Jornal do Commercio
Se o Banco Central de fato elevar os juros na semana que vem, poderá estar dando um tiro para o lado errado. Embora o alvo seja o consumo crescente das famílias brasileiras, a vítima pode ser outra: os investimentos das empresas. Para evitar esse problema, o ideal seria não elevar as taxas de juros e sim combater as pressões de inflação com outro remédio: contenção dos gastos do governo. Esse é o alerta que consta de estudo elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que, segundo apostas do mercado, deverá elevar a taxa de juros básica da economia (Selic).
Para sustentar seu argumento, o estudo relembra o que aconteceu em 2004. Naquele ano, o crescimento vinha forte e o consumo também, mas o risco de alta da inflação fez o Banco Central iniciar um período de elevações nas taxas de juros. É uma situação semelhante à atual. O aperto monetário fez com que os investimentos recuassem. O consumo das famílias, por sua vez, ficou quase no mesmo nível. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que mede o investimento, caiu na média 1,2% nos doze meses seguintes. Já o consumo das famílias, que crescia a taxas de 1,2% por trimestre antes da subida dos juros, continuou se expandindo a 1,1%.
"Esse é o ponto", disse o presidente da CNI, Armando Monteiro Neto. "Em 2004, a questão dos juros afetou mais o investimento do que o consumo." Ele disse torcer para que o processo não se repita, mesmo se o Banco Central subir os juros. "Depende muito das expectativas, mas o empresário pode ter um olhar mais de longo prazo, além da Selic", disse. De qualquer forma, avalia, o aperto monetário coloca uma dúvida sobre as decisões empresariais.
O estudo tenta derrubar o argumento principal levantado pelo Copom para uma elevação dos juros: o fato de o consumo estar crescendo a taxas mais fortes do que a produção - um descompasso que pode gerar inflação. Segundo o estudo, a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) caiu no início de 2008, a despeito de a produção industrial haver crescido. Nos dois primeiros meses deste ano, o UCI está em 83%, contra 83,1% registrados no quarto trimestre de 2007. No mesmo período, a produção industrial aumentou de 7,9% para 9,2%.
"Essa diferença nas trajetórias do ritmo da atividade econômica e da UCI é um fato novo e sinaliza ampliação do parque produtivo, a partir dos investimentos realizados entre 2006 e 2007", diz o estudo. "Mais do que isso, há indícios de que em 2008 a formação bruta de capital deve seguir crescendo a taxas de dois dígitos, o que deve promover expansões adicionais significativas da capacidade instalada ao longo de todo este ano."
Se, de fato, a demanda está forte a ponto de puxar a inflação para cima, existem alternativas à elevação dos juros. Uma delas é o governo cortar seus gastos, injetando menos dinheiro na economia. "O uso da política monetária (juros) mais do que a fiscal (gastos) traz danos ao processo de investimento e pode até abortá-lo", disse o gerente-executivo do Núcleo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco. O estudo mostra que as despesas do governo cresceram em média 4,6 pontos percentuais acima do Produto Interno Bruto (PIB) de 2004 a 2007. Em 2008, não há sinais de reversão dessa trajetória.
"Os gastos do governo podem - e devem - contribuir para reduzir a pressão sobre o consumo agregado. Desde 2004, porém, o que se detecta é que as despesas do governo crescem mais do que o Produto Interno Bruto. "A CNI recomenda, portanto, a restrição da política fiscal", diz o estudo. "o corte no gasto público arrefeceria a pressão sobre o consumo e sobre os preços, preservando investimentos privados."
Representantes das entidades ligadas ao chamado sistema "S" (Sesi, Senai,Sesc, Senac e Senar)criticaram na quinta-feira a intenção do governo de reformar a distribuição dos recursos recolhidos compulsoriamente das empresas para o financiamento das entidades. Durante debate organizado pelas frentes parlamentares de Defesa da Educação e de Políticas Públicas da Juventude, da Câmara, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE), classificou a proposta do governo de "intervencionista".
"A idéia de criação de um fundo, como quer o governo, se assenta em premissas no mínimo questionáveis", afirmou o deputado, se referindo às justificativas dadas pelo governo para reformar o sistema, como a avaliação de que a distribuição, hoje, dos recursos do sistema "S" é feita sem transparência e privilegia Estados mais ricos em detrimento dos mais pobres.
Há cerca de duas semanas, os ministros da Educação, Fernando Haddad, e do Trabalho, Carlos Lupi, anunciaram as linhas gerais da proposta que ainda está em debate no Executivo.
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