Niterói Fenashore 2009

Indústria naval e offshore buscam a sustentabilidade

Ser mais sustentável para enfrentar os novos desafios e se tornar mais competitiva são alguns dos aspectos discutidos na terceira edição da Niterói Fenashore, que recebeu cerca de sete mil visitantes, mais de cem expositores e deverá gerar negócios em torno de R$ 96,5 milhões nos próximos 1

TN Petróleo 69
08/02/2010 18:47
Indústria naval e offshore buscam a sustentabilidade Visualizações: 891 (0) (0) (0) (0)

por Cassiano Viana, Maria Fernanda Romero e Rodrigo Miguez


Com uma demanda bem aquecida e a perspectiva de novos projetos e muitas licitações em 2010, a indústria naval e offshore começou a discutir uma estratégia que assegure a sua sustentabilidade durante a Niterói Fenashore 2009, entre os dias 9 a 12 de novembro.
‘Sustentabilidade na indústria naval e offshore’ foi o tema da terceira edição do evento realizado em Niterói, região que concentra boa parte dos estaleiros brasileiros e um parque industrial consolidado. Novas tecnologias, os desafios do pré-sal, qualificação, inovação e sustentabilidade foram alguns dos assuntos abordados nos painéis técnicos que mobilizaram uma média de 300 pessoas por dia.
Os organizadores mostraram-se otimistas com esta feira que já se consolidou no calendário do setor. “Certamente avançamos muito em relação à primeira edição, além de termos uma indústria em expansão e um mercado aquecido, apesar da crise mundial”, observou o presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo, Óleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), João Carlos de Luca.
“Estamos certos de que os representantes da indústria, do governo, das universidades e dos diversos segmentos ligados às atividades naval e offshore saem daqui com uma visão mais alinhada dos desafios que o setor tem pela frente”, acredita Álvaro Teixeira, secretário-executivo do Instituto.
O presidente do Comitê Técnico da Niterói Fenashore, Alceu Mariano, ressaltou que um dos objetivos da feira era justamente promover uma reflexão sobre este setor em crescimento depois de décadas de estagnação. “Hoje, temos novos estaleiros em instalação no país e é fundamental que o setor reflita sobre a sustentabilidade desta indústria”, afirmou.
O prefeito de Niterói, Jorge Roberto Silveira, comemorou o sucesso do evento em um momento de crise. Para ele, a Niterói Fenashore deixou de ser um evento municipal e passou a ter âmbito nacional.  “A feira reflete a capacidade técnica e de investimentos desta indústria que vem tendo um crescimento exponencial: somente na região de Niterói foram gerados mais de 12 mil empregos nestes últimos anos”, afiançou.


Plano de sustentabilidade – Na abertura do evento, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, reiterou o compromisso do governo com o aumento do conteúdo nacional e afirmou que o pré-sal vai dobrar o número de empregos gerados pelo setor. “Hoje, são cerca de 200 mil empregos indiretos. Mas com as demandas do pré-sal este número vai chegar a quase 500 mil”, aposta o ministro, frisando: “As empresas brasileiras precisam investir em inovação e tecnologia para aproveitar esta oportunidade.”
O secretário de Ciência e Tecnologia de Niterói, José Raymundo Romeo, complementa que há competência instalada e disponível, tanto em Niterói como no resto do país, para atender a demanda crescente. “A indústria naval local não se dedicou apenas à construção de navios: manteve o foco no mercado de petróleo, para o qual vem construindo petroleiros, plataformas de produção e navios de apoio, além de realizar os serviços de reparos destas embarcações”, destacou.
O secretário lembrou a parceria da Prefeitura de Niterói com a UFF (Universidade Federal Fluminense), o Exército brasileiro e empresas para a instalação de um parque tecnológico em Niterói. “Esta parceria é fundamental para alavancar o setor e fazer de Niterói um lugar em que as empresas se desenvolvem, inovam e criam tecnologias, e não apenas se instalam”, destacou. E defendeu a criação de um plano de sustentabilidade com objetivo de direcionar o setor. Romeo garante que é preciso criar salvaguardas para evitar que a indústria passe por uma nova crise como a vivida nas décadas de 1980 e 90.
Para o secretário, a Fenashore sempre se renova. “Nessa terceira edição houve a participação mais forte das universidades envolvidas com o setor”, observou. “Além disso, também estiveram presentes importantes instituições e órgãos financeiros que têm papel importante para alavancar esta indústria: o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), agências financiadoras federais e estaduais, além do ministério da Ciência e Tecnologia.”
Ele pontuou que, mais do que um encontro de negócios, a Fenashore é um foro de discussão para a indústria naval debater os novos projetos offshore, as demandas, as políticas públicas etc. “Talvez seja esse o evento mais importante da indústria naval e offshore, uma vez que abre espaço para as discussões sobre as políticas públicas para o setor. Os negócios são importantes, mas podem ser feitos a qualquer momento – não precisam de uma feira para se concretizar.”


