Artigo Exclusivo

O poço do futuro: perfurando para o tamponamento e abandono (P&A), por Katherine Beltran Jimenez

Redação TN Petróleo/Assessoria
05/10/2021 08:37
O poço do futuro: perfurando para o tamponamento e abandono (P&A), por Katherine Beltran Jimenez Imagem: Divulgação Visualizações: 3016 (0) (0) (0) (0)

O desenvolvimento do pré-sal e pós-sal tem sido vital para impulsionar a geração de tecnologias para a indústria de óleo e gas offshore no mundo todo.  Não é a toa que o Brazil é reconhecido internacionalmente pelo desenvolvimento e aprimoramento da construção e completação de poços em ambientes desafiadores.

E temos bons exemplos disto.  O desafio de desenvolver modelos geotécnicos capazes de predizer o tempo para o revestimento e completação, evitando problemas de integridade como o fechamento e ovalização do poço, não teriam sido possíveis sem a sinergia entre as universidades brasileiras, as operadoras e instituições de pesquisa como o Centro de Pesquisa da Petrobras- Cenpes.

O projeto TOT-3P (true one trip- 3 phases) é outro bom exemplo, no qual a perfuração é executada em três fases ao invés dos desenhos Slender (com quatro fases) ou do convencional (com 5 fases). O TOT-3P tem reduzido a perfuração para 44 dias, poupando quase US$35 milhões na construção de cada poço.

Na área de construção de poços ainda se espera que soluções digitais ajudem a aprimorar  ainda mais o desenho e a execução de projetos de perfuração. Os gigantescos avanços da inteligência artificial na última década têm tornado mais rápido processamento de dados para melhorar o monitoramento e a tomada de decisões na perfuração. O Poço Web, software desenvolvido pela Petrobras para gerenciar a construção de poços  é um bom exemplo.

O desenvolvimento de algoritmos cada vez mais sofisticados no futuro, nos permitirão a perfuração autônoma e remota, com sistemas capazes de controlar os parâmetros de perfuração, reduzindo cada vez mais à interação humana.  A NASA está envolvida nessa empreitada também: projetos como PRIME-1, VIPER  e o Artemis pretendem perfurar a superfície lunar até 2024, usando tecnologias transferidas e adaptadas da indústria do óleo para perfurar roboticamente a superfície lunar. O poço do futuro será perfurado sem dúvida de maneira remota, na Lua e no offshore brasileiro.

No entanto,  como indústria temos um novo desafio para resolver. Os poços do futuro, além de serem perfurados otimizando o tempo de execução e custo de perfuração, precisam da maximização da integridade do poço durante a fase de desenvolvimento, bem como deverão ser tamponados e abandonados de maneira permanente e segura, sem representar riscos para os ecossistemas submarinos, pois como já sabemos não temos um planeta B. Tudo isto numa perspectiva no longo prazo.

E quando falo do longo prazo estou falando de 100-1000, 10000 anos, um período que você e eu não vamos acompanhar de perto. E a tarefa não está fácil, e parece ainda mais complicada quando observamos que mais de 50% dos poços atualmente perfurados no mundo apresentam problemas de integridade como Sustaining Caising Pressure (SCP). Surgem, então, algumas preguntas: o que o pode ser aprimorado no desenho de poços para facilitar seu abandono permanente? Como usar a infraestrutura de óleo e gas para o armazenamento e contenção de CO2?

Considerando tudo isto, o tamponamento e abandono é, sem dúvida, uma atividade que vai crescer nos próximos anos no mundo todo. No Brazil, o cenário não e diferente, uma vez que alguns ativos estão alcançando o estágio de descomissionamento, como, por exemplo nas bacias de Campos, Potiguar e Alagoas. Estima-se que, desde 2014 até hoje, foram feitos tamponamentos e abandonos de mais de 600 poços de produção (com arvores de natal secas e molhadas) e 121 poços de injeção. 

