Valor Econômico
Em razão da crise global, a Petrobras vai tomar uma posição mais agressiva na busca de fontes alternativas de recursos no mercado financeiro internacional a fim de garantir os investimentos de US$ 28 bilhões previstos para 2010.
“A crise muda os fluxos financeiros, e os tipos de financiamento mudam”, constatou o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielle, após uma maratona de encontros com banqueiros, representantes de indústrias do petróleo e empresários, durante o Fórum Mundial de Economia.
“Várias fontes tradicionais, particularmente do mercado de bônus, encolheram muito. Bancos de investimentos e de fundos de hedge quebraram, e as operações fecharam”, explicou.
Para 2010, a estatal precisará trabalhar um pouco mais para fechar o pacote de investimentos. “É agora mais importante as operações financeiras lastreadas em ativos reais, os ‘project finance’, as securitizações (empréstimos de vendas antecipadas)”, acrescentou.
A Petrobras negocia com bancos de desenvolvimento de vários países para obter empréstimos vinculados a fornecimento no longo prazo. A estatal discute com instituições chinesas, americanas e japonesas para estabelecer contratos estratégicos que são acionados no momento de dificuldade de suprimento internacional de petróleo.
“O Brasil, com a capacidade de país alternativo, tem valor estratégico. Esse é o ponto da negociação”, disse Almir Guilherme Barbasa, diretor financeiro da estatal. “O Japão tem política tradicional de investimento das indústrias básicas, porque depende de importações de matérias-primas. Isso casa com a estratégia da Petrobras. Assim, os japoneses dão o financiamento, e a Petrobras garante o suprimento de petróleo quando eles precisarem, com o preço de mercado da época da utilização do óleo”.
Outra discussão em curso é com fundos soberanos - os bilionários fundos de investimento oficiais de países com enormes reservas internacionais e que buscam investimentos seguros. A empresa negocia também com agências oficiais de crédito a exportação para comprar equipamentos.
Para este ano, o financiamento para os investimentos de US$ 28 bilhões estão garantidos: US$ 12,5 bilhões do BNDES, outros US$ 10 bilhões da geração de caixa, US$ 5 bilhões de um empréstimo-ponte junto a quatro bancos e os US$ 2 bilhões restantes do caixa da empresa.
Até agora, a Petrobras garantiu os US$ 10 bilhões do BNDES. A busca de alternativas não significa abandonar as fontes tradicionais, como a colocação de bônus. Dependerá da situação do mercado. Na semana passada, a Pemex, do México, colocou US$ 2,7 bilhões de títulos e a demanda foi três vezes maior, mas a Petrobras considerou a taxa de 8,25% muito alta.
Sérgio Gabrielli diz partir de Davos “confortado” na sua estratégia de ampliar os investimentos, porque a indústria do petróleo mundialmente está com os mesmos planos. “A indústria prevê que em 2009 e 2010 haverá um ciclo de baixa (na economia), para 2011, 2012 ou 2013 ninguém sabe exatamente quando a economia vai se recuperar. Mas todo mundo reconhece que quem não estiver posicionado em 2013 vai se dar mal. A hora para investir é agora, para ter efeito em três anos”.
Exemplificou que os investimentos são ainda mais necessários porque todo ano há um declínio de 6% nos poços, e é necessário repor o equivalente a uma Arábia Saudita a cada três anos, para manter a produção atual. Os sauditas produzem 10 milhões de barris por dia.
Em Davos, alguns produtores de petróleo reclamaram que os preços estão muito baixos para suportar a necessidade de recursos dos países e, ao mesmo tempo, fazer novos investimentos em produção e infraestrutura. Mas de maneira geral, a indústria trabalha com a estimativa de preço do barril entre US$ 40 e US$ 50 este ano e US$ 50 e 60 ano que vem.
Para a Petrobras, o cálculo de “financiabilidade”, ou seja, os investimentos compensam, inclusive na camada de pré-sal, se o preço do barril de petróleo não cair abaixo de US$ 37 este ano, US$ 40 em 2010 e US$ 45 em 2011. O executivo garantiu que o plano de contratar 14 mil funcionários até 2010 está mantido. Também insistiu que os investimentos no exterior não foram cortados e alcançarão mais de US$ 15 bilhões em cinco anos.
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