Mais vigor – O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços do Rio de Janeiro, Julio Bueno, afirmou que a indústria naval é vital para a economia do estado e que a retomada do setor é uma grande oportunidade. No entanto, destacou que a indústria ainda sofre as consequências da crise vivida na década de 90. Para ele, falta vigor a alguns estaleiros, mas o governo está atuando junto com a indústria na solução deste problema.
João Carlos de Luca, do IBP, concorda que o setor tem vivido um momento de grandes oportunidades para pequenas, médias ou grandes empresas. Mas lembrou que são enormes também os desafios, entre os quais se destacam o aprimoramento das tecnologias e a formação de mão de obra necessária para atender às demandas. “O maior desafio de todos é encontrar um caminho que garanta a sustentabilidade para além do ciclo virtuoso capitaneado pela indústria de petróleo e gás – o que passa necessariamente pela inserção no mercado internacional”, avaliou de Luca.
O executivo ressaltou que a indústria se desenvolveu tecnologicamente, conquistou competitividade, produtividade e atraiu novos agentes. Tanto que hoje movimenta R$ 5 bilhões por ano e dispõe de uma carteira consistente de projetos e de perspectivas extremamente promissoras, por conta do cenário econômico e, especialmente, pela descoberta do pré-sal na costa brasileira. E reforçou: “Ao final dos debates, esperamos ter um plano diretor que sirva como roteiro do caminho a ser seguido para garantir a sustentabilidade da indústria nacional.”
Na opinião de Sérgio Barbosa, diretor da Stratus, especializada em soluções de estruturas de fibra de vidro, o setor naval precisa se expandir para se consolidar como um mercado sustentável. “É preciso focar mais na exportação: a indústria naval é muito dependente das necessidades do Brasil, sobretudo dos pedidos da Petrobras. Cingapura tem uma indústria consolidada graças ao fato de manter o foco nos dois mercados, interno e externo”, destacou o executivo.
Também participaram da cerimônia de abertura o secretário de Transportes do Estado do Rio, Julio Lopes; os dirigentes da Transpetro, Sergio Machado, da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan)/Regional Leste Fluminense, Sérgio Caetano e do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) Ariovaldo Rocha; o superintendente da Organização Nacional da Indústria de Petróleo (Onip), Caio Pimenta; e o vice-reitor da UFF, Emmanuel de Andrade.


