Redação TN Petróleo/Assessoria Wärtsilä
É o que indicou uma modelagem global de sistemas elétricos feita pela Wärtsilä, incluída no relatório Crossroads to Net Zero (Encruzilhadas para a Neutralidade), no qual compara dois caminhos de 2025 a 2050 com o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e limitar o aquecimento global, conforme as metas do Acordo de Paris.
No primeiro caminho, apenas as energias renováveis, como eólica e solar, e armazenamento de energia são adicionados à matriz energética. O estudo indica que uma área do tamanho da Europa precisará ser coberta com energia renovável para alcançar um futuro de energia limpa, sem a integração de geração de energia flexível.
No segundo caminho, tecnologias de geração de energia flexíveis, que podem ser acionadas rapidamente e somente quando necessário para apoiar as energias renováveis intermitentes, também são integradas ao sistema. O relatório destaca que a eficácia das renováveis pode ser maximizada se apoiada por usinas flexíveis, essenciais para balancear um sistema essencialmente renovável durante momentos de escassez de recursos naturais.
Cenário Brasil
O estudo evidencia que condições climáticas extremas, como a seca histórica no Brasil neste ano (2024), destacaram a necessidade urgente de diversificação das fontes de energia para garantir a confiabilidade do sistema.
Com os níveis dos reservatórios em queda acentuada, soluções flexíveis são primordiais para evitar apagões e manter a estabilidade do sistema de energia com custos acessíveis a todos. A incorporação de usinas flexíveis será fundamental para melhorar a confiabilidade e flexibilidade do sistema.
O poder das tecnologias flexíveis, como motores de combustão interna, pode apoiar a expansão acelerada das energias renováveis, especialmente durante períodos críticos de seca, e são tecnologicamente avançados e acessíveis.
À medida que o Brasil se prepara para sediar a COP30 em 2025, o foco em soluções de energia sustentável se torna ainda mais crítico. O país tem uma oportunidade única de mostrar seu compromisso com um futuro energético resiliente e acessível, integrando renováveis, armazenamento de energia e flexibilidade, oferecendo uma abordagem equilibrada para atingir o Net Zero.
Essa abordagem não só garante a estabilidade e confiabilidade do sistema, mas também acelera a descarbonização e reduz as emissões gerais.
Desafio Global X Desafio Brasileiro
O desafio global envolve reduzir as emissões de carbono, substituindo fontes fósseis de energia de base, como carvão, gás natural e, em alguns casos, óleo, por soluções mais sustentáveis.
Atualmente, muitos sistemas elétricos operam 24 horas por dia com base em geração fóssil. No entanto, é possível propor algo melhor: um mix renovável que é mais acessível, verde e essencialmente livre de emissões de CO2, complementado por térmicas flexíveis que só operam quando o sistema renovável necessita.
“Essa transição permite reduzir custos, já que a energia renovável é mais barata. O sistema é abastecido com energia renovável de baixo custo, enquanto as térmicas, que têm um custo mais elevado, entram em operação apenas quando estritamente necessário. Dessa forma, substituímos um sistema essencialmente térmico por um híbrido renovável e flexível, que utiliza térmicas apenas em momentos de escassez de fontes renováveis”, afirma Jorge Alcaide (foto), diretor de Energy Business Região Sul e diretor geral da Wärtsilä no Brasil.
A solução, no entanto, precisa ser adaptada às particularidades de cada país. No caso do Brasil, o cenário é diferente. O país já possui uma grande participação de energia renovável, como hidrelétrica, eólica e solar, com destaque para a expansão solar. No entanto, apesar de a participação de térmicas ser reduzida, o problema no Brasil é olhar para o futuro, garantindo a expansão adequada de flexibilidade no sistema em um cenário onde o aumento de capacidade dos reservatórios das hidrelétricas será limitado.
“Sem flexibilidade adequada no sistema, há risco de colapso por falta de capacidade, especialmente em cenários de queda na geração solar no fim da tarde. Neste caso, as hidrelétricas, mesmo sendo fundamentais, podem não ter capacidade ou velocidade suficientes para atender à demanda, especialmente com reservatórios com níveis baixos.
Para evitar esse cenário, é necessário instalar térmicas flexíveis que possam ser despachadas pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) em períodos críticos e desligadas quando as renováveis voltarem a operar plenamente”, complementa Gabriel Cavados, diretor de Vendas de Projetos da Wärtsilä Energy.
A solução para o Brasil, portanto, envolve contratar capacidade flexível como um "seguro" para o sistema. O governo deve tomar a iniciativa, por meio de leilões de capacidade, garantindo a implementação de recursos térmicos flexíveis que complementem as renováveis. Isso assegura que o sistema elétrico brasileiro tenha a resiliência necessária para lidar com momentos de escassez das fontes renováveis, sem comprometer sua estabilidade e sustentabilidade.
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