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ThyssenKrupp revisita sua história após perdas no Brasil

Fusão ThyssenKrupp AG é conhecida como um caso que deu errado.

Valor Econômico
20/12/2012 16:30
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ThyssenKrupp revisita sua história após perdas no Brasil
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QUI, 20 DE DEZEMBRO DE 2012 07:31
Por mais de um século, os nomes Thyssen e Krupp simbolizaram o poder industrial da Alemanha e a origem dele no Vale do Ruhr, no leste do país. Hoje em dia, entretanto, a fusão ThyssenKrupp AG é mais conhecida como um caso de cultura gerencial que deu errado.
Essa avaliação foi feita por ninguém menos que o diretor-presidente da companhia, já que a outrora poderosa produtora de aço divulgou semana passada um prejuízo de 4,7 bilhões de euros (US$ 6,2 bilhões) no ano fiscal encerrado em setembro.
O prejuízo recorde, causado principalmente por bilhões de dólares em estouros de orçamento e uma desastrada expansão nas Américas do Sul e do Norte, foi somente a gota d'água numa série de crises que assolam a empresa - de vários escândalos de corrupção até a demissão de três dos seis diretores este mês devido às perdas e escândalos.
"Até recentemente, havia um entendimento na liderança de que panelinhas e lealdades cegas eram geralmente mais importantes que o sucesso da companhia", disse a repórteres na semana passada o diretor-presidente, Heinrich Hiesinger, um ex-gerente da Siemens AG trazido no ano passado para dar uma virada na empresa. "É óbvio que muita coisa errada aconteceu no passado."
Hiesinger está agora se debatendo com um dos desafios mais difíceis na Alemanha empresarial: transformar a ThyssenKrupp e reformar uma cultura corporativa na qual, como ele colocou, "discrepâncias e resultados negativos eram de preferência escondidos em vez de consertados".
A Krupp e a Thyssen, que se fundiram em 1999 numa das primeiras aquisições hostis no país, dedicaram-se à produção de aço desde o século XIX, alimentando muito da ascensão industrial da Alemanha e, na primeira metade do século XX, seu poderio militar. Hiesinger quer fazer do grupo uma empresa mais voltada para engenharia de alta tecnologia, com planos de se desfazer de siderúrgicas deficitárias no Brasil e nos Estados Unidos e um acordo para vender sua divisão de aço inoxidável para a concorrente finlandesa Outokumpu Oyj.
Isso feito, o aço representará só 30% da receita da empresa contra 41% no último ano fiscal, quando o grupo faturou 47 bilhões de euros. O que resta do negócio de aço da ThyssenKrupp na Europa pode acabar sendo muito pequeno para ser conservado, embora a empresa afirme que não tem planos de o vender. Mas, para fazer crescerem os setores de elevadores, estaleiro e outros diferentes do aço, dizem muitos analistas, será necessário um aumento de capital, algo impraticável para Hiesinger.
A razão é que, apesar de a ThyssenKrupp ser uma das maiores empresas da Alemanha, ela é controlada em grande parte por dois homens: Gerhard Cromme, presidente do conselho supervisor - o equivalente alemão do conselho de administração, exceto que metade de seus membros geralmente representa os empregados - e Berthold Beitz, de 99 anos, que preside o conselho da Fundação Krupp. A fundação cuida da fortuna da família Krupp e detém mais 25% das ações da companhia. Um aumento de capital diluiria a influência da fundação, o que Beitz já deixou claro que está fora de cogitação.
Os críticos dizem que o rígido controle que os dois homens há muito mantêm sobre a empresa moldou muito da cultura gerencial dela e agora pode ser um empecilho para mudanças.
"Até agora, esse novo começo só aconteceu no nível da diretoria", disse Thomas Hechtfischer, líder da associação DSW German, que protege os direitos dos acionistas.
As empresas alemãs são administradas num estilo mais consensual por uma equipe diretora apontada pelo conselho supervisor. O diretor-presidente comanda esse conselho de administração. "Mas não vai funcionar sem uma discussão aberta do papel do Dr. Cromme", diz Hechtfischer. Ele argumenta que a função de Cromme incluía garantir a existência de controles adequados para identificar os tipos de problemas que afligiam a companhia.
A ThyssenKrupp se recusou a disponibilizar Cromme para comentários, mas, numa entrevista publicada domingo na revista semanal alemã "Der Spiegel", ele declarou que não vai pedir demissão. E acrescentou que o conselho supervisor fez o que pôde para lidar com problemas como a mal conduzida expansão da siderurgia da empresa, mas recebeu informações "que eram visivelmente otimistas e mais tarde se mostraram erradas".
Ainda mais importante é que Beitz - um reverenciado industrial alemão que salvou centenas de judeus durante a Segunda Guerra ao empregá-los na petrolífera que ele gerenciava na Polônia ocupada - manifestou na sexta-feira seu apoio incondicional a Cromme. "Cromme fica", disse ele ao diário alemão "Handelsblatt". Beitz não quis fazer comentários para este artigo.
Os problemas da ThyssenKrupp são particularmente constrangedores devido à reputação que Cromme cultivou como um paladino da governança corporativa na Alemanha. Ocupando também no momento a presidência do conselho supervisor da Siemens, ele comandou a limpeza do conglomerado depois de um escândalo de suborno anos atrás e a demissão da maioria de seus diretores. Também dirigiu a comissão governamental, apelidada de Comissão Cromme, encarregada de preparar um código de governança corporativa para orientar as empresas alemãs.
Tal esforço não impediu, contudo, que alegações de corrupção viessem à tona na ThyssenKrupp. Em julho, a companhia concordou em pagar 103 milhões de euros em multas diante de provas surgidas ano passado de que ela havia supostamente participado de um cartel que fixou por dez anos os preços de trilhos ferroviários. É provável que a empresa também tenha que enfrentar processos que exigem indenizações de centenas de milhões à ferroviária federal e outros clientes.
No mês passado, a empresa divulgou que informou os promotores sobre novos sinais de corrupção em torno de contratos de tecnologia ferroviária estrangeira. Ela também comissionou uma auditoria das suas práticas de viagens a negócios depois que a imprensa alemã relatou que seu veterano diretor de comunicações levou jornalistas para banquetes extravagantes na Ásia e na África do Sul. O executivo foi um dos membros do conselho de administração forçados a sair da empresa este mês.
O mais oneroso, porém, foi a incursão do setor siderúrgico da ThyssenKrupp nas Américas. A empresa apostou bilhões de dólares em que poderia fabricar placas de aço no Brasil e então transformá-las em lâminas de alta qualidade no Estado americano do Alabama. Mas atrasos e má administração condenaram o projeto desde o início. Quando a fábrica na Baía de Sepetiba, no Rio de Janeiro, começou a produzir em 2010, o real valorizado e os custos crescentes de mão de obra estouraram o orçamento da ThyssenKrupp, enquanto a demanda por aço nos EUA diminuía. As fábricas nos dois países têm agora um valor contábil de 3,9 bilhões de euros, apenas um terço dos 12 bilhões de euros que a empresa acabou gastando no projeto.
"Eles apostaram todas as suas fichas e perderam", disse Günter Back, diretor do conselho de trabalho da divisão siderúrgica da ThyssenKrupp, que representa os empregados perante a gerência em assuntos trabalhistas.
Embora Hiesinger tenha dito que não há indícios de que os três membros da diretoria - responsáveis por cumprimento de normas, siderurgia e tecnologia - que foram demitidos tenham cometido alguma irregularidade, a saída deles era necessária "para sinalizar um recomeço", disse ele.