Mercado em expansão – O lançamento, em 2010, de seis petroleiros, dois deles produzidos no Rio de Janeiro e quatro em Pernambuco, foi destacado pelo presidente da Petrobras Transporte (Transpetro), Sérgio Machado, que apontou a crescente demanda e a disponibilidade de recursos para investimento como os grandes ‘propulsores’ da indústria naval brasileira.
Machado observou que a indústria naval viveu durante anos uma crise que afetou a economia do setor e fez com que muita gente desacreditasse de um possível ressurgimento. Em 2005, segundo ele, sob muitas críticas, foi lançado o edital que deu o pontapé inicial para a sua retomada.
“Na época, a descrença foi grande: o Brasil era considerado o ‘país do futuro’ (ou seja, que tudo fica para o futuro e não acontece). Hoje estamos vivendo este futuro e todos estão mais otimistas”, afirmou Machado.
Segundo ele, a descoberta do pré-sal, que trouxe grande expectativa na indústria, em especial para as empresas fornecedoras de equipamentos, impõe novos investimentos em logística: “Não podemos deixar de fora o planejamento logístico, fundamental ao sucesso dos investimentos. Com 7,5 km de costa, o transporte marítimo é fundamental, além de ser um dos mais baratos”, afirmou.
No encerramento do evento, o coordenador geral das Indústrias de Transporte Aéreo, Aeroespacial e Naval da Secretaria de Desenvolvimento de Produção do Ministério do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Carlos Eduardo Macedo, apresentou os planos do governo federal para impulsionar o setor. “Não queremos vendedores, queremos parceiros, mas sem abrir mão do conteúdo local”, disse.
Segundo Macedo, a meta é encontrar um caminho nacional sustentado para a indústria naval. “Há demanda e há oferta. Precisamos facilitar a comunicação entre os dois pontos”, avaliou. “Hoje, é mais fácil um empresário contratar o serviço de um estaleiro coreano ou japonês pelo catálogo na internet do que procurar um fornecedor brasileiro.”
Prestadora de serviços na área ambiental, principalmente de contenção de óleo e outros produtos químicos que possam contaminar o meio ambiente, a Hidroclean, criada em 2000, está sendo beneficiada por esta onda de sustentabilidade nas empresas.
Principalmente no ramo de petróleo, onde o risco ambiental é inerente. “Estamos sendo mais procurados do que de costume”, afirmou Renata Borges, assistente de marketing da empresa.


Impasse da mão de obra – A engenharia naval e offshore brasileira foi tema de um dos painéis da Niterói Fenashore, que teve como foco principal a falta de mão de obra especializada para o setor. Foi consenso entre os palestrantes a necessidade urgente de incrementar as parcerias entre empresas, governos e universidades, que têm papéis fundamentais na formação e qualificação de profissionais à altura das demandas.
De acordo com o diretor da Construtora Queiroz Galvão, Otoniel Silva Reis, o Brasil ficou durante 15 anos sem formar profissionais na área da engenharia e hoje sofre com isso. “Só para se ter uma ideia, com os projetos já contratados ou em contratação, a indústria naval necessita de 110 mil novos e qualificados profissionais.”
Ângelo Bellelis, presidente do Estaleiro Atlântico Sul, que detalhou toda a política de desenvolvimento da engenharia do estaleiro, revelou que precisou buscar profissionais em diversas partes do país para compor seu ‘time’. “Temos 194 pessoas entre engenheiros, projetistas e desenhistas”, contabiliza o empresário.
Um panorama das tendências internacionais e principais desafios para o setor foi feito pelo gerente geral do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), Segen Estefen. O acadêmico também deu exemplos de projetos que refletem a contribuição das universidades, com o suporte inclusive de empresas, para a inovação e modernização da indústria naval, tanto na área de engenharia como de tecnologias.
 

