Petróleo

Oferta saudita enfrenta ceticismo

Valor Econômico
23/06/2008 09:57
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A Arábia Saudita procurou acalmar a profunda ansiedade no mercado de petróleo prometendo ao mundo um pouco mais de produção agora e, possivelmente, muito mais no futuro. 


Mas não está claro se a tentativa saudita de reafirmar sua força petrolífera será suficiente para esfriar a alta histórica na cotação da commodity, que muitos temem que pode subir ainda mais. A cotação do petróleo chegou na semana passada ao recorde de US$ 139,89 o barril na Bolsa Mercantil de Nova York. Desde então ela caiu, mas mesmo assim muito pouco. 


O maior produtor mundial de petróleo disse a ministros de Estado e executivos do setor, reunidos numa conferência de produtores e importadores em Jidá, na costa do Mar Vermelho, que aumentará sua produção em 200.000 barris diários durante o resto do ano se for necessário, ante os atuais 9,5 milhões de barris. O mercado mundial é de uns 86 milhões de barris diários. 


Além disso, numa tentativa de acalmar o temor crescente de que a oferta futura possa não atender à demanda cada vez maior, a Arábia Saudita prometeu levar adiante uma campanha agressiva para aumentar sua capacidade total para 15 milhões de barris diários até 2018, ante cerca de 11,4 milhões atuais. 


Um aumento de capacidade dessa magnitude seria extraordinário para um país que nunca produziu mais de 11 milhões de barris por dia. Para chegar lá, a Arábia Saudita terá de espremer volumes ainda maiores de petróleo principalmente de campos que estão ativos desde a década 40 - uma tarefa nada fácil. 


A tentativa saudita de atacar as principais preocupações com a oferta no longo prazo surpreendeu muita gente. O ministro do Petróleo do reino, Ali Naimi, tinha dito alguns meses atrás que se tudo correr de acordo os planos não havia nenhuma necessidade de ir além dos investimentos substanciais já em execução, que aumentarão a capacidade saudita para 12,5 milhões de barris diários até o ano que vem. O governo saudita está gastando mais de US$ 60 bilhões para melhorar suas técnicas de produção e também interromper o declínio natural em campos gigantescos mas maduros, como Ghawar e Abqaiq. 


Alguns especialistas em petróleo desconfiam da capacidade dos sauditas de aumentar a produção para 15 milhões de barris diários. "Eu temo que veremos os grandes campos (atualmente em produção) chegar ao auge em mais ou menos 12 milhões de barris diários", disse Edward Price, um ex-presidente da petrolífera estatal do país, a Saudi Aramco. "Até mesmo na Arábia Saudita há uma limitação de recursos", disse Price, que continua acompanhando o desempenho da Aramco. 


Os prometidos barris extras dos sauditas chegam num momento em que a produção caiu fortemente em outros grandes países produtores. A Nigéria informou que, diante dos contínuos ataques de rebeldes a suas instalações petrolíferas, a produção no momento é a mais baixa dos últimos 25 anos, quase 1 milhão de barris menor que o normal. As exportações de petróleo do México, Reino Unido e Noruega - todos países que tiveram papéis importantes para aplacar nos últimos vinte anos a sede mundial por petróleo - também vêm caindo rapidamente. 


Organizada pelos sauditas, a conferência foi um evento sóbrio, em que representantes de 36 países, como o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, e presidentes de quase dez petrolíferas multinacionais e delegados do alto escalão da Organização de Países Exportadores de Petróleo discutiram como suavizar o altíssimo preço do petróleo, uma situação que o rei saudita Abdullah afirmou ser uma grave ameaça à segurança mundial. 


A cotação do petróleo dobrou nos últimos 12 meses, causando uma alta acentuada no preço dos combustíveis e onerando setores que vão das companhias aéreas ao transporte marítimo de cargas e às montadoras. O aumento do preço também motivou protestos violentos na Europa e instabilidade econômica em boa parte do mundo em desenvolvimento. 


A conferência de Jidá, marcada para durar apenas um dia, desencadeou uma série de promessas, com grandes produtores como Arábia Saudita prometendo fazer mais para aplacar o temor de escassez e grandes consumidores como os Estados Unidos cogitando maior investimento em fontes de energia renovável. Mas o conclave provavelmente fará muito pouco para mudar a presente percepção de precariedade nos mercados mundiais de petróleo. 


Por trás dos calorosos apertos de mão e das promessas de cooperação há um profundo desentendimento sobre as causas da alta do petróleo. Autoridades sauditas disseminaram a visão de que a volatilidade não é relacionada à oferta. O rei Abdullah, em discurso aos participantes, condenou o "egoísmo" daqueles envolvidos no mercado de contratos futuros do petróleo, especuladores que ele criticou chamando de "desprezíveis". 


O rei disse que muitas pessoas nos países ricos continuam "a culpar unicamente a Opep", apesar dos esforços recentes do cartel para acompanhar a demanda. 


Mas ministros de países importadores como os EUA atribuíram a maior parte da culpa a aspectos básicos de oferta e procura, argumentando que é preciso mais petróleo num período em que a demanda mundial subiu 1,8% ao ano em média desde 2003 - em grande parte por causa da demanda crescente de economias em rápido crescimento como China e Índia. A Opep fornece cerca de 40% do petróleo mundial. 


"Eu acredito que a maioria de nós concorda com uma coisa: os preços estão muito altos no momento", disse o secretário da Energia dos EUA, Samuel Bodman. "E, a não ser que tomemos uma atitude, a situação continuará insustentável." 


Antes da reunião em Jidá, os sauditas tinham a esperança de fazer os preços baixar ao prometer um grande aumento na produção. Quando isso não mexeu nos mercados, as autoridades petrolíferas do país pareceram voltar sua atenção a planos de longo prazo. 


Naimi disse que o país está avaliando investir US$ 129 bilhões em projetos de petróleo nos próximos cinco anos. Se necessário, disse, o país pode adicionar mais 2 milhões de barris diários em capacidade extra por meio de perfurações em cinco grandes campos.

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