Infraestrutura

Problemas históricos do país podem ser transformados em investimentos

Concessões são melhor caminho para elevar eficiência e produtividade da malha de transportes nacional, mas é preciso reduzir riscos regulatórios.

Agência CNI de Notícias/Redação
09/06/2016 16:54
Visualizações: 965 (0) (0) (0) (0)

A distância pode ser longa, mas se o caminho percorrido por uma carga for sobre uma malha de transporte integrada e de boa qualidade, a viagem será mais rápida e o custo desse produto para o consumidor, menor. Planejar e consolidar uma infraestrutura moderna e eficiente exige planejamento e visão de longo prazo, mas pode se tornar realidade no futuro mais próximo com uma maior participação da iniciativa privada, seja executando obras ou como gestora de estradas, ferrovias, portos e aeroportos estratégicos para o Brasil.

O caminho para reduzir a recuperação do déficit da infraestrutura de transportes nacional é a ampliação do programa de concessões e parcerias público-privadas (PPPs). Nos últimos anos, houve importantes avanços nessa agenda, mas a diversificação da carteira de projetos e as modalidades de participação das empresas precisa se tornar uma política perene. Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), só assim o nível de investimento será elevado para que a oferta de infraestrutura se adeque ao tamanho da economia brasileira.

“A parceria entre o poder público e o setor privado é importante para elevar o nível de investimento e para que os recursos disponíveis sejam alocados onde há maior carência, otimizando os ganhos para a economia como um todo”, argumenta Wagner Cardoso, gerente-executivo de Infraestrutura da CNI. Para destravar um novo ciclo de expansão da malha de transporte e dos serviços logísticos, no entanto, exige regras e modelos claros e estáveis, para atrair o investidor, seja nacional ou estrangeiro.

MODELO – Um exemplo positivo são as concessões rodoviárias. Entre 2013 e 2015, sete trechos de estradas federais foram leiloados à iniciativa privada, com extensão de 4,9 mil quilômetros e investimentos previstos de R$ 46 bilhões. Outros quatro trechos estão em estudos para serem concedidos no mesmo modelo, mas o ritmo poderia ser acelerado contemplando-se diferentes modalidades de concessão além do modelo “puro”, em que o gestor privado investe em manutenção e adequação e obtém o retorno pela cobrança de pedágio.

Uma alternativa seria a concessão administrativa. Em trechos onde não caberia a cobrança de pedágio, por conta do baixo volume de tráfego, por exemplo, a rodovia seria administrada por uma concessionária, que ficaria encarregada de aplicar e gerir recursos públicos destinados para aquele contrato, por um prazo de até 35 anos. “A modalidade permite que o dinheiro público seja aplicado de forma mais rápida e eficiente, sem que tenha de fazer uma licitação para cada serviço específico”, explica Cardoso.

Em outras palavras, não será preciso fazer uma licitação a cada operação tapa-buraco. Isso já estará previsto num contrato de longo prazo. “Manter a qualidade é mais importante do que constituir novas rodovias. Há um foco em qualidade e continuidade do serviço, mais do que na expansão da malha. Hoje há um contrato e o reparo é feito, mas o poder público não dá sequência”, afirma o conselheiro e pesquisador do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes), Eduardo Augusto Guimarães.

DÉFICIT HISTÓRICO – Os buracos nas estradas e filas de navios nos portos são os sinais visíveis de que, enquanto o Brasil cresceu, a infraestrutura perdeu o compasso. Em 2014, por exemplo, apenas 2,3% do PIB foi aplicado em transportes, energia e saneamento. No Chile, por exemplo, o patamar foi de 5,1%. “Quando vemos comparações internacionais, estamos muito mal. O Brasil deveria investir o dobro em relação ao PIB por pelo menos dez anos só para recuperar o déficit”, analisa Armando Castelar Pinheiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

Por outro lado, ressalta, como os gargalos são muitos, há possibilidade de identificar um número significativo de projetos interessantes para investidores. O número de projetos para terminais de uso privativo (TUPs) no setor portuário, autorizados após a aprovação da Nova Lei dos Portos, em 2013, são evidência da demanda reprimida por infraestrutura. Até abril passado, 51 novos TUPs foram autorizados pelo governo federal, com investimentos previstos de R$ 13 bilhões, mostrando a disposição da iniciativa privada

Segundo Cardoso, no entanto, a modernização do setor portuário só será consolidada com a privatização das Companhias Docas, empresas estatais responsáveis pela administração dos portos públicos organizados. Com baixa capacidade de gestão e sob influências políticas, as Cias. Docas têm falhado em estabelecer padrões de eficiência e qualidade compatíveis com a operação dos portos internacionais.

