Especial

Eike fala

Diário Catarinenese
30/04/2010 14:25
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O interesse dos catarinenses no bilionário Eike Batista vai além da curiosidade óbvia despertada pelo oitavo homem mais rico do mundo. Aqui no Estado, em Biguaçu, a OSX Brasil, braço naval do grupo EBX, construirá um estaleiro que focará na alta tecnologia para a exploração de petróleo. O projeto é um dos que mais empolgam Eike (pronuncia-se Áique), como ele demonstrou em entrevista exclusiva ao DC, em clima de conversa, no dia 22 de março, logo após da estreia da OSX na Bovespa. A publicação só ocorre hoje porque o empresário cumpriu a quarentena de silêncio exigida pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que terminou anteontem.

 

Diário Catarinense – O que o senhor pode contar de novidade para Santa Catarina?

Eike Batista – Vamos fundar, em Santa Catarina, o Instituto Tecnológico Naval, o ITN. Como o Brasil não tem tecnologia para fazer navios-sonda e plataformas, a gente fez parceria com os coreanos, que têm 38 anos de experiência. Pelo acordo, durante cinco anos, mais de 50 engenheiros coreanos vão operar posições-chave do estaleiro. Neste prazo, a gente vai absorvendo a tecnologia. Para isso, precisamos de pessoas do instituto lá. A partir de um certo tempo, precisaremos tocar a produção usando a tecnologia mais avançada.

 

DC – Quais os diferenciais de tecnologia?

Eike – Por que não estamos fazendo o casco? O casco, que é baixa tecnologia, não vai ser feito no estaleiro. Vamos fazer só o high-tech das operações offshore (exploração de petróleo em mar aberto), a parte de alta tecnologia. Dentro dos 30% que são possíveis de comprar no exterior, vamos adquirir o casco fora porque há milhares de cascos. Podemos comprar e fazer a conversão, deixar a zero. O complexo são os módulos de refino, de geração de energia e mesmo a construção das plataformas. Há peças gigantes, há toda uma engenharia para soldar isso. Este estaleiro será mais moderno do que os da Coreia. Para o Brasil, é um negócio inacreditável. O país tem o maior mercado do mundo em offshore. Conforme eu já disse, a OSX será a “Embraer dos mares”. É um avanço espetacular para o Brasil. O Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) foi criado, tornou-se um centro de conhecimento e aí surgiu a Embraer. Nós estamos pegando a tecnologia, vamos criar, paralelamente, o ITN e absorver tudo. A partir de um determinado momento, vamos ter a nossa tecnologia.

 

DC – Vocês já têm ideia do perfil de profissional que o instituto vai formar?

Eike – Como a tecnologia é embarcada e a parte eletrônica é gigantesca, Santa Catarina é o paraíso. O Estado tem polo metalmecânico, de software e de componentes sofisticados. O BNDES está com uma política de industrialização do Brasil, especialmente de tecnologia. Está fomentando para que a GE (General Electric) venha produzir turbinas aqui. O financiamento do BNDES é único no mundo. Nós consumimos 3 milhões de automóveis e não temos montadoras nacionais. Os chineses já têm 12 empresas de automóveis. Por que não temos um automóvel nacional? Os coreanos não tinham nada, hoje têm o carro Hyundai e outros. Se você cita Coreia, tem qualidade. A coreana Samsung passou a Sony. Se você falasse em Coreia 10 anos atrás todo mundo ria, hoje é referência. Se a Samsung passou a Sony, por que a gente não pode passar a Hyundai na indústria naval? O Brasil é maior que a Coreia e tem matérias-primas.

 

DC – O estaleiro precisa de 5 mil empregados?

Eike – Claro, é um negócio muito grande. Você tem que ver. Na Coreia, são 45 mil funcionários dentro de uma única área. Para se ter ideia, eles têm 18 restaurante lá dentro. Não fazemos puxadinho. Essa palavra é proibida no Grupo EBX (risos). Se a Marinha quiser, podemos fazer um porta-aviões lá dentro do estaleiro, que terá um dique de 450 metros de comprimento por 130 metros de largura. O mais incrível é que quando você vai ver a história da Coreia, os estaleiros nasceram simplesmente com a política do governo de criar empregos. Não sei se vocês viram o programa de TV sobre a internet na Coreia. Hoje, 95% dos usuários ali têm 30 mega de banda larga. A garotada tem grande estrutura para fazer o dever de casa. Se Deus quiser, o governo fará leilão de banda larga no Brasil. Se abrirem o setor, eu estou interessado porque é uma vergonha o que se tem aqui. Você está satisfeita com o seu telefone? É caro. Mas com eficiência no conceito, nunca vi um muro ficar em pé na nossa frente. Por isso geramos tanta riqueza.

