Economia

Plataformas puxam déficit mais elevado em serviços neste ano

Gastos com aluguel vindo de equipamentos aumentou 9%.

Valor Econômico
26/06/2014 17:21
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As plataformas de petróleo que o Brasil exportou no ano passado e ajudaram no superávit do comércio exterior de bens estão influenciando de forma negativa a balança de serviços do país neste ano. De janeiro a maio, o gasto com aluguel de equipamentos vindos do exterior aumentou 9%, elevando o déficit do país com o mundo. Isoladamente essa foi a despesa que mais cresceu em 2014. No conjunto da balança de serviços deste ano, o saldo negativo do Brasil com o exterior cresceu 3,4%, bem abaixo da alta de 14% nos mesmos meses de 2013 sobre 2012.
Apesar de a expansão do déficit estar em ritmo menor, especialistas afirmam que há uma razão desfavorável entre o crescimento da economia e a necessidade de importação de serviços.
Um descolamento entre o resultado do comércio de bens e serviços também acontece neste ano. Enquanto as importações de mercadorias caíram 2,9% entre janeiro e maio, o setor de serviços registrou crescimento de 1,6% nas importações, segundo dados divulgadas pelo Banco Central.
Jorge Arbache, professor da Universidade de Brasília, mostra em estudo que o país demanda de forma estrutural importações de serviços acima do crescimento da economia. Entre 1990 e 2013, cada ponto percentual de aumento do Produto Interno Bruto (PIB) foi seguido por crescimento de 1,25 ponto da importação de serviços. Por outro lado, a elasticidade entre aumento da atividade e exportações de serviços foi menor, de 1,11 ponto. "Essa distância indica o tamanho da dependência da economia por serviços para crescer e mostra uma situação problemática para as contas externas", afirma.
O déficit ao longo dos anos verificado no estudo é composto pela demanda por serviços externos que pouco agregam à atividade, como viagens, transportes e aluguel de equipamentos. Neste ano, no entanto, as três contas não estão com a mesma tendência. O saldo negativo em transportes recuou 5,8%. Os déficits com viagens e equipamentos avançaram 4,9% e 12%, respectivamente. Apenas em maio, o déficit na conta de equipamentos foi de US$ 1,7 bilhão, um quinto maior do que o registrado no mesmo mês do ano passado.
Arbache nota que hoje o Brasil é o país que possui maior número de equipamentos alugados no exterior para o setor de petróleo e gás. O incremento nos aluguéis neste ano também está relacionado, segundo o professor, com as sete plataformas exportadas pela Petrobras ano passado.
Procurada, a Petrobras não quis informar o quanto gastou neste ano com alugueis de sondas e plataformas. No balanço do primeiro trimestre da estatal, nos gastos com "arrendamentos mercantis operacionais", onde se declara o gasto da Petrobras com aluguéis no período, houve crescimento de 24,8% nos gastos em relação ao primeiro trimestre de 2013, para R$ 6,3 bilhões. A conta é composta por uma cesta maior de itens, como aluguéis de navios, embarcações de apoio, helicópteros, terrenos e edificações.
Outro fator negativo na visão do Arbache é que a maioria da importação de maquinário é voltada para produção de commodities. No setor de petróleo e gás, por exemplo, são alugados produtos de alto valor agregado para serem usados na produção de venda de produtos primários ao mercado externo.
"Há vantagens óbvias na produção e exportação de petróleo. Mas poderíamos usar mais esse tipo de importação no desenvolvimento das tecnologias e cadeias necessárias para que o setor avançasse e atingisse outras áreas", diz.
A diminuição no ritmo do déficit total da balança de serviços neste ano, por outro lado, foi causado principalmente pela depreciação cambial ocorrida entre os períodos, na visão de Felipe Salto, economista da Tendências. "O déficit não está se aprofundando rapidamente como ano passado por uma razão básica: os agentes estão reagindo ao incentivo do câmbio, que freia de certa forma as importações ao mesmo tempo em que os juros subiram", diz.
Na abertura dos gastos com viagem internacionais, no acumulado de 12 meses até maio, nota-se que o aumento do IOF cobrado sobre transações no exterior ajudou a frear um pouco os gastos no exterior com o cartão de crédito, aponta Rafael Bistafa, economista da Rosenberg & Associados. No entanto, a medida foi insuficiente para causar recuo nos gastos totais no setor.
"Em setembro, no acumulado, as despesas com cartões de crédito estavam em US$ 13,4 bilhões. Em abril, em US$ 12,9 bilhões. Mas como não houve recuo nos gastos totais, os dados indicam que o aumento do imposto serviu apenas para os turistas trocarem a forma de pagamento", diz Bistafa. Ele espera que em junho e julho a conta de viagens internacionais fique equilibrada em função da Copa. Arbache chama a atenção para a discrepância entre o dispêndio em viagens internacionais e o resultado das transações correntes, que teve déficit de US$ 81,3 bilhões em 2013. "Um país com a condição atual das contas externas não pode se dar ao luxo de gastar US$ 19 bilhões ao ano com viagens".
Segundo Arbache, a evolução dos gastos com serviços levou o Brasil, na comparação com o resto do mundo, a se tornar importador de peso no cenário global. O país tem o terceiro maior déficit em serviços no mundo e o segundo maior em proporção do PIB, atrás apenas da Noruega. "Se tudo ficar como agora, a tendência é que o aumento do PIB venha acompanhado pelo déficit em transações correntes causado por serviços. Até uma hora em que esse déficit vai começar a virar um empecilho para o crescimento", diz o professor.

