<P>A suspensão por tempo indeterminado das exportações de trigo, decretada pelo governo argentino há duas semanas, já impacta a atividade do Porto de Santos. A última escala de um navio carregado com a commodity ocorreu em fevereiro passado e a próxima só deve acontecer no próximo mês. Enq...
A TribunaA suspensão por tempo indeterminado das exportações de trigo, decretada pelo governo argentino há duas semanas, já impacta a atividade do Porto de Santos. A última escala de um navio carregado com a commodity ocorreu em fevereiro passado e a próxima só deve acontecer no próximo mês. Enquanto isso, há terminais com seus estoques praticamente zerados e moinhos com reserva suficiente para abastecer o mercado interno por apenas mais 30 dias.
Depois de vários anúncios da liberação das exportações de trigo ao Brasil, a Argentina decidiu que não vai mais vender o produto, alegando o crescimento do consumo interno. Por ano, o País importa em torno de 2,8 milhões de toneladas da carga, sendo que 1,6 milhão de toneladas -- dado do ano passado -- entram pelo Porto de Santos.
Os importadores nacionais preferem comprar o carregamento da Argentina, pois o produto é mais barato e não há incidência do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM), uma taxa de 25% paga ao Governo sobre o valor do frete marítimo nas operações de importação. Também há a opção de importar o trigo dos Estados Unidos e do Canadá, porém nestes mercados há a cobrança da tarifa.
O montante comprado no exterior é fundamental para atender a demanda interna brasileira. Estima-se que a importação de trigo atenda 70% do consumo nacional. Os outros 30% vêm de produção própria, de fazendeiros dos estados do Paraná e do Rio Grande do Sul.
De acordo com o diretor do T-Grão, unidade do Grupo Multicargo especializada na movimentação de trigo no porto, Antônio Braz Filho, a quantidade estocada no terminal está bem perto do final. Ele disse que, em média, a instalação movimenta 50 mil toneladas de trigo por mês e, com a ociosidade dos últimos dois meses, 100 mil toneladas deixaram de ser operadas. Para o terminal essa suspensão é complicada, porque os custos permanecem, só que não entra receita.
Braz contou que todo o serviço fica parado na ausência dos navios. Quando há desembarque do produto, são dezenas de pessoas trabalhando, desde a operação do shiploader (aparelho sugador de grãos), que despeja o trigo nos silos, até o carregamento para distribuição.
A instalação também não pode aproveitar o momento ruim e movimentar outros tipos de carga. Além da questão contratual, que prevê a operação de trigo, os equipamentos do terminal precisariam ser substituídos.
MERCADO
As dificuldades para trazer o trigo ao Brasil também colocam em alerta o Moinho Pacífico, na Cidade. De acordo com o presidente da empresa, Lawrence Pih, os estoques serão suficientes para atender o mercado por mais 15 ou 30 dias. ??Como confiávamos no governo argentino, não compramos de outro mercado. Agora, todo mundo está correndo para comprar dos Estados Unidos, já que o Canadá não tem mais nada??.
Pih afirmou que, diante da crise, o Governo Federal autorizou a aquisição de 1 milhão de toneladas do trigo de qualquer origem sem impostos. Entretanto, a quantidade não supre a falta do produto no mercado. Quem conseguir comprar primeiro, vai receber primeiro. Só que o navio só deve chegar aqui em junho, disse, ao informar que a logística também favorece o produto do país vizinho. Da Argentina ao Brasil, o navio chega em uma semana, dez dias. Dos Estados Unidos, são 40 dias de viagem.
O produto argentino também ganha em preço, já que a tonelada custa US$ 380 -- US$ 20 a menos do que nos Estados Unidos. O frete é outra vantagem. Do país vizinho, a viagem custa US$ 30 por tonelada. Dos Estados Unidos, o mesmo serviço é feito por US$ 70. E nesses preços não estão embutidos ainda o AFRMM.
Com a necessidade de adquirir o produto mais caro, será praticamente obrigatório o repasse para o consumidos final. Pih contou que antes da crise, o saco de 50 quilos de trigo era vendido por R$ 55,00 e, atualmente, a transação está na faixa de R$ 75,00. Mas, a expectativa é que chegue a R$ 90,00, no auge da crise, no final deste mês, avisou o empresário.
CRONOLOGIA DA CRISE
Novembro de 2007
Governo da Argentina libera as exportações da safra de trigo. Dias depois, revê sua posição e bloqueia os registros de comércio exterior dos produtores. Com isso, calcula-se que 7 milhões de toneladas, que seriam vendidas a diversos países, entre eles o Brasil, ficaram represadas
Dezembro de 2007
Argentina anuncia que exportações serão liberadas em fevereiro
Janeiro de 2008
Governo da Argentina é pressionado por produtos a valorizar o agronegócio do país. Há protestos, passeatas e ameaça de quebra de safra
Fevereiro de 2008
Argentina não cumpre promessa e adia as vendas externas para abril
Março de 2008
Ameaçado pelo risco de desabastecimento e aumento do preço de produtos como o pão, o Brasil inicia negociações com a Argentina para garantir a importação do trigo. Apesar do esforço, não houve acordo
23 de abril
No dia previsto para a abertura das exportações, a presidente Cristina Kirchner suspende por tempo indeterminado as exportações do trigo. A alegação é o aumento do consumo do produto no país.
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