A queda nos preços internacionais do petróleo indica uma mudança na tendência do valor da commodity esperada pela Petrobras neste ano, em meio à crise global, e arrefeceu as pressões para um reajuste dos combustíveis no mercado brasileiro, avaliou o diretor financeiro da estatal, Almir Barbassa.
"A pressão sobre a necessidade de um aumento diminuiu. A lógica parece ser essa (não ter pressão para aumentar)...", disse Barbassa, comentando sobre a questão que mais tem pesado nos resultados da estatal.
A Petrobras, que sofreu no balanço do primeiro trimestre com a alta dos custos de importação de combustíveis combinada com a manutenção de preços no Brasil, acreditava em abril que o petróleo Brent se sustentaria em um nível perto de US$ 120 o barril até o final do ano, um novo patamar, segundo chegou a afirmar a presidente da estatal, Maria das Graças Foster. E, de acordo com ela, isso levaria a um reajuste de preço dos combustíveis no Brasil ainda este ano. Mas a situação mudou.
"Essa era a leitura naquele momento... estava indicando esse como o preço que deveria prevalecer. Mas o preço varia a cada dia", disse Barbassa, em entrevista ao 'Reuters Latin American Investment Summit', evitando estipular uma expectativa de preço do petróleo para o ano.
O petróleo Brent já caiu cerca de 15% desde o pico do ano de pouco mais de US$ 128 o barril no início de março, e agora está próximo ao valor do início do ano, em torno de US$ 106 o barril.
Segundo Barbassa, a diretoria analisa constantemente os preços internacionais e leva o assunto para análise pelo Conselho de Administração, presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para que as decisões sejam tomadas.
"Na última reunião, o conselho estava confortável com o preço, e parece até que estava adivinhando que ia cair".
A pressão sobre o petróleo ocorre em meio a preocupações com os efeitos da crise internacional para a demanda e com um mercado global bem abastecido, com países como a Arábia Saudita produzindo mais de 10 milhões de barris por dia, um patamar histórico.
Sem Hedge
O executivo disse que a Petrobras é uma empresa exposta ao petróleo e ao seu preço.
"Nós não fazemos hedge. O hedge que construímos internamente é produzir a baixo custo. Esse é o melhor hedge que uma empresa de petróleo pode ter, no nosso entendimento".
O custo médio da Petrobras no pré-sal, por exemplo, está abaixo de US$ 45 por barril, segundo ele.
Sobre um possível desabamento dos preços do petróleo a níveis abaixo de US$ 60 o barril como já preveem alguns bancos de investimento, com a atual crise mundial, Barbassa disse não descartar a possibilidade.
"Essa tempestade estamos preparados para superar. Temos alta liquidez na companhia e nós trabalhamos com essa possibilidade. No fim de 2008, o petróleo veio abaixo de 40 e não de 60", declarou. Mas, segundo o executivo, a crise será superada e os preços do petróleo deverão voltar aos atuais patamares.