Inovação e competitividade – Investimento em tecnologia e inovação, custos competitivos e treinamento e qualificação também foram assuntos destacados por alguns palestrantes, como pontos primordiais para que o Brasil obtenha sucesso e consiga desenvolver seu potencial naval e offshore.
O debate reuniu representantes de todos os players do mercado: a Transpetro, como principal compradora; a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), representando os fabricantes de equipamentos; a STX Brasil Offshore S/A, um dos mais novos estaleiros no mercado, e ainda dirigentes da Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo (Abeam), da área de prestação de serviços de apoio offshore.
Rubens Langer, assistente diretor de transporte marítimo da Transpetro, apresentou o Programa de Modernização e Expansão da Frota de Navios, o Promef, que já possibilitou a encomenda de 26 embarcações apenas na primeira fase. “Fabricar os navios aqui vai nos possibilitar atingir um dos principais objetivos do programa, que é alcançar o índice mínimo de 65% de nacionalização”, destacou Langer. Ele falou também sobre os altos custos de produção de navios no Brasil e comparou a produtividade local com a de países como Coreia e Japão.
Para Alberto Machado Neto, diretor executivo da Abimaq, o grande problema do Brasil não está na falta de competitividade de sua indústria, mas na ausência de políticas voltadas para o gerenciamento de ações que possibilitem esse desenvolvimento. “Os navios que estão sendo construídos hoje no país estão muito aquém da sua capacidade de produção. É preciso envolvimento de todos os setores”, declarou ele, citando exemplos de produtos que podem ser fabricados por empresas brasileiras, gerando empregos e impostos.
Machado Neto pontuou ainda outros obstáculos que emperram o crescimento do setor naval e offshore, como a alta tributação, a legislação trabalhista, o câmbio e os custos financeiros. Um exemplo claro disso, segundo ele, é que a Petrobras, quando contrata a fabricação de um navio, já começa a pagar impostos, sendo que este só entrará em operação três anos depois.
O tema ‘política e legislação’ também foi destaque na palestra do vice-presidente da STX Brazil Offshore S/A,Paulo de Tarso Rolim de Freitas. “A lei de navegação, as legislações tributárias, cambiais e trabalhistas deveriam estar alinhadas com as decisões políticas. Muitas oportunidades são geradas por conta destas decisões”, observou Freitas. Ele lembrou ainda a Coreia e a China como exemplos de países que contam com políticas voltadas para as necessidades específicas do segmento.

 

 

BOX – Rodada de surpresas

Com 322 reuniões e uma previsão de negócios de R$ 96,5 milhões para os próximos 12 meses, valor 13% superior ao da edição passada, a tradicional rodada de negócios, organizada pelo Sebrae e pela Onip, contribui para o sucesso da Fenashore.
As 14 empresas-âncoras, que se reuniram com pequenos e médios fornecedores, fazem uma avaliação positiva do setor: as empresas estão mais diversificadas e competitivas, atendem melhor à demanda, tanto em qualidade como em quantidade.
Fernando Quintas, representante da americana El Paso, vê um movimento interessante na área: “A indústria força dos dois lados. Pequenos e médios fornecedores estão se capacitando, preocupando-se com aspectos como segurança e obtenção de certificados de qualidade para vender seus produtos”, avaliou.
Houve boas surpresas. Algumas áreas que enfrentam gargalo na oferta de serviços tiveram a demanda atendida: “As reuniões estão sendo mais bem aproveitadas. O mercado está comprometido em aumentar em quantidade, a diversidade e a oferta de produtos”, avaliou o gerente do departamento de compras do Atlântico Sul, Wolney Teixeira de Souza. “A Niterói Fenashore nos ajudou a encontrar parceiros de pequeno e médio porte, o que costuma ser mais complicado no dia a dia. Tivemos contato com possíveis parceiros de áreas de atendimento e alimentos e até equipamentos específicos para nossos navios”, assegura o gerente do estaleiro pernambucano.

 


BOX – Arena socioambiental

Cerca de 1,2 mil pessoas passaram pela Arena de Responsabilidade Socioambiental, coordenada pelo Estaleiro Mauá, durante os quatro dias da Niterói Fenashore 2009. Nesta edição, além de palestras, debates e rodadas de negócios, um espaço foi reservado para atividades que reforçam a questão ambiental e de responsabilidade social.
Montada em um espaço de 700 m², a arena contou com micro e pequenas empresas e instituições que atuam na região de Niterói. Segundo Milena Soares, representante do Estaleiro Mauá e coordenadora do espaço, a meta era reforçar o comprometimento dos principais agentes da indústria naval – uma das maiores empregadoras do município – em relação às demandas sociais da região, uma das mais beneficiadas pela recuperação desta indústria: hoje, o setor emprega 40 mil pessoas em todo o país, sendo que 11 mil estão em Niterói.