As plataformas de petróleo que o Brasil exportou no ano passado e ajudaram no superávit do comércio exterior de bens estão influenciando de forma negativa a balança de serviços do país neste ano. De janeiro a maio, o gasto com aluguel de equipamentos vindos do exterior aumentou 9%, elevando o déficit do país com o mundo. Isoladamente essa foi a despesa que mais cresceu em 2014. No conjunto da balança de serviços deste ano, o saldo negativo do Brasil com o exterior cresceu 3,4%, bem abaixo da alta de 14% nos mesmos meses de 2013 sobre 2012.

Apesar de a expansão do déficit estar em ritmo menor, especialistas afirmam que há uma razão desfavorável entre o crescimento da economia e a necessidade de importação de serviços.

Um descolamento entre o resultado do comércio de bens e serviços também acontece neste ano. Enquanto as importações de mercadorias caíram 2,9% entre janeiro e maio, o setor de serviços registrou crescimento de 1,6% nas importações, segundo dados divulgadas pelo Banco Central.

Jorge Arbache, professor da Universidade de Brasília, mostra em estudo que o país demanda de forma estrutural importações de serviços acima do crescimento da economia. Entre 1990 e 2013, cada ponto percentual de aumento do Produto Interno Bruto (PIB) foi seguido por crescimento de 1,25 ponto da importação de serviços. Por outro lado, a elasticidade entre aumento da atividade e exportações de serviços foi menor, de 1,11 ponto. "Essa distância indica o tamanho da dependência da economia por serviços para crescer e mostra uma situação problemática para as contas externas", afirma.

O déficit ao longo dos anos verificado no estudo é composto pela demanda por serviços externos que pouco agregam à atividade, como viagens, transportes e aluguel de equipamentos. Neste ano, no entanto, as três contas não estão com a mesma tendência. O saldo negativo em transportes recuou 5,8%. Os déficits com viagens e equipamentos avançaram 4,9% e 12%, respectivamente. Apenas em maio, o déficit na conta de equipamentos foi de US$ 1,7 bilhão, um quinto maior do que o registrado no mesmo mês do ano passado.

Arbache nota que hoje o Brasil é o país que possui maior número de equipamentos alugados no exterior para o setor de petróleo e gás. O incremento nos aluguéis neste ano também está relacionado, segundo o professor, com as sete plataformas exportadas pela Petrobras ano passado.

Procurada, a Petrobras não quis informar o quanto gastou neste ano com alugueis de sondas e plataformas. No balanço do primeiro trimestre da estatal, nos gastos com "arrendamentos mercantis operacionais", onde se declara o gasto da Petrobras com aluguéis no período, houve crescimento de 24,8% nos gastos em relação ao primeiro trimestre de 2013, para R$ 6,3 bilhões. A conta é composta por uma cesta maior de itens, como aluguéis de navios, embarcações de apoio, helicópteros, terrenos e edificações.

Outro fator negativo na visão do Arbache é que a maioria da importação de maquinário é voltada para produção de commodities. No setor de petróleo e gás, por exemplo, são alugados produtos de alto valor agregado para serem usados na produção de venda de produtos primários ao mercado externo.

"Há vantagens óbvias na produção e exportação de petróleo. Mas poderíamos usar mais esse tipo de importação no desenvolvimento das tecnologias e cadeias necessárias para que o setor avançasse e atingisse outras áreas", diz.

A diminuição no ritmo do déficit total da balança de serviços neste ano, por outro lado, foi causado principalmente pela depreciação cambial ocorrida entre os períodos, na visão de Felipe Salto, economista da Tendências. "O déficit não está se aprofundando rapidamente como ano passado por uma razão básica: os agentes estão reagindo ao incentivo do câmbio, que freia de certa forma as importações ao mesmo tempo em que os juros subiram", diz.

Na abertura dos gastos com viagem internacionais, no acumulado de 12 meses até maio, nota-se que o aumento do IOF cobrado sobre transações no exterior ajudou a frear um pouco os gastos no exterior com o cartão de crédito, aponta Rafael Bistafa, economista da Rosenberg & Associados. No entanto, a medida foi insuficiente para causar recuo nos gastos totais no setor.

"Em setembro, no acumulado, as despesas com cartões de crédito estavam em US$ 13,4 bilhões. Em abril, em US$ 12,9 bilhões. Mas como não houve recuo nos gastos totais, os dados indicam que o aumento do imposto serviu apenas para os turistas trocarem a forma de pagamento", diz Bistafa. Ele espera que em junho e julho a conta de viagens internacionais fique equilibrada em função da Copa. Arbache chama a atenção para a discrepância entre o dispêndio em viagens internacionais e o resultado das transações correntes, que teve déficit de US$ 81,3 bilhões em 2013. "Um país com a condição atual das contas externas não pode se dar ao luxo de gastar US$ 19 bilhões ao ano com viagens".

Segundo Arbache, a evolução dos gastos com serviços levou o Brasil, na comparação com o resto do mundo, a se tornar importador de peso no cenário global. O país tem o terceiro maior déficit em serviços no mundo e o segundo maior em proporção do PIB, atrás apenas da Noruega. "Se tudo ficar como agora, a tendência é que o aumento do PIB venha acompanhado pelo déficit em transações correntes causado por serviços. Até uma hora em que esse déficit vai começar a virar um empecilho para o crescimento", diz o professor.

 

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