do Setor de Ciência, Tecnologia e Inovação da União Europeia (UE) no Brasil, explicou que a chamada de propostas foi lançada no âmbito do Horizon 2020, o programa da União Europeia para Pesquisa e Inovação que teve início em 2014 e prevê, ao todo, investimentos de € 80 bilhões ao longo de sete anos.
“Nos dois primeiros anos do programa tivemos diversas chamadas na área de bioenergia e aprendemos algumas lições. Entendemos que é preciso trabalhar mais com nossos parceiros por meio de colaborações internacionais”, disse Venturi.
“O Horizon 2020 está aberto para pesquisadores de todo o mundo e FAPESP assinou um acordo com a União Europeia para financiar os pesquisadores paulistas incluídos nas propostas selecionadas no âmbito desse programa. Isso é muito positivo, pois temos a possibilidade de dar continuidade ao trabalho conjunto dos europeus com os paulistas”, ressaltou Venturi.
Ainda durante a abertura, o coordenador-geral de Tecnologias Setoriais do MCTI, Eduardo Soriano, disse que a chamada conjunta representa uma boa oportunidade de fomentar os laços entre o Brasil e a União Europeia e de desenvolver novas tecnologias para biocombustíveis avançados.
“Biocombustíveis é uma boa maneira de reduzir emissões e de produzir riqueza no Brasil. Esta é a primeira oportunidade e, se tivermos bons resultados, talvez tenhamos outra chamada”, disse Soriano.
O diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, apresentou as principais diretrizes e condições estabelecidas para a submissão de propostas, que serão recebidas entre o dia 11 de maio até 8 de setembro de 2016. A chamada de proposta foi anunciada pelo diretor científico da Fundação no dia 17 de novembro, na FAPESP, durante palestra de Carlos Moedas, comissário de Pesquisa, Ciência e Inovação da União Europeia, sobre parcerias estratégicas entre o Brasil e a União Europeia em ciência e inovação abertas.
Conforme salientou Brito Cruz, o projeto deve contemplar pelo menos um dos três desafios propostos na chamada: “Gaseificação de bagaço para produção de gás de síntese e combustíveis líquidos avançados, incluindo biocombustíveis para a aviação”; “Pesquisa aplicada à logística de produção de biomassa e pesquisa aplicada para a diversificação de matéria-prima para biocombustíveis avançados”; e “Desenvolvimento de novas tecnologias de fermentação e de separação para biocombustíveis líquidos avançados e pesquisa aplicada para aumentar a eficiência energética de processos de biocombustíveis avançados”.
“Esta é uma chamada coordenada de propostas. São duas chamadas simultâneas, uma na Europa e outra aqui no Brasil. Agências na Europa e aqui no Brasil vão receber as propostas separadamente e, numa fase inicial, analisá-las separadamente. Posteriormente, essas análises serão convergidas. Somente serão financiados projetos aprovados por ambos os lados”, explicou Brito Cruz.
Ainda segundo Brito Cruz, as propostas apresentadas pelos times europeus e brasileiros também devem estar alinhadas, ter a mesma data de início, e a mesma duração, de até cinco anos. “Os dois times devem deixar claro como os objetivos da proposta apresentada na Europa se relacionam com os objetivos da proposta apresentada no Brasil e, principalmente, como o esforço conjunto permitirá alcançar resultados melhores do que seria possível separadamente”, acrescentou.
No caso das propostas submetidas no Brasil, é necessário que um dos pesquisadores principais seja do Estado de São Paulo e que outros dois pesquisadores principais sejam de estados diferentes, apoiados pelas respectivas fundações de amparo à pesquisa participantes da chamada. Também é obrigatória a adesão de pelo menos uma empresa no projeto, comprometida a financiar 50% dos custos de pesquisa do lado brasileiro.
Segundo informou Brito Cruz, os projetos serão apoiados nos moldes do Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (PITE), da FAPESP.
A Comissão Europeia investirá de € 3 milhões a € 5 milhões e haverá uma contrapartida equivalente em esforço de pesquisa no lado brasileiro. Para as propostas do lado brasileiro se requer a participação de empresas como co-financiadoras.
“O essencial é que haja um esforço de pesquisa comparável dos dois lados, europeu e brasileiro, mesmo que os custos em Reais sejam menores”, afirmou Brito Cruz.
Pesquisa aplicada
Por teleconferência, a oficial de projetos da Comissão Europeia, Maria Georgiadou, ressaltou, desde Bruxelas, na Bélgica, que há interesse em que as pesquisas explorem diferentes fontes de biomassa para geração de biocombustíveis, incluindo os resíduos sólidos urbanos, sendo vetadas apenas fontes que também servem de alimento para seres humanos, como amido do milho, a sacarose da cana-de-açúcar ou o óleo de soja.
Georgiadou também ressaltou que as pesquisas devem ter caráter aplicado e fazer avançar as novas tecnologias desde o estágio de prova de conceito e validação em laboratório para a fase de demonstração e aumento de escala.
Na avaliação de Rubens Maciel Filho, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), há uma diversidade de biomassas que podem ser trabalhadas.
“Com as matérias-primas de interesse para Brasil e Europa são diferentes, precisamos de processos que sejam flexíveis, que permitam trabalhar com grande variedade de biomassas. Muitas dessas tecnologias que podem ser trabalhadas foram desenvolvidas e avaliadas em escala de laboratório, quando se tem um controle melhor das coisas. A chamada de propostas deixa claro que precisamos avançar em vários pontos de modo a tornar tecnologicamente possível implementar soluções numa escala maior”, disse.
Glaucia Mendes Souza, professora da Universidade de São Paulo (USP) e membro da coordenação do BIOEN, ressaltou que a chamada vai muito além do etanol de segunda geração, produzido a partir do bagaço da cana.
“Visa desenvolver combustíveis para aviação e também o gás de síntese, capaz de substituir vários produtos da indústria petroquímica, inclusive gás natural renovável. A gaseificação é uma tecnologia que ainda não funciona em larga escala em nenhum lugar do mundo e é um dos gargalos a serem solucionados”, disse.
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