Jornal do Commercio
A indústria fornecedora de bens e serviços para a área de petróleo no País terá de investir US$ 5 bilhões até 2011 para acompanhar a crescente demanda do setor, afirmou o diretor de Planejamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES), João Carlos Ferraz. De acordo com Ferraz, a indústria de bens e serviços nacionais para o setor está no limite de sua capacidade. Em sua avaliação, a crise econômica global e a queda das encomendas no mercado externo propiciam ao Brasil um maior poder de barganha para a atração de investidores internacionais.
As afirmações foram feitas pelo diretor durante o 21º Fórum Nacional, realizado pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (Inea), do ex-ministro da Fazenda Reis Velloso. “É uma grande oportunidade, principalmente devido ao desaquecimento do mercado global e à queda dos fretes. Por conta disso, estamos em boas condições de negociar com os investidores internacionais. Eles não têm demanda e nós estamos hoje com a faca e o queijo na mão”, afirmou Ferraz.
Ferraz explicou que a conta do US$ 5 bilhões foi realizada antes de a Petrobras anunciar seu plano de negócios para o período de 2009 a 2013, que soma investimentos de US$ 174 bilhões. Em decorrência disso, disse ele, é provável que o número tenha de ser revisto para cima. O plano de investimentos da petroleira prevê a utilização de equipamentos nacionais em 65% dos projetos.
demanda. De acordo com Ferraz, atualmente, o Brasil responde por 20% a 25% da demanda mundial da indústria fornecedora para o setor de petróleo e gás. Para atender a crescente demanda, ele defendeu a construção de mais estaleiros no Brasil voltados prioritariamente para o mercado de exploração offshore (no mar), visto que os produtos oferecidos ao segmento são de maior valor agregado. “Precisamos de estaleiros maiores e competitivos internacionalmente. Ganhos de escala e escopo são fundamentais. Tamanho conta, sim, já que nesses estaleiros são montados componentes muito grandes”, disse Ferraz.
Recentemente, o BNDES acompanhou a Petrobras e empresas privadas em uma missão empresarial que visitou estaleiros na Coreia do Sul. Ferraz destacou o tamanho dos locais visitados. Segundo ele, a soma das áreas de todos os estaleiros brasileiros é de cerca de 3,5 milhões de metros quadrados. “Um estaleiro coreano sozinho tem esse porte”, destacou.
Com o investimento de US$ 5 bilhões na cadeia produtiva, Ferraz calcula que seriam adicionados 25 mil postos de trabalho diretos e outros 100 mil indiretos. Segundo ele, o aumento de capacidade da indústria nacional passa também pela qualificação da mão-de-obra, assim como aumento da quantidade de engenheiros. Com relação à engenharia brasileira, Ferraz disse que ainda há uma dependência muito grande da Petrobras e que o ideal seria diminuir essa dependência com o tempo.
“Na missão da Petrobras à Coreia, além do tamanho e do porte dos estaleiros, o indicador mais importante que eles nos revelaram foi que existe lá a relação de um engenheiro para cinco trabalhadores. Quando ouvi isso eu quase caí da cadeira. A nossa relação não é nem próxima disso”, disse.
Ainda com relação à visita ao país asiático, Ferraz disse que é preciso eliminar o estigma de que o Brasil ainda não é uma potência no setor de petróleo. De acordo com ele, a ida brasileira aos estaleiros sul-coreanos movimentou o mercado financeiro local. “Quando a Petrobras, o BNDES e as empresas privadas estiveram na Coreia, nossos seminários movimentaram as cotações das ações dos estaleiros coreanos, devido ao volume de investimentos apresentados pela Petrobras para o setor no Brasil. Nunca estivemos tão bem na foto, internacionalmente, como agora”, completou.
MARCO REGULATÓRIO. Em entrevista coletiva na embaixada brasileira em Londres, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou que o novo marco regulatório do setor estará pronto em dois meses. Esse é o prazo necessário para a comissão constituída finalizar os trabalhos e enviar a proposta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Depois disso, Lobão avalia que o projeto levará mais um mês para chegar ao Congresso.
O ministro não acredita que a CPI da Petrobras atrasará os trabalhos da comissão nem o andamento da proposta no Congresso. “A questão da Petrobras é uma coisa, o petróleo do Brasil é outra”, afirmou. “Não há hipótese de não se aprovar o novo marco neste governo, será neste governo e neste ano.”
Ele voltou a defender a criação de uma nova estatal, totalmente pertencente ao Tesouro e sem ações em bolsa, para administrar a área do pré-sal e promover os leilões, num modelo semelhante ao da Noruega.
Fale Conosco
22