Redação TN Petróleo/Assessoria SCA Brasil
O crescimento acelerado na produção de etanol de milho, restrições à expansão do biocombustível no mercado internacional e uma possível redução na tarifa de importação de etanol dos Estados Unidos: fatores que tornam essencial ganhar cada vez mais competitividade para o etanol no mercado interno. A avaliação é do CEO da SCA Brasil, Martinho Seiiti Ono (foto), em encontro com representantes de empresas ligadas à Associação de Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (Biosul) na última semana (25/09).
A produção de etanol de milho no Brasil cresce entre 15% e 20% ao ano, com projeções de atingir 10 bilhões de litros no período 2025-2026. Estimativas da SCA Brasil indicam que, até 2030, o país poderá absorver de 7 a 9 bilhões de litros adicionais de etanol hidratado por ano no mercado interno, sobretudo nos 21 estados e no Distrito Federal, onde a competitividade do produto ainda é limitada.
“A região de Mato Grosso do Sul é um exemplo proeminente desta necessária ampliação do consumo, que cresceu 126% naquele estado nos últimos dois anos, resultado impulsionado pelo crescimento da produção de milho e instalação de novas usinas”, explicou Ono.
Convidado para avaliar o andamento da safra sucroenergética 2025-2026 e perspectivas atuais e futuras para o mercado de etanol, o executivo pontuou que o aumento da demanda pelo biocombustível no Mato Grosso do Sul também se deve à adoção de políticas tarifárias diferenciadas, entre elas o ICMS de 11,3%.
“A alíquota baixa de ICMS sobre o etanol hidratado permite preços mais competitivos e reforça o etanol como alternativa econômica e sustentável. Com isso, o Mato Grosso do Sul hoje figura entre as seis unidades federativas responsáveis por 80% das vendas de hidratado no país, juntamente com São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Paraná e Mato Grosso”, enfatizou.
Milho no Nordeste
Outra fronteira de expansão para o etanol, especialmente o produzido a partir do milho, é o Nordeste. Segundo o CEO da SCA, com novos projetos previstos para entrar em operação no curto prazo, a região terá 1,3 bilhão de litros adicionais anualmente em 2026, somados aos 2,3 bilhões de litros produzidos a partir da cana-de-açúcar.
Ono acrescenta que outro fator decisivo para a priorização do mercado interno são as incertezas que limitam a expansão do combustível no mercado internacional, como barreiras comerciais e a falta de perspectivas concretas de produção em escala do combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) e outros projetos, domésticos e globais, voltados às energias renováveis com o etanol como matéria-prima.
Etanol importado
Durante o encontro, Ono comentou a possibilidade de o governo brasileiro rever a tarifa de 18% sobre a importação de etanol dos Estados Unidos, como parte de negociações diplomáticas. A discussão sobre a tarifa vem ganhando contornos políticos no momento em o governo Lula busca recompor laços com os EUA, após um breve encontro com Donald Trump durante a Assembleia-Geral da ONU, na semana passada.
A possível revisão da alíquota de 18% é vista como moeda de troca em negociações diplomáticas, mas o gesto pode ter impacto direto na competitividade do setor sucroenergético brasileiro, justamente em meio ao avanço do etanol de milho produzido no país.
De acordo com o executivo da SCA Brasil, a retirada da alíquota, vigente desde 2023, poderia obrigar o setor a reduzir significativamente os preços no mercado interno, como forma de absorver a produção local diante da concorrência externa. “A indústria canavieira avalia que uma eventual redução colocaria em risco a competitividade frente ao etanol americano e poderia comprometer a viabilidade econômica de diversas usinas brasileiras”, observou Ono.
Projeções 2026-2027
Com uma produção de 10 bilhões de litros de etanol de milho em 2025, o setor projeta um volume adicional de 1,5 a 2 bilhões de litros para o próximo ano, além de uma safra de cana-de-açúcar estimada em pelo menos 620 milhões de toneladas no ciclo 2026-2027.
“Com o açúcar mal precificado e a perspectiva de maior direcionamento para o etanol, a oferta interna deve crescer significativamente. Nesse cenário, caberá ao mercado nacional absorver esse volume extra, enquanto a expansão no Norte e Nordeste tende a reduzir a necessidade de transferências da região Centro-Sul, que abastece as duas regiões durante a entressafra canavieira”, conclui o executivo da SCA Brasil.
Segundo Ono, mesmo com a mistura elevada para 30% de etanol na gasolina, a oferta de etanol na atual safra será robusta, permitindo o crescimento no uso do hidratado nos estados onde o biocombustível historicamente não vem sendo competitivo.
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