Valor Econômico
Num momento em que o governo de Néstor Kirchner pressiona as empresas petrolíferas, a estatal uruguaia afirmou que pretende deixar a Argentina. O governo uruguaio divulgou nesta segunda-feira (14/03) que quer vender os postos de gasolina da Petroleira do Cone Sul, filial argentina da estatal de combustíveis Ancap, que opera os postos com bandeira da Sol Petroleo. Os candidatos mais fortes para adquirir a rede de 172 postos são a brasileira Petrobras e a venezuelana PDVSA.
O interesse das duas empresas foi mencionado anteontem pelo ministro da Indústria e Energia do Uruguai, Jorge Lepra.
Na última quinta, o assessor internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marco Aurélio Garcia, disse em Montevidéu que os postos poderiam interessar à Petrobras. Autoridades uruguaias também disseram que estão interessadas em obter ajuda da Petrobras para prospectar petróleo na plataforma marítima do país.
O anúncio da venda da Sol ocorre em meio ao conflito iniciado pelos aumentos de preços determinados pelas filiais argentinas da Shell e da Esso. Depois de anunciado o aumento da Shell, na quinta. A Esso voltou atrás, e o presidente Néstor Kirchner pediu aos argentinos que boicotassem a Shell.
Lepra disse que a antiga direção da Sol também havia tomado a decisão de aumentar seus preços, mas o governo uruguaio decidiu cancelar os aumentos.
Em entrevista coletiva anteontem, o ministro afirmou que a Sol está perdendo entre US$ 1,6 milhão e US$ 1,7 milhão por mês na Argentina. E ele admitiu que as perdas tem tudo para aumentar, caso não haja reajuste de preços.
Apesar disso, o ministro defendeu a decisão sob o argumento de que "estão em jogo coisas muito mais importantes", citando a necessidade de coordenação entre as políticas energéticas dos países da região. Lepra disse que o recém-empossado presidente uruguaio, o socialista Tabaré Vázquez, quis dar uma mensagem de sintonia política com o governo argentino ao vetar o reajuste.
E as boas relações com os vizinhos são especialmente importantes porque o país está sob o risco de ter problemas com o abastecimento de energia.
A decisão de vender a empresa foi justificada pelos prejuízos que ela vem acumulando. "A aventura da Ancap na Argentina (...) vai custar ao governo uruguaio, ao Estado uruguaio e ao bolso de cada uruguaio dezenas de milhões de dólares", disse Lepra. No ano passado, a operação argentina da Ancap registrou um prejuízo de US$ 26 milhões, mais do que o dobro das perdas do ano anterior.
Além da PDVSA e da Petrobras, o ministro disse que também há interesse da Enarsa, a estatal energética argentina criada no ano passado. Analistas entretanto afirmam que dificilmente a Enarsa contará com fundos próprios para realizar o negócio.
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