Empresa espera definições de política industrial por parte do governo este ano.
Valor Econômico
O presidente da petroquímica Braskem, Carlos Fadigas, diz ser bem-vindo um pouco mais de desvalorização do real para ajudar a industria química a reduzir o déficit comercial que bateu os US$ 32 bilhões no ano passado, mas acha que é preciso mais que o cambio para melhorar a competitividade do setor.
No comando da maior petroquímica das Américas e segunda maior exportadora brasileira da área industrial, apenas atrás da Embraer, Fadigas aponta uma enorme diferença de preço da energia e de matérias-primas em relação aos Estados Unidos, e pede mais ação do governo nessas áreas também.
"Este ano mais discussão sobre política industrial será interessante, é preciso saber que tamanho e relevância de indústria o Brasil quer", afirmou em entrevista ao Valor à margem do Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça).
Na sua avaliação, o panorama global da industria química tende a ser igual a 2013. A retomada do crescimento nos Estados Unidos e redução dos temores sobre a quebra na zona do euro basicamente vão manter o aumento de 3% anual na demanda mundial.
No Brasil, o executivo vincula os resultados a competitividade da industria como um todo. "Um terço da demanda nacional (de químicos) não é atendida pela industria local", diz, atribuindo em parte o problema ao câmbio.
Em 2013 a balança de manufaturados teve déficit comercial recorde de US$ 105 bilhões, dos quais um terço foi na industria química. Em cinco anos, o déficit comercial acumulado do setor manufatureiro somou US$ 370 bilhões, dos quais US$ 123 bilhões por parte da industria química.
"Entendo a preocupação do governo sobre o efeito do cambio na inflação, mas o cambio melhor é necessário, basta ver o tamanho do déficit comercial do setor industrial", afirmou.
Fadigas compara dados dos últimos dez anos para ilustrar a perda de competitividade da industria: entre 2003-13, o custo da mão de obra no país subiu mais de 100%, inflação 78% e o cambio saiu de R$ 3 por dólar para R$ 2. "O custo da mão de obra industrial triplicou em dólar, enquanto no concorrente (EUA) esse custo não chegou nem ao nível da inflação desde 2004", disse.
O executivo reconhece que o governo começou a agir, baixando o preço da energia e dando uma certa desoneração no caso das matérias-primas, mas continua sem resolver tudo. "A energia ainda está cara comparado aos EUA", exemplificou. O gás americano barato bate em petroquímica duas vezes. Primeiro, pelo preço da energia. E segundo, plástico é feito de gás. "Num setor onde 1% faz diferença, a matéria-prima americana custa 75% a menos do que a do Brasil".
Com relação a custos de logística, Fadigas informa que existe porto no país em que a Braskem gasta até R$ 20 milhões por ano só pagando multa na atracação de navios, por causa de congestionamentos. Quando o navio parte atrasado, ele vai pagar multa também no porto de destino. "É dinheiro que dava para investir em pesquisa e desenvolvimento", observa.
Fadigas nota que a industria americana está ganhando muito dinheiro e colocando forte pressão sobre o resto do mundo, "daí porque estamos tentando desenvolver complexos novos".
A companhia tem quatro frentes de ação atualmente. Primeiro, a aquisição da fatia majoritária da belga Solvay na fabricante de PVC Solvay Indupa, em uma operação que avaliou a Indupa em US$ 290 milhões, consolidando a posição da companhia em PVC no Brasil e na Argentina. O faturamento, que foi de R$ 40 bilhões em 2012, deve ser expandindo também com essa compra.
No México, o complexo petroquímico no Estado de Veracruz, em joint venture com o grupo mexicano Idesa, está no pico da construção, com 10 mil trabalhadores, 80 guindastes e até guarda de transito na obra para orientar o fluxo de caminhões. O complexo começa a operar em meados de 2015.
Dois outros estão em planificação, como os dos EUA para ficar próximo do gás barato americano. E do complexo petroquímico no Rio de Janeiro, com a mesma ideia de estar próximo do desembarque da produção que vem do pré-sal. "Isso vai deixar nossas mãos ocupadas quase até o fim desta década", afirmou. Em termos de resina, a produção da Braskem vai aumentar 50%.
Ao mesmo tempo, Carlos Fadigas espera definições de política industrial por parte do governo este ano, notando que a participação da manufatura no PIB declinou de 33%, em 1980, para 13% em 2012.
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