Reuters, 22/10/2019
A petroleira norueguesa Equinor está estudando locais no litoral brasileiro para instalar nova infraestrutura de gás natural, em um processo desafiador que pode sinalizar caminhos para a indústria que busca ampliar a produção da commodity no Brasil, disse a presidente da empresa no país à Reuters.
Isso acontece enquanto a companhia se prepara para colocar em operação campos marítimos com grande quantidade de gás nos próximos anos, ao mesmo tempo em que volta suas atenções para o megaleilão de novembro no pré-sal, cujo bônus foi avaliado como “muito alto”.
Em entrevista na segunda-feira, Margareth Øvrum disse ainda que a descoberta de gás e condensado chamada Pão de Açúcar, da Equinor, poderá iniciar produção em meados da década de 2020, tornando-se provavelmente o primeiro grande campo marítimo focado em gás a entrar em operação no Brasil sob a operação de uma petroleira estrangeira.
Por isso, outras empresas estarão assistindo de perto a experiência da Equinor, uma vez que a infraestrutura de escoamento de gás de campos marítimos é mais complexa que a de petróleo, devido à dificuldade de manipular o insumo. Até hoje, apenas a Petrobras conduziu iniciativas desse tipo no Brasil.
“Estamos avaliando diferentes oportunidades para levar o gás à costa”, disse Øvrum à Reuters, no escritório da empresa com vista para a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, evitando dar sinais mais claros sobre as soluções que poderão ser escolhidas.
“Devemos ampliar um terminal? Construímos um novo? O que faremos sobre os líquidos de gás natural?”, comentou ela.
A empresa está em conversas semelhantes a respeito de seu campo de Carcará, onde a previsão é iniciar a produção da “primeira fase” em 2023 ou na primeira metade de 2024, disse ela.
A empresa, que planeja investimentos de cerca de 15 bilhões de dólares até 2030 no Brasil, ainda não decidiu quando começará a segunda fase, acrescentou, mas isso também pode envolver a construção de infraestrutura de gás natural.
“Estávamos avaliando diferentes oportunidades para conectá-lo a alguns campos próximos. Mas, você sabe, era muito caro, então não daria certo”, disse ela sobre a primeira fase de Carcará, que irá reinjetar todo o gás.
Leilão caro
Maior produtor de óleo e gás da América Latina, o país acelerou o desenvolvimento de sua prolífica região do pré-sal, nas bacias de Campos e Santos.
Muitos dos ativos da região têm quantidades significativas de gás, mas o consumo é baixo entre os brasileiros e o país possui poucos dutos e terminais para facilitar o aproveitamento das reservas.
Como resultado, as empresas optaram amplamente por “reinjetar” o gás nos poços, em um processo que aumenta a produção de petróleo.
Mas isso só funcionará por um determinado tempo. Alguns campos entrando em operação no pré-sal têm muito gás para reinjetar.
O governo lançou neste ano programa chamado Novo Mercado de Gás, que tem como objetivo reduzir a presença da Petrobras e fomentar investimentos no segmento. A expectativa é que investidores construam gasodutos, plantas de tratamento de gás, dentre outras infraestruturas.
Dois grandes leilões marcados para o início de novembro, de áreas muito promissoras, provavelmente aumentarão o dilema.
A Equinor é uma das 14 empresas inscritas para o megaleilão do governo que irá ofertar volumes excedentes do contrato da chamada cessão onerosa, em 6 de novembro, quando o governo espera arrecadar cerca de 106 bilhões de reais em bônus de assinatura, com a negociação de quatro ativos.
Embora os blocos em oferta sejam considerados únicos, uma vez que a Petrobras já realizou trabalhos exploratórios na região, algumas grandes empresas de petróleo levantaram sinais de alerta sobre os preços dos ativos.
Øvrum disse que a Equinor está estudando a lucratividade potencial das áreas, acrescentando que o Brasil compete com outras oportunidades de ativos no mundo.
“Obviamente, é um bônus de assinatura muito alto”, disse ela.
“Você está competindo com outras oportunidades, seja na Argentina, no Golfo do México, na Noruega ou em qualquer outro lugar. E você não está competindo pelo volume, mas pelo valor.”
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