Valor Econômico
O boicote convocado pelo presidente Néstor Kirchner aos postos de combustível da Shell resultou em uma queda de 60% nas vendas. A estimativa foi feita ontem pelo presidente da Federação de Empresários de Combustíveis, Carlos Calabró.
"O boicote criou um caos. Muitos donos de postos me telefonaram dizendo que não podiam cobrir suas contas nos bancos", disse ele, que afirmou que a federação tentaria negociar com a Shell uma solução para o problema. A empresa não quis se pronunciar sobre o assunto ontem.
O pedido para que os consumidores argentinos não comprem "nem uma lata de óleo" da Shell foi feito na quinta-feira por Kirchner, depois de a empresa anunciar aumentos nos preços da gasolina e do óleo diesel.
Após o apelo ao boicote, o acesso a alguns postos da Shell foi bloqueado por grupos de desempregados, os piqueteiros.
Na sexta, a Esso também aumentou os preços, e durante o fim de semana as autoridades reagiram prometendo punir as empresas do setor de combustíveis e de outros setores que aplicarem aumentos que sejam considerados indevidos.
Uma das alternativas que tem o governo é usar a Lei de Emergência Econômica, instituída durante o colapso da conversibilidade e ainda em vigor, para impor um controle de preços. Segundo a imprensa argentina, a idéia é considerada ruim pelo ministro da Economia, Roberto Lavagna, por considerar que a intervenção do Estado abalaria a imagem internacional do país.
Paralelamente, a Bolsa de Buenos Aires manteve ontem a trajetória de queda, ainda sob efeito da piora do relacionamento entre o governo e as empresas. O índice Merval retrocedeu 4,2%, e a queda acumulada nos três últimos pregões é de 14%.
A atitude oficial foi motivada pelo aumento da inflação, que em janeiro foi de 1,5% e no mês passado atingiu 1%. Também há sinais de que o governo quer que a Shell se retire do mercado para dar lugar à venezuelana PDVSA ou à estatal de energia Enarsa.
Calabró considerou equivocada a atitude de Kirchner, que sugeriu que os donos de postos de bandeira Shell deveriam mudar para a PDVSA ou Enarsa. Em declarações a uma rádio portenha, afirmou que "quem diz isso não sabe absolutamente nada sobre o mercado de combustíveis".
"Nós temos contratos assinados. Rompê-los seria uma atitude suicida", disse o dirigente.
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