Redação TN Petróleo/Assessoria Capitalismo Consciente Brasil
Estive no Energy Summit no Rio de Janeiro, para falar sobre transição energética é, antes de tudo, um ato de responsabilidade. Não apenas como presidente do Capitalismo Consciente Brasil, mas como cidadão, acredito que negócios guiados por propósito e consciência devem ser instrumentos de transformação positiva. E quando falamos em energia, falamos de algo essencial à dignidade humana, ao desenvolvimento e à justiça social.
O Brasil ocupa uma posição privilegiada no cenário global da transição energética. Possuímos uma matriz limpa e renovável acima da média mundial, recursos naturais abundantes e oportunidades estratégicas em biocombustíveis, hidrogênio verde e serviços ambientais. No entanto, a distância entre o potencial e a realidade ainda é significativa.
A expansão das fontes renováveis no país enfrenta gargalos sérios: desde atrasos na conexão de projetos à rede até entraves regulatórios, instabilidade institucional e falta de clareza nos marcos legais. Esses são obstáculos reais e relevantes. Mas talvez o maior deles seja mais intangível: a ausência de uma consciência coletiva sobre o que, de fato, significa transitar para um novo modelo energético.
Transição energética não pode ser sinônimo de exclusividade tecnológica ou de concentração de capital. A verdadeira transição precisa ser também — e principalmente — uma transição de consciência. Isso significa mudar não apenas a fonte da energia, mas o destino dela. Para quem estamos fazendo essa transformação? Quem está sendo incluído? Quem segue de fora?
A democratização da energia começa com a inclusão. Começa quando as soluções chegam às periferias, aos pequenos produtores, às comunidades tradicionais, às regiões historicamente esquecidas pelas políticas públicas. Energia limpa, por si só, não garante justiça. Mas uma energia limpa, acessível, descentralizada e integrada à vida real das pessoas é capaz de regenerar ecossistemas e transformar sociedades.
No Capitalismo Consciente, defendemos um modelo em que o lucro não é o único fim. Empresas conscientes geram valor compartilhado, cuidam de todos os seus stakeholders e entendem que seu papel vai além da competitividade: é um compromisso com o bem comum. Essa lógica se aplica com ainda mais urgência ao setor energético, pois nele estão concentradas as chaves para um futuro próspero ou profundamente desigual.
Também precisamos falar de educação. As próximas gerações serão as mais impactadas pelas decisões que tomarmos agora. Estamos preparando nossos jovens para esse cenário? Estamos promovendo a alfabetização energética necessária para que eles possam ocupar esse debate com autonomia e responsabilidade?
Se queremos uma transição de fato democrática, precisamos parar de tratar energia como um produto exclusivo. Energia é um direito. E como tal, deve ser pensada como instrumento de equidade, desenvolvimento e regeneração planetária. Esse é o verdadeiro papel das lideranças conscientes.
Sobre o autor: Hugo Bethlem é presidente do Capitalismo Consciente Brasil.
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