GNV

‘Vamos ter caminhões a gás operando no Brasil em breve’, afirma diretor da Iveco

O Tempo (MG), 23/06/2020
23/06/2020 20:57
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O diretor comercial da Iveco América Latina, Ricardo Barion, revelou na Live do Tempo desta segunda-feira (22) que o montadora trará novidades para o mercado brasileiro. “Em breve, vamos ter supresas nesse segmento, vamos ter veículos a gás operando no Brasil”, afirmou. Ele falou ainda sobre o sucesso de vendas da nova Daily e a possibilidade de o cliente adquirir o veículo por meio de consórcio e começar a pagar após seis meses. Barion analisou o peso da alta do câmbio para o setor de caminhões e sobre as previsões de vendas para este ano com a pandemia do novo coronavírus.

Quais foram os efeitos na pandemia na fábrica da Iveco? A pandemia pegou todas as montadoras de surpresa. Efeito internacional, afetou primeiramente nossas plantas em outras regiões da Europa, principalmente na Itália. Foram tomadas todas as medidas para retomar a produção, ficamos parados em março e e abril e voltamos no dia 23 de abril a produzir em Sete Lagoas.

Institucional

A planta de Sete Lagoas voltou do mesmo jeito? Entedemos que o que precisava ser feito nesse momento era um ajuste da planta, privilegiando a saúde dos colaboradores. Os que pegam ônibus chegam com máscara, precisam sair de casa com ela, quando chega, passa por uma câmara termográfica, que mede a temperura. A partir daí, ele pode ir direto para o seu posto de trabalho ou, eventualmente, quando está com a temperatura alta, ele é direcionado para uma sala específica para fazer todas as medições necessárias. A gente tem a grata satisfação de dizer que não tivemos nenhum colaborador afetado pela pandemia. Temos uma pesquisa ativa com os colaboradores, portanto, no momento em que ele teve algum contato com alguém, ele já fica por 14 dias em casa, sem contato com ninguém da planta. Tomamos rígidas precauções, por exemplo, na hora do almoço, onde ele está sem máscara e precisa ficar afastado mais de 2 metros de outra pessoa. Todos os postos de trabalho estão seguindo as regras da OMS, ou seja, pelo menos 1 metro de distância. Nós voltamos a trablhar da mesma forma, com um turno só, com todos os funcionários, mas com a precaução muito maior com a saúde e a segurança dos colaboradores. Estamos trabalhando em regime de paradas para ajustar à demanda atual, que é diferente do que era anteriormente à pandemia, mas tudo isso feito com as regulamentações que o governo nos permite e em parceria com o sindicato da região. Estamos muito próximos, fazendo o que a gente entende que é o mais adequado para nossa produção não parar mais para que possamos atender os pedidos dos nossos clientes. Alguns segmentos continuam operando e demandando caminhões da nossa planta.

Como está a demanda por caminhões? O que nós sentimos foi uma retração do mercado. A partir da segunda quinzena de março, a demanda reduziu para alguns setores, porém, outros sentiram menos a queda de mercado, de demanda por serviços. O que sinto é que o agronegócio impulsionou as vendas. Temos uma safra recorde este ano. O agronegócio tem se beneficiado também da variação cambial positiva para esse segmento e tem demandado bastante produtos. Sentimos uma queda da demanda, por outro lado, em alguns segmentos, como alimentícios, farmacêuticos. Agora, recentemente, com a China abrindo oportunidades de exportação de suínos, frangos, alguns segmentos não sentiram a crise. Temos aproveitado para produzir e atender os clientes.

Da produção planejada para o ano, qual o nível que foi afetado. Vão terminar o ano com tamanho de produção? O ano passado, se a gente considerar o 3,5 toneladas e acima, nós terminamos o ano com 118 mil caminhões no mercado brasileiro. A nosso projeção para este ano, antes da pandemia era que o mercado continuaria aquecido. Depois de o mercado cair bastante de 2015 a 2017, quase 70%, estávamos retomando a produção, prevendo um crescimento de 10% em cima de 2019. A nossa nova projeção, agora que estamos conseguindo enxergar um pouco qual a tendência do mercado, é que caia em torno de 30% a 35%. Mesmo percentual que a Anfavea tem comentado. Porém, entendemos que no segundo semestre deste ano vá ter uma leve retomada de mercado melhor do que o primeiro semestre.

