Antes mesmo da capitalização da Petrobras, aguardada para setembro, a indústria nacional do setor de petróleo articula-se fortemente para não perder os bilhões de reais previstos para os investimentos na exploração de petróleo da camada pré-sal — reservas localizadas a mais de 6.000 metros do fundo do mar. Os empresários esperam manter a obrigatoriedade do índice de conteúdo nacional entre 65% e 70% tanto na perfuração quanto na extração, mas, para isso, precisarão de várias rodadas de negociações com o governo em busca de incentivos para aumentar sua competitividade frente aos fornecedores internacionais. Com demanda garantida e ajuda governamental, eles garantem que conseguem instalar fábricas de equipamentos em curto espaço de tempo.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, é possível construir uma planta em um ano e meio desde que haja o comprometimento da demanda. “Os projetos do pré-sal (1) são de longo prazo, de cerca de sete anos até o início da operação do poço. Podemos tranqüilamente nos preparar para isso”, assegurou ele, que sinalizou concordância para redução do percentual de nacionalização apenas na fase de desenvolvimento. “Nesta etapa não há processo produtivo”, disse.
Barbato, entretanto, reconhece que o mais difícil para o setor hoje é competir com a China, que consegue oferecer produtos de 20% a 40% mais baratos do que os nacionais. Ele apontou como os maiores vilões da competitividade da indústria brasileira velhos gargalos: a elevada carga tributária, o custo brasil e o custo cambial. “Entendemos que não podemos obrigar a Petrobras comprar da indústria nacional, pagando mais caro, e vamos voltar com novas propostas nas próximas reuniões”, afirmou.
Em Brasília
Os empresários levaram suas dificuldades ao governo durante uma reunião realizada ontem com os ministros Guido Mantega, da Fazenda; Paulo Bernardo, do Planejamento; e Márcio Zimmerman, de Minas e Energia, e o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli. A pressa para a definição do percentual de nacionalização é grande, uma vez que se espera uma posição sobre o preço do barril do petróleo a ser fixado para o processo de capitalização da Petrobras ainda neste mês. “A lei exige conteúdo local e o contrato da capitalização deve contar com isso e é preciso estar definido juntamente com o preço antes do processo”, informou Gabrielli.
“A reunião de hoje foi estrutural e muito positiva, de convergência de interesses, na qual foi discutido um conjunto de ações de como desenvolver a engenharia nacional e viabilizar a identificação de custos de matéria prima para a industria nacional, assim como a definição de especificações mais adequadas ao produtor nacional”, completou o executivo da Petrobras, ao deixar o encontro realizado na sede do Ministério da Fazenda. A estatal tem urgência na compra de equipamentos para dar início à exploração dos poços do pré-sal e, para isso, já anunciou US$ 240 bilhões em investimentos até 2014.
1 - Nova rodada
O titular de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, afirmou que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) deverá definir as áreas a serem oferecidas na 11ª rodada de licitações de blocos para exploração e produção de petróleo fora do pré-sal ainda neste mês. As projeções atuais, segundo o ministro, mostram que o país tem uma perspectiva de chegar a uma produção em torno de 5 milhões de barris diários em 2019.
Gastos de R$ 300 bi
A Petrobras gastou, até junho, R$ 300 milhões na perfuração de poços da bacia de Santos em busca do petróleo do pré-sal que será usado no seu processo de capitalização. O gerente de Relações com Investidores da estatal, Alexandre Quintão, explicou que os custos estão sendo contabilizados como contas a receber e serão pagos mais à frente durante um acerto com o governo, após o aumento de capital da companhia. “Os custos do desenvolvimento relativo aos serviços da ANP (Agência Nacional do Petróleo) estão sendo apropriados como gastos a receber”, disse.
A perfuração tem por objetivo encontrar a reserva que será trocada pelo governo por ações da empresa, em uma operação intermediada por títulos públicos na capitalização da Petrobras. A estatal já encontrou dois prospectos, Franco e Libra, sendo que o primeiro será usado na cessão e o segundo será vendido no primeiro leilão com as áreas do pré-sal de Santos, após a aprovação final do novo marco regulatório do setor pelo Congresso Nacional.
O governo vai ceder até 5 bilhões de barris de petróleo das reservas para a Petrobras e o valor preliminar da operação será conhecido na segunda-feira, quando será divulgado o valor do barril de petróleo — entre US$ 5 e US$ 10 — das reservas da União a serem vendidas à estatal na troca indireta por ações no processo de capitalização da estatal. O mercado e a Petrobras torcem por um preço em torno de US$ 6, enquanto a União quer valorizar seus ativos e aumentar a sua participação na companhia, segundo o diretor-geral da ANP, Haroldo Lima, que aposta em valor de US$ 8.