Armando Cavanha
Há muito a se fazer, sem dúvida, na área de óleo e gás no Brasil. A inconstância de leilões, as crises brasileira e da Petrobras, a desnecessária complicação regulatória, a criação inoportuna de modelos como Partilha e Cessão Onerosa, enfim, dezenas de temas que foram se complicando cumulativamente ao longo do tempo. Alguns destes involuntários, como a queda e permanência em baixa de preços internacionais de petróleo, retração mundial da economia. Outros por questões locais políticas, ideológicas e até por desconhecimento gerencial.
Porém, há um outro lado da história. Um lado interessante, atrativo, voltado a negócios produtivos. Reservas provadas que permitem abastecer com hidrocarbonetos dezenas de anos o mercado local de combustíveis e produtos para a indústria. Um crescimento importante da produção de gás. Um potencial imenso de reservas a serem delimitadas em mais detalhes do pré-sal (a UERJ fala em 172 bi de boe, cerca de dez vezes as reservas provadas atuais). Um país com uma juventude preparada, uma indústria de base potencial competente.
Os EUA consomem cerca de 19 milhões de barris por dia, produzem cerca de 10. Importam, como consequência, perto de 9 milhões de barris por dia da Venezuela, Arábia Saudita, etc.
Por outro lado, focalizando apenas os equipamentos árvores de natal do subsea brasileiro, os fabricantes são estrangeiros com plantas fabris no país (FMC, Cameron, Aker, GE, etc.) em sua maioria de origem americana, onde lá concentram decisões e pesquisas.
Haveria uma parceria possível neste tema? Os EUA apoiariam o Brasil financiando os nossos investimentos, fornecendo tecnologias, equipamentos e serviços, aumentaríamos mais rapidamente nossa produção? O excedente de produção, exportaríamos para os EUA, logística vertical sem canais ou mares complexos? Eles reduziriam a dependência de países nem tão estáveis como o Brasil, supostamente? Uma parceria em que os ganhos seriam mútuos?
A inteligência nacional por certo encaminhará uma revisão séria de nossas bases sobre riquezas naturais e indústria. Isto está maduro. Uma simplificação significativa das regras existentes, uma estabilização delas por pelo menos 20 anos, um conteúdo local baseado em competitividade, exportação e compensações comerciais longas com outros países. Profissionais de mercado nas agências, menos pessoalidade ou ligações partidárias. Mais incentivos do que multas. Leilões frequentes, dois por ano, com datas fixas, com conteúdo de blocos variável.
Na OTC de maio de 2016, foi perceptível o clima de dúvida, mas também de esperança. Há uma espera tática dos estrangeiros sobre o Brasil. Mas estão prontos para a corrida. Neste momento, querem ver o final desta história complicada que se vive por aqui. Mas estão prontos. Tanto no investimentos em empresas de bens e serviços locais, como olhando a exploração e desenvolvimento da produção potenciais no país. Há empresas de reservatórios de olho no país, esperando para ver o que vai acontecer. Enxergam a velha Bacia de Campos cheia de óleo e gás a retirar, sem prioridade local no momento. O downstream é uma grande dúvida, como serão revitalizados em mãos não estatais. Navios, dutos, refinarias, etc. Empresas visionárias como a Shell já se anteciparam. Ela comprou a BG, se tornou um importante operadora local, entrou no pré-sal. A provável principal unidade mundial da Shell em alguns anos parece que será no Brasil. Visualizaram coisas que nem nós mesmos não vimos ainda.
O país poderia se organizar melhor, os empresários colaborarem entre si e em articulação com a visão de Estado, para maximização dos bons resultados para os brasileiros. Resultados estruturais, de longo prazo, de reconstrução e preservação.
É possível dizer que o Brasil ainda é uma ótima opção mundial. O Brasil vai voltar.
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