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Como a Iveco está enxergando as perspectivas para os combustíveis alternativos? Existe em curso algum processo de um caminhão movido a gás natural? É preciso olhar sempre para frente. A Iveco é líder em veículos a gás na Europa. Temos todos os motores a diesel prontos para operar com gás. Vou citar um exemplo, na última feira que nós estivemos, há dois anos, 100% dos nossos veículos expostos no nosso estande eram de combustíveis alternativos, sejam a gás ou elétricos. Imaginamos que existe uma tendência muito grande para os combustíveis alternativos. Claro, podemos discutir se a infraestrutura do Brasil está preparada para receber esses combustíveis, mas eu diria que nós acreditamos que os veículos a gás sejam o primeiro passo para essa demanda. Temos toda a linha equipada com gás na Europa. Temos tido consultas de clientes por esses veículos. Por isso, estamos fazendo estudos para trazer esses veículos para o Brasil, tanto o Daily quanto o pesado. Claro, quando vai olhar o custo operacional desse cliente, no final do dia ele precisa se pagar. O investimento em um veículo a gás é maior, em torno de 30% a 50%, dependendo do modelo, do que o movido a diesel. Por outro lado, se olhar pelo lado sustentável, que a gente entende que é o caminho que devemos seguir, temos diversas empresas que têm nos procurado. Nosso veículo pesado a gás liquefeito na Europa tem autonomia para 1.700 km. O ponto autonomia é um fator que a gente já trabalhou para superar. Em breve vamos ter supresas nesse segmento, vamos ter veículos a gás operando no Brasil.

Quais as estratégias de venda para os caminhões pesados? No segmento de pesados, temos duas linhas de produtos. São veículos diferentes, cabines diferentes, para proporcionar ao cliente uma opção de escolha. Temos um veículo de entrada, com cabine de 2,30 metros. Ela vai desde o 4×2 até o 6×2, parte de 360 até 440 cavalos. A partir daí, temos a cabine maior, mais confortável, de 2,50 metros. Parte de 440 até 560 cavalos nas versões 6×2 e 6×4. Uma linha completa de produtos para atender os clientes mais exigentes desse segmento. Ela passou por uma mudança técnica muito grande no modelo 2016-17. Posso garantir que foi um divisor de águas. Hoje é um produto que atende perfeitamente a esses nossos clientes em termos de consumo de combustível, disponibilidade de produtos, conforto. No final do dia queremos oferecer um custo total de operação mais baixo para o cliente. Nossa estratégia de crescimento no segmento de pesados não quer crescer desesperadamente. Mas ganhar confiança do cliente. Muitas vezes vendendo uma unidade desse caminhão, vai colocar na sua aplicação e a gente provar que ele entrega muito mais do que os concorrentes. Este ano estamos ganhando 1% de participação no mercado, e pretendemos continuar crescendo no longo prazo. Mais importante é garantir a fidelização, mostrar que ele terá um produto novo e que será entregue o ele está esperando.

Os preços das peças não são muito caros? Porque a Iveco perdeu market share? O valor das peças é uma preocupação nossa, mas depende do nível de comparação que estamos fazendo. Temos hoje uma cesta básica, são peças de reposição mais comuns que o caminhoneiro precisa para sua operação, e eu posso garantir que nesse ponto nossas peças estão no mesmo patamar de outras montadoras. Existem componentes e uma linha que chamamos de nexpro, como se fosse uma segunda linha, mas com a mesma garantia de peças originais. E somos muito mais competitivos se comparar, principalmente, com o nível de peças que estamos atendendo, originais versus o que é encontrado no mercado paralelo. Com a nexpro, garanto que nós somos bastante competitivos e na cesta básica também. Eventualmente, você vai fazer a substituição de um componente ou outro, pode ser que encontre um ou outro que esteja um pouco mais desbalanceado. Grande parte dos nossos clientes conhece e sabe que é competitivo. Nós temos uma linha a partir de 3,5 toneladas. A segmentação da Anfavea não conta com esse modelo. Nosso carro chefe é a Daily, que lançamos agora em março a nova linha totalmente alinhada com o produto europeu, Adaptado para as necessidades do mercado brasileiro, condições de estrada, mas quando você soma os veículos Daily vendidos não perdemos participação no mercado, ao contrário.

