Investimento

Polo Naval turbina a economia de Rio Grande

O desenvolvimento da construção naval no estado fez com que diversos investimentos de outras atividades econômicas voltassem seus olhos para Rio Grande. A previsão de receita total do município para 2012 é de cerca de R$ 340,4 milhões e de investi

Jornal do Commercio
09/04/2012 11:10
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O entusiasmo com a expansão da cidade é tamanho que brincadeiras na internet espalham previsões como: duplicação da rodovia BR-392 será inaugurada com a presença dos presidentes Dilma e Obama, movimentações na Boverg ultrapassam as da Bovespa e Arena Aldo Dapuzzo (estádio do São Paulo de Rio Grande) sediará jogos da Copa de 2014 no Rio Grande do Sul. Essas projeções dificilmente se tornarão realidade, mas demonstram a euforia com os empreendimentos que começam a tomar forma.

Um dos investidores que percebeu essas oportunidades foi Francisco Novelletto, dono da rede de lojas Multisom e também conhecido por ser o presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF). O dirigente decidiu, com o empresário Vilson Roncatto, presidente do Veranópolis Esporte Clube, criar a incorporadora Novelletto-Roncatto e apostar na construção civil.

No município da Metade Sul gaúcha, a empresa está entregando neste primeiro semestre um edifício residencial com 60 apartamentos - todos vendidos -, e realiza outro com 110 unidades que deverá ser concluído em 2013. Também começa a construção de um edifício comercial, com 180 salas. “O grande lançamento será na praia do Cassino, um residencial estilo Punta Del Leste, que deverá ficar pronto em cerca de 24 meses”, salienta o empresário. Para os 132 apartamentos ofertados há cerca de 400 reservas. Unidades de três quartos desse último complexo custarão na faixa de R$ 400 mil a R$ 450 mil. Todos os projetos desenvolvidos hoje pela Novelletto-Roncatto deverão absorver recursos de aproximadamente R$ 50 milhões.

Noveletto recorda que estava acompanhando o potencial da cidade e esperava que os investimentos na construção naval impulsionassem a economia da região. “Quando eu falei em Rio Grande para o Roncatto, ele me taxou de doido. Hoje está apaixonado pela ideia”, afirma o dirigente. Sobre outro assunto conhecido por Noveletto, o futebol, ele acredita que os clubes da região não estão sabendo explorar o desenvolvimento econômico. “Na hora em que eles conseguirem isso, poderão ser mais uma força do futebol gaúcho”, prevê.


Prefeitura projeta salto de investimentos no município

A previsão de receita total do município para 2012 é de cerca de R$ 340,4 milhões e de investimentos em torno de R$ 64,6 milhões, de acordo com dados da prefeitura de Rio Grande. A área que receberá o maior aporte de recursos será a da habitação, com cerca de R$ 17,3 milhões. Confirmando essa previsão, o percentual de investimentos em 2012 em relação à receita passa para 18,99 %, contra 7,21% em 2010 e 10,89% no ano passado. Segundo o Índice Firjan de Gestão Fiscal (IFGF), que avalia a qualidade de gestão fiscal dos municípios brasileiros, em 2010, Rio Grande apresentou boa gestão fiscal (IFGF entre 0,6 e 0,8 pontos).

O município faz ótima administração dos restos a pagar, possui baixos custos com juros e amortizações e tem geração de receitas próprias satisfatória. Contudo, Rio Grande não alçou melhores posições no ranking nacional do IFGF (1.457º no País) devido aos elevados gastos com pessoal e, sobretudo, por causa do baixo nível de investimentos.

O prefeito de Rio Grande, Fábio Branco, aponta que fazer o desenvolvimento da cidade acompanhar de uma maneira racional o crescimento econômico da região é o principal desafio dos poderes públicos. “Queremos que esse momento seja duradouro e, para isso, temos que dar condições de infraestrutura, saúde, educação e capacitação profissional”, ressalta o dirigente. Ele acrescenta que a sustentabilidade virá da criação de outras cadeias produtivas a partir do polo naval, diversificando as atividades através das áreas de serviço, comércio, indústria pesqueira, agricultura, energia eólica etc.

Branco destaca que um projeto que apoiará esse desenvolvimento é o do parque tecnológico, conduzido através de uma parceria entre a prefeitura, governo do estado e a Universidade Federal do Rio Grande (Furg). A construção do empreendimento deverá ser finalizada no próximo ano. Um grupo de trabalho, coordenado pelo secretário de Assuntos Extraordinários, focado na área de desenvolvimento do município, Gilberto Pinho, discute as demandas e o planejamento futuro do município envolvendo mobilidade urbana, segurança pública e habitação, entre outros temas.


Preocupação com disponibilidade de mão de obra permanece

Apesar de a formação de profissionais do segmento da construção naval estar se intensificando na região de Rio Grande, empresas e poder público sabem que é preciso um constante investimento nessa ação para dar conta da demanda de projetos que estão previstos. Uma iniciativa que demonstra essa necessidade é o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), que na atual edição está oferecendo 1.192 vagas no Rio Grande do Sul para cursos profissionais gratuitos dentro da área de petróleo e gás.

