Valor Econômico
A crise de energia que ameaça o Uruguai, com a seca na região Sul e o esvaziamento de reservatórios deverá ser o principal assunto da primeira visita oficial ao exterior do recém-eleito presidente uruguaio, Tabaré Vasquez, que chega sexta-feira ao Brasil. Vasquez tem, como prioridade, a discussão sobre o que chama de "anel energético", o acordo de cooperação entre Brasil, Argentina e Uruguai para abastecimento conjunto de energia.
O assunto é considerado delicado pelo governo, porque a seca causa risco de problemas no abastecimento do Rio Grande do Sul e já levou autoridades do governo estadual a questionar a possibilidade de manter integralmente o cumprimento dos acordos de fornecimento à Argentina.
O governo brasileiro ainda discute como responder ao pedido uruguaio de um mecanismo de garantia de fornecimento energético. Outro tema importante na visita, a reabertura da agência do Banco do Brasil em Montevidéu, fechada nos anos 90, pode ter um desfecho positivo. O governo brasileiro recebeu sinais de que está avançada a negociação para um acordo que poria fim a ações trabalhistas mantidas no Uruguai contra o banco, que pagaria uma parte das demandas.
Tabaré e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverão conversar, também, sobre a possibilidade de a Petrobras firmar um acordo de cooperação com a petroleira local, a Ancap, de quem a estatal brasileira planeja comprar a rede de postos mantida na Argentina.
O governo brasileiro quer dar grande visibilidade à visita do esquerdista Tabaré Vasquez, que marca o fim de um período de divergências do Uruguai dentro do Mercosul - no governo anterior, de Jorge Battle, o governo Lula chegou a ser surpreendido com a assinatura de um acordo de proteção a investimentos com os Estados Unidos, nos moldes rejeitados pelo Brasil nas negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Nas conversas que tem mantido com os interessados na visita, o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, faz questão de chamar a atenção para o fato de que essa será a primeira visita de presidente sul-americano no governo Lula que não é somente de trabalho, mas também de Estado, com forte conteúdo político.
Os dois países deverão celebrar acordos de cooperação agrícola, com participação da Embrapa e dos órgãos de pesquisa uruguaios. As queixas dos agricultores brasileiros contra a forte concorrência das importações de arroz argentino e uruguaio deverão entrar em pauta, já que as ameaças de imposição de salvaguardas contra o produto da Argentina afetariam também as vendas ao Brasil pelo Uruguai. Os uruguaios acusam as empresas brasileiras que vendem arroz de formarem um cartel, que não teria se queixado de recentes importações subsidiadas de arroz da Tailândia porque, nesse caso, seriam elas as importadoras. Motivados por problemas como esse, Tabaré Vasquez e Lula deverão discutir a formação de um grupo bilateral de acompanhamento de comércio, a exemplo do que já existe entre Brasil e Argentina.
As questões conjunturais, como a falta de energia e a disputa dos produtores de arroz contaminaram a agenda da visita, decidida ainda antes da posse de Tabaré Vasquez, que marcou sua campanha e seus discursos após eleito com um forte tom pró-Mercosul e manifestações de interesse na aproximação com o Brasil. Os dois países devem discutir uma antiga reivindicação uruguaia, de medidas para facilitar a "integração das cadeias produtivas", termo usado para denominar a distribuição de várias etapas da produção de mercadorias por diferentes fábricas em diversos lugares.
O Uruguai conta com manifestações de apoio brasileiro para estimular a instalação de fábricas no país e evitar a mudança das já existentes, como fez a Ambev, que pressionada pelos dois governos, desistiu de fechar uma cervejaria na localidade de Paysandú e transformou a fábrica local em beneficiadora de malte e cevada.
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