A construção da usina de Belo Monte tornará a siderúrgica paraense Sinobras autossuficiente em produção de energia. Criada em 2008 como um braço do grupo Aço Cearense, a empresa estreou como autoprodutora de energia no consórcio Norte Energia, que construirá a terceira maior hidrelétrica do mundo, localizada no rio Xingu, no Pará. Com apenas 1% da produção de Belo Monte, a Sinobras garantirá o recebimento de 50 megawatts (MW) por mês, o suficiente para abastecer a sua fábrica, em Marabá (PA).
Para participar do consórcio de Belo Monte, a Sinobras prevê um investimento de R$ 250 milhões. O negócio vai oferecer à empresa uma redução de até 30% no custo da energia, afirmou ao iG o vice-presidente da companhia, Ian Corrêa. O preço da energia para os autoprodutores de Belo Monte será de R$ 100 MWh (megawatt-hora), segundo a Eletrobras, que lidera o consórcio da usina. “Entramos no projeto para ter uma energia mais barata e um consumo autossustentável. Não vamos mais depender do mercado”, disse Corrêa.
Ao todo, o projeto de Belo Monte custará R$ 19 bilhões e terá capacidade média instalada de 11 mil MW, de acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Além de preços reduzidos, a energia de Belo Monte permitirá que a fábrica da Sinobras opere em um turno de 24 horas. Hoje, a empresa interrompe a produção no horário de pico, entre 18h30 e 21h30, devido ao custo elevado da energia neste período. No mercado, estima-se que o preço do megawatt-hora seja de, no mínimo, R$ 130 no mercado livre (sistema no qual grandes consumidores de energia podem escolher fornecedores e negociar preços).
A estimativa da Sinobras é que a manutenção das operações da fábrica nesse intervalo de três horas proporcionará um aumento de 20% na produção de aço, mesmo sem novos investimentos. A Sinobras produz mensalmente 300 mil toneladas de aços longos, a maioria para a construção civil.
Projeção nacional
A participação da Sinobras no consórcio de Belo Monte trouxe projeção nacional para uma siderúrgica paraense nova. Criada há cerca de dois anos pelo grupo Aço Cearense para beneficiar o minério extraído pela Vale em Parauapebas (PA), a empresa entrou no mercado em um momento desfavorável. As vendas dos produtos finais começaram no dia 9 de setembro, menos de uma semana antes da quebra do banco americano Lehman Brothes, um dos piores momentos da crise econômica.
“Foi um momento difícil para colocar um novo produto no mercado, mas mantivemos o projeto. É como uma bicicleta: se você parar de pedalar, cai”, afirma o vice-presidente da Sinobras, que concorre com gigantes do setor como Gerdau, Votorantim e ArcelorMittal.
Apesar de nova, a companhia não começou do zero. Para comercializar seus produtos, a empresa utiliza a rede de distribuição do grupo Aço Cearense, o maior importador de aço do País. A estratégia do grupo é substituir as importações por uma produção própria, feita pela Sinobras.
Esse processo já está em curso no segmento de aços longos e deve ganhar dimensão na venda de aços planos, mais utilizados na indústria automotiva. O Aço Cearense e a Vale negociam uma parceria para criar uma unidade de produção de aços laminados e galvanizados no Pará, batizada de Projeto Aline.
O grupo Aço Cearense terá 75% dessa usina e será responsável pela maior parte do investimento necessário, que pode chegar a US$ 1 bilhão, segundo Corrêa. A usina será adjacente a Aços Laminados do Pará (Alpa), projeto da Vale em Marabá que terá capacidade de produzir 2,5 milhões de toneladas de placas de aço.