A CPFL Energia está em negociações avançadas para a compra de participação majoritária na Multiner, empresa de geração de energia com portfólio de mais de 1,3 mil megawatts (MW) baseado fortemente em usinas termelétricas movidas a óleo combustível. O valor da companhia está avaliado em R$ 2,6 bilhões, segundo estimativa dos fundos de pensão que são sócios da empresa e onde aportaram cerca de R$ 425 milhões, há dois anos, para deter 20% do capital.
A CPFL e a Multiner foram procuradas e ambas responderam, por meio de suas assessorias de imprensa, que não fariam comentários sobre o assunto. Mas fontes a par das negociações contam que a conversa está em estágio avançado. Com a aquisição, em apenas dois anos, a CPFL estaria com um parque gerador próximo a 5 mil MW, se aproximando da Tractebel, que hoje é isolada a maior empresa privada de geração.
A empresa que tem a Previ e a Camargo Corrêa como principais acionistas adquiriu recentemente os parques eólicos da Siff Énergies e incorporou os ativos da ERSA, criando a CPFL Renováveis. Agora parte para uma direção oposta, rumo aos projetos termelétricos. A empresa adquiriu há dois anos duas usinas, também movidas a óleo combustível, onde investiu R$ 600 milhões. Chegou a analisar os ativos da Bertin, que somam 6,4 mil MW, principalmente de térmicas a óleo, mas não chegou a fazer proposta pois os projetos não atraíram a companhia. E em julho participará pela primeira vez de um leilão de energia buscando a concessão de uma térmica a gás. E agora negocia a Multiner.
A Multiner é dona da concessão de sete usinas termelétricas e dois parques eólicos (com capacidade de gerar 151 MW). Apenas as eólicas e uma termelétrica, a de Cristiano Viana, que tem capacidade de 87 MW, estão hoje em operação. Outras seis termelétricas, com cerca de 1.100 MW de capacidade, ainda estão em fase de implantação. Estima-se que os investimentos a serem realizados nessas usinas supere os R$ 4 bilhões. Essas térmicas tiveram energia vendida entre os anos de 2007 e 2008, em leilões do governo federal. A exemplo do grupo Bertin, a empresa enfrentou uma série de dificuldades tanto financeiras quanto com questões de licenciamento ambiental e boa parte delas está com cronograma atrasado. Esse é um dos motivos de estar buscando sócios. Seus principais acionistas são pessoas físicas. Mas 20% está nas mãos do Multiner FIP, que tem como principais cotistas os fundos de pensão Petros (da Petrobras), Funcef (da Caixa Econômica Federal) e Postalis (dos Correios).
A empresa não quis sequer fazer comentários sobre o estágio das obras de suas usinas. Quatro delas já deveriam estar operando. As usinas de Itapebi e Monte Pascoal, com capacidade de 200 MW, seriam construídas na Bahia, mas o governo do Estado negou licenciamento ambiental para as usinas. Elas foram transferidas para Pernambuco e devem operar a partir de 2012.
Neste ano, outras duas usinas, a de Pernambuco IV e Santa Rita de Cássia, com capacidade nominal de 200,8 MW e 174,6 MW, deveriam ter iniciado a operação. Não há expectativa de quando elas começam a operar. Além disso, outras duas usinas, de 200 MW cada, tem obrigação de iniciar atividade no início de 2013.
A estratégia principal da CPFL, segundo disse recentemente seu presidente, Wilson Ferreira Jr, continua sendo a de consolidadora do setor de distribuição de energia. Mas os negócios de geração ganharam importância neste início de ano, já que as principais aquisições foram nesse segmento. E os investimentos previstos privilegiam esse setor. Só na CPFL Renováveis serão cerca de R$ 6 bilhões nos próximos anos.