André Luiz Barros
Pouco mais de 500 dias depois, enfim, me vacinei, bem rapidinho, na sede da Cruz Vermelha, no Rio. Um mix de alívio e alegria. Queria me imunizar logo para que pudesse voltar 100% ao que move minha vida: dar o melhor de mim para puxar o mundo para frente por meio da comunicação.
Tudo bem que nunca precisamos nos comunicar tanto como nesses 500 dias, mas como perdemos no que tange a experiência sensitiva, não? Perdemos o tato, o olhar presencial, o cheiro e o gosto, literalmente, nesses dois últimos casos para quem assim como eu contraiu Covid. Tentei inventar algumas coisas nesse período para suprir alguns vazios e não à toa, substitui parte da fala pela escrita. Foram muitas mensagens pelo Teams e Whatsapp, aceitei o desafio de ser colunista colaborador da TN Petróleo, escrevi um livro com minha mãe, tatuei ‘escrever liberta’ no antebraço.
Me expressar e resolver problemas profissionais, familiares e sociais por meio da palavra, não tem jeito, é minha obsessão. E ter essa clareza me ajudou em muitos momentos a ultrapassar a jornada de isolamento social. Em outros deles, todavia, conhecê-lo bem foi exatamente a minha ruína passageira, uma vez que precisei em muitos dias ficar em casa e em silêncio assistindo ao mundo acontecer pela TV ou pela janela.
A pandemia nos roubou muitas coisas, incluindo a vida de entes queridos e, em muitos casos, o emprego, contexto esse que seguramente me fez em alguns momentos ter colocado o sentido da minha vida em cheque. E tudo bem. Não estive sozinho nessa. Muita gente teve seu propósito enfraquecido, desvalidado ou simplesmente perdido diante de tudo que passou neste tempo. Mas foi exatamente pela brutalidade e atipicidade do momento que consigo enxergá-lo como uma excelente oportunidade de autoconhecimento, aprendizado e evolução. Nos deparamos com o imprevisível e com o indelicado na marra e isso não foi fácil para ninguém.
Recentemente dei uma palestra sobre Comunicação e Propósito na empresa onde trabalho. Nesta mesma companhia em que conduzi com meu time um processo longo de busca e encontro de um propósito corporativo. Por mais de um ano, o tema ‘Propósito’ me tomou bastante espaço na agenda. Mas o que esse “propósito” de que todo mundo de uns tempos pra cá tanto tem falado? Propósito é aquela força interna que te move todos os dias a fazer algo. É o porquê por trás do seu entusiasmo diário. É sua contribuição para o mundo. Neste processo, aprendi que para conhecermos que contribuição é essa que queremos dar, precisamos fazer um mergulho grande dentro de cada um de nós, mas às vezes falta tempo, interesse e especialmente informação sobre nós mesmos. Afinal, o que somos? Como somos? Por que somos? Nem sempre teremos respostas.
Num país em que comumente e infelizmente ainda utilizamos a frase “Ser alguém no mundo” para caracterizar determinadas posições e carreiras, inclusive diminuindo algumas profissões em detrimento de outras, de fato, trabalhar em uma empresa cujo propósito se encaixa com o seu é um grande privilégio. Em primeira ordem, por se ter condições mínimas para parar e pensar no assunto com tempo e atenção, conhecendo o que te move todos os dias ao acordar; em segundo momento, por entre milhões de desempregados no Brasil ou trabalhadores informais que foram também a parcela que mais sofreu na pandemia, termos a oportunidade de avaliar se o propósito desta ou daquela empresa se encaixa ou não com o nosso. É diante desta realidade que nesses 500 dias ficou ainda mais claro que a descoberta do propósito individual precisa vir antes da busca pelo match perfeito com algum propósito corporativo. Importante que se diga que muitas vezes o propósito não estará em uma empresa ou em um trabalho formal em si e é por isso que esse frenesi por trás dessa busca precisa ter ponderação e cuidado.
Um vírus invisível nos mostrou que não estávamos prontos para simplesmente cuidarmos uns dos outros. Muita gente cheia de propósito ficou para trás. Muitos morreram, outros ainda acreditam que Covid é um golpe de algum país para desestruturar o mundo, como se ele, pasmem, estivesse, pré-Covid, estruturado e equilibrado. A verdade é que a grande maioria do Brasil e do mundo não teve tempo de avaliar a questão, aliás sequer sabe do que se trata o assunto e não por qualquer culpa ou descompromisso, mas porque teve que ocupar seus dias simplesmente garantindo a sobrevivência. Propósito inspiracional é privilégio. O de muita gente, na pandemia, foi simplesmente comer e alimentar os filhos.
Apoiar na busca desse propósito dialoga bem com os desafios propostos pelo ESG. Deixarei para falar desse tema em outro texto, mas antecipo minha torcida para que não vire outro modismo. Por aqui, tenho visto muita empresa patinar no assunto, e cá entre nós, até hoje isso acontece também com o tal propósito corporativo em muitas corporações. Que sejam caminhos diferentes. Nem sempre se terá um propósito claro especialmente depois de tudo o que aconteceu nesses 500 dias, mas se você manteve o seu vivo ainda que as vezes instável durante a pandemia, e especialmente se conseguiu garantir o seu trabalho em uma empresa cujo propósito é similar ao seu, acredite, você faz parte de uma minoria privilegiada.
Pouco mais de 500 dias depois, enfim, me vacinei, bem rapidinho, na sede da Cruz Vermelha, no Rio. Um mix de alívio e alegria. Queria me imunizar logo para que pudesse voltar 100% ao que move minha vida: dar o melhor de mim para puxar o mundo para frente por meio da comunicação.