 

DC – Como está a OGX, a companhia petrolífera do grupo?

Eike – Estamos descobrindo petróleo em quantidade maior do que a gente imaginava em águas rasas, com custo baixo. Cada nova descoberta são mais unidades que vamos fabricar no estaleiro. No nosso plano inicial nasce com 52% da eficiência dos coreanos. O que eles fazem lá em 18 meses, a gente planejou fazer em 30 meses. Dizemos que o projeto vai funcionar porque a metade de Santa Catarina é de origem alemã. Eles acham graça, mas o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Estado é alto. Absorver a tecnologia é viável. Com o tempo, nós, brasileiros, somos capazes de atingir isso. A planta do desenho inicial é o segredo da operação, uma linha de montagem de coisas gigantes. Aí está o know-how. Depois, para operar, é só treinar pessoas. Um ano depois, o estaleiro estará rodando.

 

DC – E as licenças ambientais?

Eike – A responsabilidade é da Fatma. E o Ministério Público tem que questionar mesmo. Estamos fazendo o estaleiro em uma área já degradada. Se não fosse, provavelmente seria impossível. No fundo há uma coisa curiosa. Você quer fazer o melhor estaleiro do mundo, e se fosse numa área não-desmatada, não poderia. É aquela brincadeira que eu fiz para uma jornalista: “Você usa secador de cabelo, telefone? Anda de carro ou anda de bicicleta?” Estamos fazendo o estaleiro mais sofisticado do mundo. O banco só dá o dinheiro se você usar tecnologia. Na Alemanha pode, aqui no Brasil não pode. O que não pode é trazer uma termelétrica velha da República Tcheca ou da Rússia e montar aqui. A mesma coisa é você querer vender um carro sem catalisador. Mas o mundo vai continuar usando combustível fóssil.

 

DC – Como serão os cuidados do estaleiro da OSX com o meio ambiente?

Eike – O que a empresa sempre tem feito é buscar tudo o que existe de mais moderno no mundo. Muitas empresas optam por uma gambiarra. Mas estamos investindo US$ 1,7 bilhão. Já imaginou que estaleiro vai ser feito aí? Vai ser o melhor estaleiro do mundo. O único lugar do mundo em que pode ser instalado, porque o Brasil é o maior mercado de offshore do mundo. Vai ser tudo zero, um negócio bonito, vamos integrar aquilo ambientalmente.

 

DC – Por que a EBX escolheu SC?

Eike – Por causa da baía protegida. Os coreanos fizeram uma avaliação e, para eles, também pesou o IDH do Estado. Sabem que ali é possível educar o pessoal para fazer coisa de alta tecnologia. Pergunta se isso seria possível fazer em Angola? Você está a 20 minutos de Florianópolis, tem faculdade. Você não deve colocar um negócio desses na Amazônia.

 

DC – O dinheiro captado na oferta inicial de ações (IPO) é suficiente?

Eike – Nós precisávamos fazer o IPO da OSX agora porque teríamos que trazer equipamentos. No fundo, o modelo da companhia é tentar levantar todo o dinheiro necessário sem se endividar.

 

DC – Será preciso pegar dinheiro em banco ou em outra fonte?

Eike – Tem o meu banco, a EBX. Tem ações e tem cash também, tudo criado com projetos que nasceram do zero, de uma maneira única, planejada, com demanda. Muitos investidores, especialmente do exterior, estão vendo que o mercado está crescendo.

 

DC – Alguns investidores dizem que um dos problemas do negócio é que a OSX vai fornecer para uma empresa do mesmo grupo, a OGX.

 

Eike – Eles não fizeram o dever de casa para entender o nível de transparência que todas as empresas X têm no mercado. Está estipulado que o contrato dá 15% de margem (lucro da OSX). O estaleiro vai ser o mais eficiente do Brasil. Não há área para produzir equipamentos, todas as empresas vão bater na porta dele. É um negócio nacional, de altíssima qualidade e mais barato.

 

 

Fonte: Diário Catarinense

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