Quais as principais alterações da nova Daily? O desafio de fazer a Daily nova foi muito grande. Começou há dois anos e meio, modernizar um produto que é extremamente reconhecido pelo mercado, líder na sua categoria, é bastante difícil. Pegamos toda parte reconhecidamente que atende muito bem ao cliente, que são as características principais, a parte de chassi, suspensão, robustez, e trocamos toda a cabine. A Daily nova tem o que era bom com uma cabine totalmente nova, 100% alinhada com a europeia. Não tem uma parte da cabine que já tinha no modelo anterior, tudo novo. Vem com vários itens de série como ar-condicionado digital, botão ECO que, quando clica, ela muda o acionamento do pedal do acelerador, com isso você consegue otimizar mais o consumo de combustível. É um dos poucos produtos no mercado brasileiro com alavanca no painel, que oferece muito conforto para o usuário. Diversos porta-objetos, e ítens de segurança, como assistente contra tombamento, que oferece muito mais segurança na sua operação. Controle de tração para quando estiver na chuva e, eventualmente, ter um deslize. Assistente de partida em rampa, quando você para numa subida e precisa sair, ela segura por três segundos para dar tempo de você tirar o pedal do freio e colocar o do acelerador sem que o veículo vá para trás. Fora o design, bastante moderno, melhoria do consumo de combustível, coeficiente aerodinâmico do produto facilita a passagem do ar, parachoque tripartido para facilitar a manutenção. Demanda está muito grande por ela.

Como está a demanda pelo veículo militar, o Guarani? Guarani é um veículo 6×6, produção em parceria com o Exército. Acordo de produção por um quantidade que o Exército nos solicita. Temos uma produção de mais de cem unidades por ano. Ele também é anfíbio. Governo tem colaborado, mantido os pedidos, está indo muito bem e pretendemos continuar a parceria.

Sobre o caminhão elético, a Iveco tem uma parceria iniciada com a Nicola nos EUA para começar a vender o Z-truck em 2021. Isso ainda é uma realidade muito distante do Brasil? Fizemos um investimento na Nicola, um dos líderes globais de desenvolvimento de veículos elétricos. Ela já possui esses veículos rodando nos EUA. Nossa intenção é eletrificar nossos veículos, começando pelo S-Way, mais novo lançamento na Europa, deve ser o primeiro a ter eletrificação. Acreditamos que esse é o futuro. Em termos de infraestrutura, deve coneçar na Europa e futuramente vir para o Brasil. Ainda temos passos para dar em relação à eletrificação, não é um produto que possa operar em qualquer lugar, precisa de uma fonte de abastecimento. Tem diversas formas, pode ser um híbrido, célula de combustível. Acreditamos que a parte de combustíveis alternativos deve passar por fontes diferentes.

Não dá para cravar um ano de início e investimentos para adequar a linha de produção? Já temos o nível de visibilidade que teremos que lcançar, que é o Euro-6. Hoje temos o Euro-5 e a partir de 2022, para veículos leves, e 2023 para pesados, temos que atender o nível de emissão Euro-6. A partir do momento que tem que trabalhar tecnologicamente de forma melhor do que você tem hoje, abre espaço para investir muito mais. Custo que vai ter que colocar em cima do produto poderia melhor ser usado se tivesse um programa de renovação de frota. Ainda mais investimentos precisam ser feitos, mas tem que encarar. A melhor solução seria a renovação da frota e depois olhar para os produtos com novos níveis de emissão.

Quais as novidades que o consórcio pode promover com a chegada da nova Daily? Consórcio é bastante atraente porque dá previsivilidade de quanto você vai precisar investir para poder adquirir o produto. Entre 15% a 20% das nossas vendas são por meio do consórcio. Para dar oportunidade ao cliente de ter a nova Daily, temos uma condição especial, você adquire o produto hoje e só paga a primeira parcela daqui a seis meses. Tem levado a bastante procura. É a oportunidade de ter um produto novo e pagar só daqui a seis meses. Grandes diferenciais, toda a produção está sendo toda vendida.