Por mais de um século, os nomes Thyssen e Krupp simbolizaram o poder industrial da Alemanha e a origem dele no Vale do Ruhr, no leste do país. Hoje em dia, entretanto, a fusão ThyssenKrupp AG é mais conhecida como um caso de cultura gerencial que deu errado.


Essa avaliação foi feita por ninguém menos que o diretor-presidente da companhia, já que a outrora poderosa produtora de aço divulgou semana passada um prejuízo de 4,7 bilhões de euros (US$ 6,2 bilhões) no ano fiscal encerrado em setembro.


O prejuízo recorde, causado principalmente por bilhões de dólares em estouros de orçamento e uma desastrada expansão nas Américas do Sul e do Norte, foi somente a gota d'água numa série de crises que assolam a empresa - de vários escândalos de corrupção até a demissão de três dos seis diretores este mês devido às perdas e escândalos.


"Até recentemente, havia um entendimento na liderança de que panelinhas e lealdades cegas eram geralmente mais importantes que o sucesso da companhia", disse a repórteres na semana passada o diretor-presidente, Heinrich Hiesinger, um ex-gerente da Siemens AG trazido no ano passado para dar uma virada na empresa. "É óbvio que muita coisa errada aconteceu no passado."


Hiesinger está agora se debatendo com um dos desafios mais difíceis na Alemanha empresarial: transformar a ThyssenKrupp e reformar uma cultura corporativa na qual, como ele colocou, "discrepâncias e resultados negativos eram de preferência escondidos em vez de consertados".


A Krupp e a Thyssen, que se fundiram em 1999 numa das primeiras aquisições hostis no país, dedicaram-se à produção de aço desde o século XIX, alimentando muito da ascensão industrial da Alemanha e, na primeira metade do século XX, seu poderio militar. Hiesinger quer fazer do grupo uma empresa mais voltada para engenharia de alta tecnologia, com planos de se desfazer de siderúrgicas deficitárias no Brasil e nos Estados Unidos e um acordo para vender sua divisão de aço inoxidável para a concorrente finlandesa Outokumpu Oyj.


Isso feito, o aço representará só 30% da receita da empresa contra 41% no último ano fiscal, quando o grupo faturou 47 bilhões de euros. O que resta do negócio de aço da ThyssenKrupp na Europa pode acabar sendo muito pequeno para ser conservado, embora a empresa afirme que não tem planos de o vender. Mas, para fazer crescerem os setores de elevadores, estaleiro e outros diferentes do aço, dizem muitos analistas, será necessário um aumento de capital, algo impraticável para Hiesinger.