Contudo, não é apenas essa medida do governo federal que conta com o apoio da Petrobras, que tem como objetivo capacitar pessoal da região. A Quip (primeira empresa a implementar uma plataforma no município de Rio Grande, a P-53, finalizada em 2008) também aposta no treinamento de trabalhadores locais. O diretor-geral da Quip, Miguelangelo C. Thomé, argumenta que a atividade é necessária, porque a Metade Sul gaúcha não tinha tradição dentro desse setor.

O executivo comenta que, ao final de 2011, cerca de 80% da mão de obra que a Quip utilizava em seus projetos em Rio Grande era proveniente do estado, sendo que em torno de 70% era oriunda das proximidades do município (quando da implantação da P-53, os números eram praticamente o inverso). Hoje, um dos focos da companhia está no treinamento de soldadores.

A expectativa de que novos estaleiros se instalem no Rio Grande do Sul é vista com bons olhos por Thomé, caso essas empresas dividam a responsabilidade de qualificação de trabalhadores. Entretanto, ele adverte que, se houver uma concorrência acirrada por profissionais já formados, pode ocorrer um desequilíbrio. “Pode chegar um retardatário no jogo, querer dar uma de esperto, e tentar contratar mão de obra que esteja empregada”, alerta.

O dirigente admite que a cultura da indústria de óleo e gás é “muito perversa”, tendo uma característica cíclica. “Uma hora há uma grande demanda e na outra dá uma parada”, detalha. A esperança é de que a exploração do pré-sal possa permitir ao Brasil certa estabilidade de trabalho nesse segmento. Thomé lembra que a Petrobras reafirmou a intenção dos planos de investimentos bilionários, o que impulsionará a cadeia do petróleo e gás no país pelos próximos dez anos, uma vez que a estatal prioriza o aproveitamento do conteúdo local.

No entanto, ele reitera que se muitos estaleiros forem constituídos, poderá haver dificuldades quanto à relação entre oferta e demanda mais adiante. O dirigente acrescenta que as empresas brasileiras não são ainda suficientemente competitivas para disputar encomendas internacionais com países que possuem legislações trabalhistas muito mais flexíveis.

Outra preocupação de Thomé é que o desenvolvimento social e da cidade acompanhe o crescimento econômico em Rio Grande. Ele salienta que é preciso o poder público investir em infraestrutura. “É aí onde está o gargalo”, indica o dirigente. Thomé antecipa que será preciso ter um bom planejamento habitacional na região para evitar, por exemplo, eventuais problemas como a favelização.


Quip investe para oferecer multiprojetos

Quando o diretor-geral da Quip, Miguelangelo C. Thomé, entrou na empresa em 2009, o conselho de acionistas deixou claro que a principal tarefa era passar a Quip de uma companhia “monoprojeto” para uma “multiprojetos”. “Havia a consciência de que as oportunidades apareceriam se fossemos competentes para aproveitá-las”, revela o executivo. Uma prova concreta de que esse objetivo mantém-se é a ampliação do canteiro da empresa em Rio Grande.

Em janeiro, iniciaram-se as obras de expansão do cais. A iniciativa está dividida em duas fases. A primeira, que foi acelerada para ser concluída antes de agosto, contempla o prolongamento do cais atual para poder trabalhar com uma segunda plataforma. A segunda etapa, prevista para 2013, implantará um novo cais, com investimento previsto de cerca de R$ 100 milhões.

A Quip trabalha nos projetos das plataformas P-55 e P-63 e ainda dá apoio de engenharia, de logística e de gestão aos projetos da P-58 e da P-62 (de responsabilidade de acionistas do grupo). Ao final de fevereiro, cerca de 4 mil pessoas estavam atuando nos empreendimentos. A chegada do casco da P-63, prevista para este ano, deverá implicar mais 500 a 600 postos de trabalho.


Diferentes sotaques invadem a cidade e movimentam negócios

A mudança de rumo da cidade com o estímulo da atividade de construção naval é claramente sentida pelos moradores de Rio Grande. “Escutamos diferentes sotaques de pessoas de vários estados”, comenta a proprietária do Restaurante e Lancheria Zito, Fátima Marques. Ela acrescenta que se percebe um grande fluxo de nordestinos e cariocas.

A empreendedora considera bom o progresso que a indústria naval tem gerado. “Mas tem que evitar que isso também traga problemas, como a violência”, alerta. Apesar de a vida no município ainda ser considerada tranquila, os habitantes mais antigos reclamam do aumento do trânsito de veículos e da valorização dos aluguéis.

Fátima relata que uma dificuldade enfrentada pelo setor de serviços para aproveitar a nova massa de consumidores que chegaram à cidade é a distância do polo naval do Centro. Mesmo assim, no seu restaurante, quando o pessoal de fora vai experimentar seus pratos, os mais pedidos são os frutos do mar. Ela adotou uma estratégia para que seu negócio não seja afetado por uma eventual sazonalidade das operações do polo. A receita, revela a empresária, é cativar um público fiel.
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