O câmbio está pressionando o custo da Iveco e já refletiu em reajuste? O câmbio deu um salto gigante. Quase impossível ter 100% de seus componentes produzidos no Brasil. Afetou grande parte dos nossos custos. Temos peças importadas, fornecedores e subfornecedores que vêm de fora. Custos aumentaram muito, fizemos aumento de preços neste mês e uma projeção, se o câmbio continuar nos mesmos patamares de hoje, vai ser necessário um segundo aumento de preços em toda a linha.

Pensam em nacionalização de peças? Sem dúvida, a primeira análise que fazemos quando tem um impacto desse do câmbio, é avaliar todos os fornecedores e ver a possibilidade de aumentar o índice de nacionalização dos produtos. Precisa que seja no mínimo de 60% para que a gente possa ter o financiamento através do Finame. Quando acontece uma variação dessa, muito para cima, abre uma série de oportunidades para os fornecedores locais. Temos um time de engenheiros que está olhando cada componente e está vendo se é viável trazer para a produção local. Passa por análise de volume, investimento de ferramental, não é uma ação que se consegue fazer a curto prazo, mas é uma ação estratégica que precisa sempre estar atento.

Institucional

Qual a sua perspectiva de ganho de mercado com a saída da Ford? Quando se olha o que aconteceu com a Ford, a gente não pode comemorar, pelo contrário, a gente percebe o quanto é difícil você se estabelecer no mercado brasileiro, com as variações e crises que temos. Foi uma situação bastante sensível, mesmo como concorrente, não é bom para o mercado. Nós lançamentos recentemente o caminhão médio, o 9 toneladas e o 11 toneladas, coincidentemente no momento em que a Ford saía do mercado. É um caminhão que leva pelo menos 36 meses para se desenvolver. Foi lançado e ganhamos bastante clientes da Ford, hoje temos quase 7% do segmento de 9 a 13 toneladas. Produção começou em outubro do ano passado. Na linha Tector, de 9 a 29 toneladas, linha mais completa e versátil do mercado, temos ganhado bastante participação. Alguns segmentos específicos onde a Ford era muito presente, de entrega urbana, lixo, construção, estamos percebendo aumento da nossa demanda e nosso produtos estão perfomando muito bem. Acreditamos que grande parte desses clientes migrem para nós. Parte da rede de conceddionárias da Ford hoje está migrando para a Iveco. Esperamos chegar no fim do ano com mais de 80 pontos de atendimento, hoje são 73.

Na Europa, a Iveco lançou a família S Way, uma cabine nova. Chega ao Brasil? Temos que ter uma visibilidade do futuro, e a gente sabe que na nossa matriz, na Itália, temos diversos produtos novos sendo lançados. A gente enxerga a oportunidade de termos a S Way no Brasil, mas tudo isso é viável desde que se calcule todos os investimentos e saiba se posicionar de forma interessante no mercado. Temos interesse em ter esse produto no Brasil, mas estamos vendo a viabilidade desse projeto no momento.

A Iveco vai investir no segmento de ônibus no Brasil? Nós temos uma de linha adequada para o mercado brasileiro. Desde o minibus de 7 toneladas até o chassi de motor dianteiro de 16 toneladas. Temos uma linha apta para o mercado brasileiro. Recentemente, tivemos uma grande venda feita para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Escolar, que começamos a entregar a partir do segundo semestre, e temos atendido no varejo para grandes empresas com o S170, que é o nosso veículo de 17 toneladas com motor dianteiro que grande parte das cidades brasileiras o utilizam. Existe também em desenvovimento um chassi para microônibus de 10 toneladas, provalmente será o próximo lançamento. Investimentos em ônibus continuam, apesar de o mercado estar parado, mas acreditamos no segmento.

Como está o plano de investimentos da Iveco? Não tomamos a decisão de postergar investimento, mas, naturalmente, os projetos que tinham uma determinada data, é natural que sejam distanciados um pouco mais. E com isso, se dilui um pouco melhor o investimento que está sendo feito. Mas continuam na proporção qque projetamos. A Iveco acredita no mercado brasileiro, nos últimos anos temos investido. A nvoa Daily, por exemplo, começou a ser desenvolvida há dois anos e meio. Tomada de decisões aconteceram no meio da crise. País precisa e vai crescer.

Qual a política de preços da Iveco? Todas as montadoras estão necessitando de colocar algum reajuste de preço, principalmente pela variação cambial.

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