A razão é que, apesar de a ThyssenKrupp ser uma das maiores empresas da Alemanha, ela é controlada em grande parte por dois homens: Gerhard Cromme, presidente do conselho supervisor - o equivalente alemão do conselho de administração, exceto que metade de seus membros geralmente representa os empregados - e Berthold Beitz, de 99 anos, que preside o conselho da Fundação Krupp. A fundação cuida da fortuna da família Krupp e detém mais 25% das ações da companhia. Um aumento de capital diluiria a influência da fundação, o que Beitz já deixou claro que está fora de cogitação.


Os críticos dizem que o rígido controle que os dois homens há muito mantêm sobre a empresa moldou muito da cultura gerencial dela e agora pode ser um empecilho para mudanças.


"Até agora, esse novo começo só aconteceu no nível da diretoria", disse Thomas Hechtfischer, líder da associação DSW German, que protege os direitos dos acionistas.


As empresas alemãs são administradas num estilo mais consensual por uma equipe diretora apontada pelo conselho supervisor. O diretor-presidente comanda esse conselho de administração. "Mas não vai funcionar sem uma discussão aberta do papel do Dr. Cromme", diz Hechtfischer. Ele argumenta que a função de Cromme incluía garantir a existência de controles adequados para identificar os tipos de problemas que afligiam a companhia.


A ThyssenKrupp se recusou a disponibilizar Cromme para comentários, mas, numa entrevista publicada domingo na revista semanal alemã "Der Spiegel", ele declarou que não vai pedir demissão. E acrescentou que o conselho supervisor fez o que pôde para lidar com problemas como a mal conduzida expansão da siderurgia da empresa, mas recebeu informações "que eram visivelmente otimistas e mais tarde se mostraram erradas".


Ainda mais importante é que Beitz - um reverenciado industrial alemão que salvou centenas de judeus durante a Segunda Guerra ao empregá-los na petrolífera que ele gerenciava na Polônia ocupada - manifestou na sexta-feira seu apoio incondicional a Cromme. "Cromme fica", disse ele ao diário alemão "Handelsblatt". Beitz não quis fazer comentários para este artigo.


Os problemas da ThyssenKrupp são particularmente constrangedores devido à reputação que Cromme cultivou como um paladino da governança corporativa na Alemanha. Ocupando também no momento a presidência do conselho supervisor da Siemens, ele comandou a limpeza do conglomerado depois de um escândalo de suborno anos atrás e a demissão da maioria de seus diretores. Também dirigiu a comissão governamental, apelidada de Comissão Cromme, encarregada de preparar um código de governança corporativa para orientar as empresas alemãs.


Tal esforço não impediu, contudo, que alegações de corrupção viessem à tona na ThyssenKrupp. Em julho, a companhia concordou em pagar 103 milhões de euros em multas diante de provas surgidas ano passado de que ela havia supostamente participado de um cartel que fixou por dez anos os preços de trilhos ferroviários. É provável que a empresa também tenha que enfrentar processos que exigem indenizações de centenas de milhões à ferroviária federal e outros clientes.


No mês passado, a empresa divulgou que informou os promotores sobre novos sinais de corrupção em torno de contratos de tecnologia ferroviária estrangeira. Ela também comissionou uma auditoria das suas práticas de viagens a negócios depois que a imprensa alemã relatou que seu veterano diretor de comunicações levou jornalistas para banquetes extravagantes na Ásia e na África do Sul. O executivo foi um dos membros do conselho de administração forçados a sair da empresa este mês.


O mais oneroso, porém, foi a incursão do setor siderúrgico da ThyssenKrupp nas Américas. A empresa apostou bilhões de dólares em que poderia fabricar placas de aço no Brasil e então transformá-las em lâminas de alta qualidade no Estado americano do Alabama. Mas atrasos e má administração condenaram o projeto desde o início. Quando a fábrica na Baía de Sepetiba, no Rio de Janeiro, começou a produzir em 2010, o real valorizado e os custos crescentes de mão de obra estouraram o orçamento da ThyssenKrupp, enquanto a demanda por aço nos EUA diminuía. As fábricas nos dois países têm agora um valor contábil de 3,9 bilhões de euros, apenas um terço dos 12 bilhões de euros que a empresa acabou gastando no projeto.


"Eles apostaram todas as suas fichas e perderam", disse Günter Back, diretor do conselho de trabalho da divisão siderúrgica da ThyssenKrupp, que representa os empregados perante a gerência em assuntos trabalhistas.


Embora Hiesinger tenha dito que não há indícios de que os três membros da diretoria - responsáveis por cumprimento de normas, siderurgia e tecnologia - que foram demitidos tenham cometido alguma irregularidade, a saída deles era necessária "para sinalizar um recomeço", disse ele.

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