REDUÇÃO DE RISCOS - Para que os projetos viabilizem de forma geral, no entanto, há consenso entre os especialistas que é preciso estabelecer marcos regulatórios claros e superar o velho problema da baixa qualidade dos projetos básicos. Pinheiro lembra que um projeto ruim apresentará uma série de problemas na execução da obra, culminando na elevação dos custos e prejudicando o fluxo de caixa das empresas durante toda a duração do projeto.

O aprimoramento dos mecanismos de financiamento ao setor privado, a desistência de se arbitrar taxas de retorno em projetos representariam a eliminação de importantes fatores de risco ao investidor. A retirada da participação obrigatória da Infraero nos consórcios que serão formados para a próxima rodada de leilão de aeroportos já é um avanço significativo. Removidos os obstáculos, os investimentos aparecerão. “Estamos num quadro em que o setor público não tem capacidade de investir. Mais do que nunca é preciso encontrar a saída com o setor privado”, sentencia Guimarães.

PRÓXIMA REPORTAGEM - A última reportagem da série Modernização da infraestrutura será publicada na próxima quinta-feira (16) e terá como tema os desafios e oportunidades da oferta de gás natural no Brasil.

 

Mais Lidas De Hoje
veja Também
Gás Natural
Compagas, Necta e Sulgás abrem chamada pública conjunta ...
23/06/25
SLB
SLB aposta em crescimento no Nordeste e investe em digit...
23/06/25
Evento
Copa Energia participa do Energy Summit 2025 e destaca c...
23/06/25
Internacional
Conflito no Oriente Médio pode elevar os custos de produ...
23/06/25
COP30
IBP realiza segundo evento Pré-COP30 em Belém
23/06/25
Rio de Janeiro
Innovarpel 2025: especialista fala sobre nova era da cib...
23/06/25
Copastur
Copastur destaca estratégia de expansão no Nordeste e fo...
23/06/25
Rio de Janeiro
Wilson Sons inicia operação com energia 100% renovável n...
23/06/25
Etanol
Anidro sobe 0,39% e hidratado registra alta de 1,15% na ...
23/06/25
Pessoas
Cristian Manzur é o novo diretor de QHSE do Bureau Verit...
23/06/25
Firjan
Indústria Criativa impulsiona economia e já representa R...
20/06/25
IBP
Leilão da 5ª Oferta Permanente tem bônus recorde
20/06/25
Tenaris
Tenaris aposta no onshore nordestino com soluções logíst...
20/06/25
Comemoração
Avanços da Inteligência Artificial no setor de petróleo ...
20/06/25
ETEP
ETEP destaca tradição, certificações internacionais e fo...
20/06/25
PPSA
Com 6,36 milhões de m³ por dia em abril, produção de gás...
20/06/25
Treinamento
OneSubsea e Senai Paraná lançam nova edição de programa ...
20/06/25
RenovaBio
AGU garante aplicação de metas de descarbonização defini...
18/06/25
Sebrae Amapá
Josiel Alcolumbre defende qualificação de mão de obra no...
18/06/25
Logística
Nova pista do Aeroporto de Macaé é inaugurada como case ...
18/06/25
Oferta Permanente
Oferta Permanente de Concessão (OPC): 5º Ciclo tem recor...
18/06/25
VEJA MAIS
Newsletter TN

Fale Conosco

Utilizamos cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site. Se você continuar a usar este site, assumiremos que você concorda com a nossa política de privacidade, termos de uso e cookies.

22