 

 

BOX –  STX Brasil lança Skandi Ipanema

É o primeiro navio deste tipo construído no estaleiro STX, do empresário Eike Batista,
em parceria com a norueguesa Norskan Offshore.


Durante a Fenashore, os estaleiros receberam visitas e fizeram lançamentos. Foi o caso do STX, o braço naval do grupo comandado pelo empresário Eike Batista, que lançou a embarcação de apoio Skandi Ipanema em solenidade que contou com a presença da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rouseff, e do governador do Rio, Sérgio Cabral.
O barco de apoio, que servirá à empresa OGX nas suas atividades exploratórias, é fruto de uma parceria com a Norskan Offshore. “O Brasil é o mercado que mais cresce no mundo, por isso resolvemos investir aqui”, afirmou Hans Ellingsen, presidente da Norskan. Segundo ele, a companhia, que ainda tem mais dois navios para lançar, está investindo um total de US$ 1 bilhão, sendo que US$ 700 milhões já foram utilizados. A Norskan está com os navios Skandi Niterói, Skandi Iguaçu e Skandi Amazonas em construção. Waldemiro Arantes, presidente do estaleiro STX, declarou que tem 1.500 trabalhadores e que, em função da demanda do setor, há empregos assegurados até 2012.

 


GERAÇÃO PRÉ-SAL

É consenso que as novas descobertas da camada pré-sal irão abrir espaço para o desenvolvimento das empresas brasileiras.


Segundo o assessor de E&P do IBP, Getúlio Leite, o Brasil vai precisar investir nos próximos 20 anos cerca de US$ 170 bilhões para desenvolver a produção das áreas já licitadas no pré-sal, que correspondem a 14 bilhões de barris – soma das reservas estimadas dos campos de Tupi, Iara e Guará.
O especialista, que participou do painel ‘Os desafios do conteúdo local no novo ciclo de investimentos’, afirmou que as novas reservas do pré-sal trazem boas perspectivas para o aumento da participação do conteúdo nacional na indústria naval e offshore.
Na opinião dele, o Brasil deverá se tornar um dos maiores produtores mundiais de petróleo, o que vai abrir grande espaço para o desenvolvimento da indústria de peças, equipamentos e componentes.
Leite ressaltou que o país precisa estabelecer uma política industrial estratégica que dê suporte à indústria nacional e garanta sustentabilidade aos fornecedores de bens e serviços. “A indústria naval e offshore precisa adotar mecanismos que fortaleçam as empresas nacionais com objetivo de tornar o parque industrial brasileiro competitivo globalmente, para atender a uma demanda de conteúdo tecnológico elevado.”
Ele lembrou que a abertura do mercado em 1997 e a realização das Rodadas de Licitações nos últimos dez anos levaram a uma expansão de investimentos no setor de petróleo e gás natural, revelando que as exigências de conteúdo local atuaram como um forte indutor da maior participação da indústria local fornecedora de bens e serviços. O especialista observou que apenas na Sétima Rodada de Licitações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em 2005, houve a inclusão da cartilha e certificação do Conteúdo Local.

 