Tudo bem que nunca precisamos nos comunicar tanto como nesses 500 dias, mas como perdemos no que tange a experiência sensitiva, não? Perdemos o tato, o olhar presencial, o cheiro e o gosto, literalmente, nesses dois últimos casos para quem assim como eu contraiu Covid. Tentei inventar algumas coisas nesse período para suprir alguns vazios e não à toa, substitui parte da fala pela escrita. Foram muitas mensagens pelo Teams e Whatsapp, aceitei o desafio de ser colunista colaborador da TN Petróleo, escrevi um livro com minha mãe, tatuei ‘escrever liberta’ no antebraço.
Me expressar e resolver problemas profissionais, familiares e sociais por meio da palavra, não tem jeito, é minha obsessão. E ter essa clareza me ajudou em muitos momentos a ultrapassar a jornada de isolamento social. Em outros deles, todavia, conhecê-lo bem foi exatamente a minha ruína passageira, uma vez que precisei em muitos dias ficar em casa e em silêncio assistindo ao mundo acontecer pela TV ou pela janela.
A pandemia nos roubou muitas coisas, incluindo a vida de entes queridos e, em muitos casos, o emprego, contexto esse que seguramente me fez em alguns momentos ter colocado o sentido da minha vida em cheque. E tudo bem. Não estive sozinho nessa. Muita gente teve seu propósito enfraquecido, desvalidado ou simplesmente perdido diante de tudo que passou neste tempo. Mas foi exatamente pela brutalidade e atipicidade do momento que consigo enxergá-lo como uma excelente oportunidade de autoconhecimento, aprendizado e evolução. Nos deparamos com o imprevisível e com o indelicado na marra e isso não foi fácil para ninguém.
Recentemente dei uma palestra sobre Comunicação e Propósito na empresa onde trabalho. Nesta mesma companhia em que conduzi com meu time um processo longo de busca e encontro de um propósito corporativo. Por mais de um ano, o tema ‘Propósito’ me tomou bastante espaço na agenda. Mas o que esse “propósito” de que todo mundo de uns tempos pra cá tanto tem falado? Propósito é aquela força interna que te move todos os dias a fazer algo. É o porquê por trás do seu entusiasmo diário. É sua contribuição para o mundo. Neste processo, aprendi que para conhecermos que contribuição é essa que queremos dar, precisamos fazer um mergulho grande dentro de cada um de nós, mas às vezes falta tempo, interesse e especialmente informação sobre nós mesmos. Afinal, o que somos? Como somos? Por que somos? Nem sempre teremos respostas.
Num país em que comumente e infelizmente ainda utilizamos a frase “Ser alguém no mundo” para caracterizar determinadas posições e carreiras, inclusive diminuindo algumas profissões em detrimento de outras, de fato, trabalhar em uma empresa cujo propósito se encaixa com o seu é um grande privilégio. Em primeira ordem, por se ter condições mínimas para parar e pensar no assunto com tempo e atenção, conhecendo o que te move todos os dias ao acordar; em segundo momento, por entre milhões de desempregados no Brasil ou trabalhadores informais que foram também a parcela que mais sofreu na pandemia, termos a oportunidade de avaliar se o propósito desta ou daquela empresa se encaixa ou não com o nosso. É diante desta realidade que nesses 500 dias ficou ainda mais claro que a descoberta do propósito individual precisa vir antes da busca pelo match perfeito com algum propósito corporativo. Importante que se diga que muitas vezes o propósito não estará em uma empresa ou em um trabalho formal em si e é por isso que esse frenesi por trás dessa busca precisa ter ponderação e cuidado.
Um vírus invisível nos mostrou que não estávamos prontos para simplesmente cuidarmos uns dos outros. Muita gente cheia de propósito ficou para trás. Muitos morreram, outros ainda acreditam que Covid é um golpe de algum país para desestruturar o mundo, como se ele, pasmem, estivesse, pré-Covid, estruturado e equilibrado. A verdade é que a grande maioria do Brasil e do mundo não teve tempo de avaliar a questão, aliás sequer sabe do que se trata o assunto e não por qualquer culpa ou descompromisso, mas porque teve que ocupar seus dias simplesmente garantindo a sobrevivência. Propósito inspiracional é privilégio. O de muita gente, na pandemia, foi simplesmente comer e alimentar os filhos.
Apoiar na busca desse propósito dialoga bem com os desafios propostos pelo ESG. Deixarei para falar desse tema em outro texto, mas antecipo minha torcida para que não vire outro modismo. Por aqui, tenho visto muita empresa patinar no assunto, e cá entre nós, até hoje isso acontece também com o tal propósito corporativo em muitas corporações. Que sejam caminhos diferentes. Nem sempre se terá um propósito claro especialmente depois de tudo o que aconteceu nesses 500 dias, mas se você manteve o seu vivo ainda que as vezes instável durante a pandemia, e especialmente se conseguiu garantir o seu trabalho em uma empresa cujo propósito é similar ao seu, acredite, você faz parte de uma minoria privilegiada.
Sobre a coluna:
Os textos publicados abordam temas gerais da comunicação organizacional interna e externa; relacionamento com imprensa; redes sociais e marketing digital; reputação e imagem e assuntos de discussão mais recente como cultura e marca; propósito e employer branding.
O novo espaço é editado por Lia Medeiros (foto), diretora de Comunicação, Sustentabilidade e Pessoas da TN Petróleo, e assinado pelo jornalista André Luiz Barros, que há 12 anos trabalha com comunicação corporativa e atualmente acumula o cargo de gerente de comunicação em uma empresa do setor de óleo e gás.
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