Dado que o custo de Plug e Abandono (P&A) de poços offshore representa quase a metade do custo total do descomissionamento, existe a necessidade de gerar inovações cientificas e tecnologias nesta área. A percepção de que o abandono de poço é só um problema de engenharia reversa, que precisa só ferramentas básicas e sobre a qual já se tem o conhecimento suficiente, está longe da realidade.

O abandono de poços no Brasil representa um verdadeiro desafio, não só pelo seu alto custo mas também pela complexidade das operações e as características únicas dos desenhos de poço e arranjos submarinos posicionados a mais de 3 quilômetros de profundidade no mar. A ANP tem, sem dúvida, respondido a este desafio atualizando a regulação para o tamponamento e abandono, sendo um regulador pioneiro na América Latina.

As universidades brasileiras estão abraçando cada vez mais este desafio. Não é casualidade pesquisadores da UFRJ, PUC-Rio, ITA e UNICAMP estarem desenvolvendo um projeto de cooperação com instituições norueguesas em P&A. Os parceiros no exterior são o Norwegian Research Centre (NORCE) e a Universidade de Stavanger (UIS), que vêm trabalhando na  área por mais de dez anos. Trata-se do  “BRANOR: Knowledge sharing between the Norwegian Continental shelf and the Brazilian Offshore on Well abandonment”, que tem o objetivo de desenvolver tecnologias, materiais e processos que incrementem a confiabilidade, melhorem o desempenho e aumentem a segurança do tamponamento de poços. 

Sobre a autora: Katherine Beltran Jimenez, pesquisadora da Norwegian Research Centre (NORCE)

PS - Artigo publicado na edição 137 da revista TN Petróleo

Mais Lidas De Hoje
veja Também
Drilling
Constellation lança chamada para apoiar projetos inovado...
13/08/25
Fenasucro
Durante abertura de uma das maiores feiras de bioenergia...
13/08/25
Transição Energética
Sergipe elabora Plano de Transição Energética e se posic...
13/08/25
Fenasucro
UDOP, associadas e SENAI-SP firmam parceria para formaçã...
13/08/25
IBP
Decisão da Agenersa sobre migração de consumidores para ...
13/08/25
Oportunidade
Com cerca de 300 mil empregos, setor eletroeletrônico mi...
13/08/25
Fenasucro
Abertura da 31ª Fenasucro & Agrocana: setor quer o Brasi...
13/08/25
Fenasucro
Na Fenasucro, ORPLANA fala da importância de consenso en...
13/08/25
Fenasucro
Brasil terá que produzir 1,1 bilhão de litros de combust...
12/08/25
Fenasucro
Treesales estreia na Fenasucro & Agrocana e integra deba...
12/08/25
Curitiba
Setor energético será discutido durante a Smart Energy 2...
12/08/25
PD&I
Vórtices oceânicos em interação com correntes podem gera...
12/08/25
Combustíveis
ETANOL/CEPEA: Negócios caem, mas Indicadores continuam f...
12/08/25
ANP
Desafio iUP Innovation Connections + PRH-ANP (Descarboni...
12/08/25
Resultado
Vibra avança em market share e projeta crescimento
12/08/25
Transição Energética
Repsol Sinopec Brasil reforça compromisso com inovação e...
11/08/25
Fenasucro
Fenasucro & Agrocana começa nesta terça-feira, dia 12, c...
11/08/25
Fenasucro
Consolidada na área de Biogás, Mayekawa é presença confi...
11/08/25
Sergipe Oil & Gas 2025
“Descarbonização da matriz energética é o futuro”, diz g...
11/08/25
Pessoas
Novo presidente da PortosRio realiza visita ao Porto de ...
11/08/25
Fenasucro
ORPLANA debate sustentabilidade no setor canavieiro na F...
11/08/25
VEJA MAIS
Newsletter TN

Fale Conosco

Utilizamos cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site. Se você continuar a usar este site, assumiremos que você concorda com a nossa política de privacidade, termos de uso e cookies.