Oportunidades – Observando que o pré-sal deverá gerar cerca de 200 mil empregos até 2020, o vice-presidente do Sistema Firjan, Raul Sanson, afirmou que o caminho para a expansão do setor naval e offshore passa pelo fortalecimento do conteúdo nacional. “Se as empresas do setor não valorizarem a participação do conteúdo local em toda a cadeia produtiva, não há possibilidade de aumentar o próprio consumo interno e movimentar o mercado nacional. As empresas perdem força e param de produzir e consumir petróleo e diesel”, explicou.
Ele frisou ainda que quem mais gera emprego na indústria naval e offshore são os fabricantes de peças e equipamentos. Segundo ele, estas empresas geram até dez vezes mais empregos do que os estaleiros, mas não têm visibilidade dentro da cadeia produtiva. “Um dos motivos que explicam por que a participação do conteúdo nacional ainda não está nos níveis desejados é que não há uma visão de toda a cadeia produtiva. Precisamos dar mais destaque para estas empresas que estão embaixo”, ressaltou.
O superintendente do Estaleiro Mauá, Ismael Brandão, afirmou que a empresa está se modernizando para ganhar competitividade no mercado internacional, implantando melhorias por meio da aquisição de novos equipamentos. Segundo ele, isso abre espaço para fornecedores nacionais. “O nosso objetivo é alavancar o índice de nacionalização na produção do estaleiro. Estamos trabalhando em pesquisas para mostrar de forma transparente os gargalos que impedem a maior participação do conteúdo nacional na indústria”, informou.
O fato é que o mercado vem abrindo oportunidades até mesmo para quem quer se diversificar. Criada inicialmente para fornecer equipamentos para as usinas nucleares brasileiras, a Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep), ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, hoje também atua nos mercados offshore e naval, produzindo motores. A entrada neste segmento se deu em 2005, após acordo firmado com a empresa Wärtsilä, para que a Nuclep fabricasse, em suas instalações em Itaguaí, motores de dois tempos de última geração para propulsão naval, destinados a navios de grande porte do tipo Suezmax, Aframax, Panamax e de produtos. “O cenário do pré-sal abre espaço para atuarmos em projetos de plataformas”, disse o engenheiro Manuel Ferreira, da Nuclep, que já participou da construção dos módulos estruturais do casco da plataforma P-51 da Petrobras.

 

Apoio financeiro – Na esteira do crescimento do setor naval e de petróleo em Pernambuco, impulsionado pelo Complexo Industrial de Suape, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) anunciou um convênio com a Petrobras que prevê recursos de R$ 2 milhões em três anos para o desenvolvimento de fornecedores do segmento de óleo e gás naquele estado.
De acordo com a gestora do Projeto Petróleo e Gás do Sebrae, Valéria Augusta, o plano de incremento de 330% de capital para investimentos vai ajudar a desenvolver as micro e pequenas empresas do setor de serviços da região. Atualmente, 25 empresas de Pernambuco já trabalham em parceria com o Sebrae. “Ainda faltam formalidades para a assinatura do acordo. Através dele, conseguiremos reforçar as ideias de empreendedorismo, aumentar a quantidade de cursos de capacitação, rodadas de negócios e de crédito e o acesso ao mercado para as pequenas empresas”, informou.
A parceria com a estatal já vem se desenhando em outros estados. A maior dificuldade para as empresas de pequeno porte é conseguir se inserir, de forma sustentada, no mercado. Com esse apoio, o Sebrae acredita que poderá ajudar na estruturação de empresas e na oferta de serviços. “Nós as incentivamos a ter uma cultura de cooperação e complementaridade de serviços. Assim, elas podem se tornar fornecedoras mais competitivas”, observa Valéria. E acrescenta que, muitas vezes, uma empresa nova não tem, ainda, como competir, mas pode se associar a outras, aproveitar a capacidade instalada da parceira para ser mais competitiva quando disputar uma concorrência.
Também há linhas de financiamento criadas especialmente para as empresas que precisam de recursos para dar um passo adiante em um mercado aquecido. Este foi o principal objetivo do Governo do Estado do Rio ao criar a agência de fomento Investe Rio, em 2002: incentivar o crescimento da economia do estado, por meio de linhas de financiamento para a indústria.
Ligado à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria, e Serviços do Estado do Rio de Janeiro (Sedeis), o órgão disponibiliza recursos próprios e de fundos de fomento estaduais, além de fazer uma ponte com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Anna Bella Blyth, do Sedeis, adiantou que uma das linhas de financiamento do Investe Rio é o Pró-Fornecedores, voltado para as micro, pequenas e médias empresas, de forma a promover a expansão e modernização da capacidade produtiva do estado. Para ela, a edição da Fenashore serviu para apresentar o Investe Rio para os empresários. “A vantagem de estar presente a um evento como esse é a proximidade do atendimento com o empresário”, afirmou ela.

