Aquisição da fabricante de equipamentos para petróleo Dresser Rand Inc.
Valor Econômico
Cerca de um ano depois de assumir o cargo de diretor-presidente da Siemens, Joe Kaeser está mudando o foco da gigante da engenharia alemã diretamente para energia.
Desde que assumiu o comando em julho de 2013, Kaeser expandiu o já dominante setor de energia da empresa através de duas aquisições, tentou realizar uma fusão com um gigante do setor e se desfez de negócios que não estão vinculados às principais atividades da empresa.
As divisões não energéticas que foram mantidas, como a lucrativa unidade de equipamentos de saúde, têm recebido menos atenção da cúpula.
As mudanças mais recentes aconteceram na segunda-feira, quando Kaeser detalhou planos de adquirir a fabricante americana de equipamentos para petróleo Dresser Rand Inc. em um negócio à vista avaliado em US$ 7,6 bilhões, incluindo dívida.
A compra é parte da estratégia mais ampla do executivo de expandir as operações nos Estados Unidos e capitalizar o boom do gás de xisto no país.
Kaeser também anunciou planos de vender sua fatia de 50% na joint venture de produtos eletrodomésticos que possui com a fabricante de peças automotivas Robert Bosch GmbH por 3 bilhões de euros (US$ 3,84 bilhões).
Em conjunto com outros negócios feitos no início do ano, as mudanças “continuam fortalecendo nossas atividades principais” e “preparam a empresa para o próximo nível de desenvolvimento”, disse Kaeser em uma teleconferência.
As mudanças, acrescentou, se encaixam no plano estratégico para 2020, o “2020 Vision”, adotado em maio, que estabelece o setor de petróleo e gás como área de expansão.
Embora novos acordos estejam remodelando rapidamente as linhas de negócio da Siemens, a cultura da empresa muda de forma mais lenta, dizem analistas. Akash Gupta, analista do J.P. Morgan Chase, diz que a burocracia enraizada da empresa pode dificultar a integração das novas aquisições.
Para manter suas margens, a Siemens precisaria cortar mais de 1 bilhão de euros (US$ 1,28 bilhão) em custos anuais, incluindo milhares de demissões em sua força de 360 mil funcionários, calcula Gupta.
Kaeser disse que enxugar a empresa é prioridade. O conglomerado de engenharia e eletrônicos registrou um faturamento de 76 bilhões de euros (US$ 97 bilhões) no ano passado.
Fundada em 1847 como fabricante de redes de telégrafos, a Siemens hoje produz um leque de equipamentos para geração e exploração de energia, máquinas de automação industrial, sistemas ferroviários e outros produtos altamente elaborados.
Ela é a principal concorrente da General Electric Co. dos EUA, que em junho venceu a Siemens na batalha de US$ 17 bilhões para adquirir os ativos de energia da francesa Alstom SA.
A migração mais intensa da Siemens para o setor de energia segue estratégia similar da GE, que investiu cerca de US$ 14 bilhões nos últimos anos para comprar empresas de serviços de petróleo e gás.
A compra da Dresser Rand, embora menor que a Alstom, segue um acordo anunciado pela Siemens em maio para comprar as operações civis de energia da Rolls Royce Holdings PLC por US$ 1,3 bilhão.
Ela também formou uma joint venture no setor de metais com a Mitsubishi Heavy Industries que permitirá que a Siemens deixe essa área, que já não a considera parte de suas principais atividades.
Em maio, Kaeser nomeou a americana Lisa Davis, ex-gerente da Royal Dutch Shell PLC, para liderar as operações de energia da Siemens nos EUA.
Davis ficará em Houston, onde está a sede da Dresser-Hand e comandará sua integração com a Siemens. A executiva disse que a Dresser- Hand vai aumentar a linha de produtos, serviços e o alcance da Siemens no setor de energia.
Analistas dizem que o atraso da Siemens em entrar no mercado de gás de xisto nos EUA levou a empresa a pagar um preço mais alto pela Dresser-Rand.
A ação da Siemens caiu 2,2% depois do anúncio, mas vem se recuperando desde então. Kaeser reconheceu o preço elevado, mas disse que a Dresser-Rand vai gerar grandes retornos com o tempo.
A Siemens prevê obter 150 milhões de euros em sinergias anuais até 2019 como resultado do negócio.
O acordo “se encaixa bem com as últimas mudanças, particularmente a aquisição do setor de turbinas da Rolls Royce”, diz Christian Stadler, professor de administração estratégica da faculdade de administração Warwick, da Inglaterra. “A revolução do gás de xisto nos EUA cria grandes oportunidades para esse tipo de produto e eles não querem perder”, disse ele.
Alguns analistas dizem que o tamanho pequeno da Dresser Rand, com faturamento de US$ 3 bilhões no ano passado, adiciona pouco à Siemens. Kaeser defende o negócio, dizendo que, com ele, “fechamos lacunas” na linha de produtos da Siemens.
A decisão da Siemens de vender sua fatia na joint venture com a Bosch é parte de um esforço maior de Kaeser de se livrar de divisões secundárias e se afastar dos produtos de consumo.
A venda segue o acordo com a Mitsubishi em maio, sua saída em 2013 da sociedade de equipamentos de telecomunicação com a Nokia Corp. e a venda da operação de lâmpadas Osram, através de uma abertura de capital.
No início do ano, Kaeser retirou a divisão de equipamentos médicos, incluindo a lucrativa unidade de tecnologia médica, das áreas prioritárias.
Stadler, da Warwick, diz que a unidade poderia ser facilmente descartada, mas ela é a mais lucrativa da empresa.
O futuro da unidade ferroviária da Siemens, que Kaeser esperava entregar para a Alstom como parte de um acordo, também é desconhecido.
Com o fracasso da aquisição na França, a Siemens precisa decidir como administrar essa unidade deficitária.
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