 

Brasil Amarras: capacidade ampliada – A Brasil Amarras anunciou, durante a Fenashore 2009, a instalação de uma nova unidade para fabricação de amarras. “Com este investimento estamos proporcionando um aumento considerável em nossa capacidade de fabricação”, comentou Jair Matos, da Brasil Amarras.
A reboque do projeto, a unidade localizada na Ilha da Conceição passará por uma reformulação de leiaute, permitindo maior agilidade em movimentação interna e minimizando consideravelmente o tempo com manuseio e posicionamento.
Com isso, a empresa passará a dispor de três instalações para fabricação de amarras de até 120 mm R4. “O que significa que teremos a capacidade ampliada, inclusive para a recuperação de amarras, pois temos em andamento um contrato de três anos com a Petrobras e que está em fase de ser aditado”, destacou Jair Matos.

 

Grupo Cassinú está otimista – Com uma área total de cerca de 60 mil m², com um dique seco, mais de 420 m linear de cais e capacidade para processar seis mil toneladas de aço por ano, o grupo Cassinú está preparado para construir, reparar e modernizar navios de apoio marítimo, rebocadores, empurradores, barcaças e chatas, seguindo a Norma ISO 9001/2000.
“Entregamos, em outubro, o primeiro dos quatro rebocadores contratados para a Wilson, Sons. Outro rebocador será entregue agora em dezembro, e finalizamos o reparo de uma monoboia de sub-superficie (boia de sustentação de risers, BSR), além de estarmos reativando a nossa base de Arraial do Cabo”, informou o presidente do estaleiro Cassinú, Antonio de Santana.
“Estamos otimistas com o futuro do grupo”, comentou o dirigente da empresa, que tem instalações nas cidades de São Gonçalo e Niterói. O estaleiro negocia com a Petrobras a preparação de uma base fixa utilizando uma plataforma jack up em local abrigado em Macaé, para troca de turma, manutenção e fornecimento de água, materiais e rancho.
A base será dotada de acomodação e restaurante para 150 pessoas e três áreas para atracar embarcações de apoio, possibilitando assim a execução de pequenos reparos, desafogando o terminal de Embetiba da Petrobras.

 

 

BOX – Atlântico Sul em contagem regressiva


O Estaleiro Atlântico Sul (EAS) será o único do setor no país a atingir, em cinco anos, o mesmo nível de produtividade e competitividade dos estaleiros asiáticos. A afirmação é de Ângelo Bellelis, presidente da empresa, ao falar dos investimentos que estão sendo feitos: o valor injetado até agora no estaleiro pernambucano é da ordem de R$ 1,4 bilhão. E boa parte dos recursos está sendo aplicado em diferenciais tecnológicos e novos equipamentos.
Os empregos gerados na unidade chegam a cinco mil diretos e 25 mil indiretos. O estaleiro fica em Ipojuca, na região metropolitana de Recife, dentro do Complexo de Suape.
O EAS, que está em fase de finalização, fica em uma área total de 162 hectares e tem capacidade de fazer navios de até 500 mil toneladas de porte bruto. “Nossa meta é que, em cinco anos, estejamos no mesmo nível dos estaleiros considerados mais desenvolvidos do mundo”, afirmou Bellelis, ao ressaltar que o Atlântico Sul deverá se tornar o único brasileiro de quarta geração.
Atualmente, o EAS tem em carteira 22 navios encomendados pela Transpetro. Na primeira fase do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef), o EAS assinou contrato para a construção de 15 petroleiros (dez Suezmax e cinco Aframax) e, agora, com o Promef II, foram encomendados mais sete.
O Atlântico Sul foi criado em 2005 e produz todos os tipos de navios cargueiros, plataformas offshore dos tipos semi-submersível, FPSO (Sistemas Flutuantes de Produção de Produção, Armazenamento e Transferência de Petróleo), TLP (Plataformas de Pernas Atirantadas) e SPAR. A empresa oferece também um leque de serviços de reparo de embarcações e unidades de exploração de petróleo.

 

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